07/12/2017

A rebeldia de um monge – Por Tarcisio Angelo Mascarim

A rebeldia de um monge – Por Tarcisio Angelo Mascarim

Lendo a Bíblia, após a ressureição de Jesus Cristo, verificamos as dificuldades dos apóstolos – mesmo dotados do Espírito Santo – para a implantação da Igreja de Jesus, com a descrença de grande parte da população que não acreditava na ressureição. Verificamos também a grande divisão da cristandade, com criação de inúmeras igrejas protestantes.

Vou tomar como exemplo o artigo sobre o rebelde monge Lutero, aproveitando o site padrepauloricardo.org:

“Tratado o doloroso tema da separação entre Cristo e a Igreja, que não poucas pessoas realizam em nossos tempos, é hora de voltarmos a olhar no século XVI, quando um monge agostiniano se tornou pioneiro em talhar um “cristianismo” à sua própria medida, desvinculado da autoridade do Papa e da mediação sacerdotal, querida pelo próprio Senhor.

Martinho Lutero, nascido em 1483, na Saxônia, era um rapaz de inteligência aguçada, característica que seus pais e professores identificaram muito cedo, quando ele recebeu o trivium, em Mansfeld. Foi com 21 anos, mal acabara de começar os seus estudos de direito, que o rapaz decidiu fazer-se religioso. Em viagem a Enfut, onde frequentava a universidade, Lutero foi surpreendido por uma tempestade bastante violenta. Em meio aos raios e trovões, que o assustavam, ele invocou o auxílio de Santa Ana e fez uma promessa irrefletida: ‘Se me ajudares, far-me-ei monge’.

De fato, apenas duas semanas depois do incidente, ele batia à porta do convento dos eremitas de Santo Agostinho. Levava uma vida de disciplina e oração, mas, aflito pelos escrúpulos e por uma ideia muita severa de Deus, não conseguia obter a paz da alma. Daniel-Rops escreve que ‘Lutero era um ser intensamente dominado pelo sentimento trágico do pecado’ (1). A sua luta, mais que contra a sensualidade da carne, era contra a soberba da vida. ‘Os pensamentos hediondos, o ódio a Deus, a blasfêmia, o desespero, eis as grandes tentações’, escrevia (2).

Ainda que muitas vezes os erros dos membros gritem – como gritavam no século XVI e gritam hoje -, a sua santidade, forjada com sangue do Cordeiro, fala muito mais alto.

Um versículo bíblico em particular inquietava o monge da Saxônia: “Nele (no evangelho) se revela a justiça de Deus, que vem pela fé e conduz à fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’ (Rm 1-17).

Por muito tempo, Lutero não conseguia ver na ‘justiça de Deus’ senão a justitia puniens, a ira divina pelas faltas do homem. Até que descobre que Deus não apenas julga o homem, como também o justifica. Essa visão – que até aqui nada tem de errada – levou-o a formular, no entanto, uma nova doutrina. Para responder ao que o atormentava dia e noite, Lutero firma a salvação somente pela fé, eliminando a necessidade da penitência e do combate contra o pecado e deturpando toda a doutrina da graça: se o são ensinamento católico lembrava que a amizade de Deus não pode viver com o pecado, a sua heresia concebia uma graça pela qual ‘todas as manchas da alma são como que cobertas por um manto de luz’ (3).

O cristianismo deixava de ser a religião da santidade para se transformar num disfarce sutil, uma máscara para cobrir as faltas do homem.

Com o passar do tempo – e o advento da famosa e difícil questão das indulgências –, Lutero uniu a sua sola fide à rejeição do poder pontifício e, em 1520, no auge de sua rebeldia, o livre exame, o pedido de extinção do celibato eclesiástico e a crítica aos próprios Sacramentos, dos quais ele só reconhecia a validade de três. Em 1521, estava assinada a sua excomunhão, mas a cristandade já estava dividida.

Antes de qualquer coisa, é preciso lembrar a gravidade do ato de Lutero, um ato de desobediência que não pode ser desculpado por nenhuma contingência histórica. Ainda que muitas vezes os erros dos membros da Igreja gritem – como gritavam no século XVI e gritam também hoje –, a sua santidade, forjada com o sangue do Cordeiro, fala muito mais alto. Por isso, não se pode olhar para a rebelião dos chamados ‘reformadores’ senão com desconfiança e desaprovação.

Só que, ao mesmo tempo, ‘como Deus é o criador soberanamente bom das naturezas boas, também é o ordenador soberanamente justo das vontades más, de tal forma que, quando usam mal das naturezas boas, Ele faz bom uso até mesmo das vontades más’ (4). Da vontade má de Lutero, que cedeu às ‘grandes tentações’, caindo no pecado de soberba, o Senhor suscitou a Companhia de Jesus, na qual floresceram homens da estirpe de Santo Inácio de Loyala, São Francisco Xavier e São José de Anchieta, apóstolo do Brasil, suscitou almas como Santa Tereza de Ávila e São João da Cruz, que levaram a cabo a reforma do Carmelo, suscitou São João de Ávila, São Filipe Neri, São Carlos Borromeu e outros numerosos homens de fibra, que podem com razão ser chamados de ‘reformadores’.

É nas grandes provações que agitam a barca da Igreja que se revelam os fiéis. Se a rebeldia de Lutero conseguiu dividir a cristandade, a providência de Deus foi muito mais eficaz em Seus Santos.”

Para finalizar, espero que o Papa Francisco consiga, com seus padres e bispos, a união de todas as igrejas católicas cristãs, para o fortalecimento de nossa fé, junto a Deus (Tarcisio Angelo Mascarim é sócio e diretor da Mascarim & Mascarim Sociedade de Advogados. Leia mais artigos no www.tarcisiomascarim.com.br)