Brasil ganha mercado de soja na China, mas perde espaço para EUA na Europa
Desde acentuação da guerra comercial, americanos exportaram 188% mais para europeus.
Os Estados Unidos exportaram apenas 68 mil toneladas de soja para a China em agosto. Um volume muito pequeno em relação ao 1,22 milhão e ao 1,92 milhão de toneladas nos meses de agosto de 2017 e de 2016, respectivamente.
Essa queda ocorre devido à guerra comercial entre os dois países, e o Brasil está sendo o grande ganhador com o recuo das exportações americanas.
De janeiro a setembro, os brasileiros já exportaram 55,1 milhões de toneladas de soja para a China, 15% mais do que em igual período de 2017.
De janeiro a agosto, as exportações dos EUA para a China caíram para 6,35 milhões de toneladas, 33% menos do que em igual período de 2017.
Os americanos perderam o mercado chinês, mas ganharam o europeu. Nos últimos quatro meses, quando a guerra comercial se acentuou, a Europa importou 188% mais soja dos Estados Unidos.
Nesse caso, foram os americanos que roubaram parte do mercado brasileiro na Europa. A evolução das vendas externas do Brasil para os europeus foi de apenas 7% no período.
O avanço dos americanos no mercado europeu, porém, não dá muito fôlego às exportações daquele país. A Europa tem uma importação restrita, em relação à chinesa.
Os americanos perderam o mercado chinês, mas ganharam espaço em outros países da Ásia. Nessa região, à exceção da China, o Brasil teve retração de 31% nas vendas.
Enquanto não houver uma solução para a guerra comercial entre os dois países, os preços da soja vão ficar contidos na Bolsa de Chicago.
“Sem a China, o mercado perde o dinamismo e tem dificuldades para subir”, diz Daniele Siqueira, analista da Agência Rural.
Os estoques finais de soja dos americanos, que foram de 8,2 milhões na safra 2016/17, subiram para 11,9 milhões em 2017/18. Aumento de produção e dificuldades nas exportações deverão elevar esse volume para 24,1 milhões de toneladas no período 2018/19.
Na avaliação de Siqueira, o mercado pode até ter períodos de alta, como o ocorrido nesta segunda-feira (15), mas será provocado por questões pontuais de mercado.
Nesta segunda, o contrato de novembro fechou a US$ 8,9150 por bushel na Bolsa de Chicago, 2,5% mais do que na sexta-feira (12).
Queda do dólar, antecipação do período de neve em algumas regiões dos Estados Unidos —o que atrasa a colheita— e esmagamento interno maior da oleaginosa permitiram a alta de preço (Folha de S.Paulo, 16/10/18)