Brasil perde fatia no mercado mundial de carnes
Participação recuou de 23,5% para 17,4% em dez anos; País deixou de ganhar US$ 30 bilhões.
Apesar de recordes sucessivos anunciados nas exportações de carnes, o Brasil perdeu participação no mercado mundial nos últimos dez anos. Em 2007, o País detinha 23,5% das exportações globais com vendas de US$ 11,1 bilhões de carnes bovinas, suínas e aves, liderando o ranking de exportadores. Dez anos depois, essa fatia caiu para 17,4% e o Brasil para a segunda posição, atrás dos Estados Unidos. As vendas somaram US$ 15,3 bilhões no ano passado. Entre 2007 e 2017, as exportações brasileiras avançaram 38% enquanto o comércio global de carnes cresceu 86,4%.
Isso é o que revela um levantamento feito pelo vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Pedro de Camargo Neto, com informações do International Trade Centre (ITC), agência conjunta da Organização Mundial do Comércio e das Nações Unidas.
O levantamento mostra que EUA e União Europeia (UE) avançaram, mas quem mais cresceu foram países com volume de exportação menor, como a Índia, e outros que não são identificados no estudo.
Nas contas de Camargo Neto, se o Brasil tivesse mantido a sua fatia de mercado, poderia ter embolsado US$ 30 bilhões a mais no período de dez anos com receita de exportação.
“Os dados mostram que o que a gente fez não foi tão bonito assim”, diz o vice-presidente da SRB. Em dez anos, as importações mundiais de carnes deram um salto, somavam US$ 47,3 bilhões em 2007 e atingiram US$ 88,1 bilhões em 2017. O Brasil teve um papel importante, mas o mundo cresceu muito mais, observa.
Questão sanitária
Camargo Neto atribui a queda da participação do Brasil a problemas sanitários. Ele aponta três exemplos recentes de mercados perdidos que não foram reconquistados por causa de questões sanitárias. Um deles é o de carne bovina in natura para os Estados Unidos por causa da ocorrência de abscessos da vacina de febre aftosa.
Outro mercado perdido foi o de carne suína para a Rússia em razão da ocorrência de resíduos de ractopamina, um medicamento proibido naquele país. Por último, a bactéria salmonela encontrada em carne de aves fez a União Europeia suspender as compras de frigoríficos brasileiros. “A questão é de credibilidade. Sem esses problemas, estaríamos exportando mais.”
De acordo com o Ministério da Agricultura, as questões sanitárias são um tema complexo. Na avaliação da pasta, existe hoje no mundo um movimento protecionista e “medidas sanitárias – cuja razão de ser é salvaguardar a saúde dos consumidores – acabam sendo usadas com objetivos comerciais, para proteger produtores locais ineficientes”, informa por meio de nota.
A deputada Tereza Cristina (DEM), futura ministra da Agricultura, reconhece a insuficiência de fiscais para atender à demanda do setor e pretende modernizar o sistema de fiscalização e defesa sanitária para recuperar a credibilidade das carnes brasileiras no mercado externo. “Temos que padronizar as ações, conversar com o setor empresarial e mostrar que a responsabilidade é deles também”, diz por meio de nota.
A intenção da nova ministra é implementar um sistema de autocontrole por parte das empresas. Por esse sistema, os fiscais fariam a inspeção dos animais antes e depois do abate e as empresas teriam de seguir os protocolos de qualidade e segurança do alimento processado.
Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) anunciou anteontem que o País deve fechar o ano com recorde de exportações de bovinos, mas não comentou o levantamento, alegando que não tem dados disponíveis.
Também a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que reúne os setores de aves e suínos, não comentou (Folha de S.Paulo, 13/12/18)
Produção de carnes aumenta no país, e China lidera importações no setor
Legenda: Suínos em fazenda no Paraná
No 3º trimestre, asiáticos estiveram no topo da lista nas compras de bovinos, suínos e frango.
O raio-X do setor de carnes feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia) nesta quarta-feira (12) mostrou dois pontos importantes.
Apesar dos problemas recentes do setor, a produção continua crescendo e atingindo patamares recordes. Do lado externo, a China assume a liderança de compra das três principais carnes brasileiras (bovina, suína e de frango).
A produção de carne bovina do terceiro trimestre somou 2,1 milhões de toneladas, 4% mais do que em igual período de 2017. A suína atingiu o recorde de 1 milhão de toneladas, 5% mais, e a de frango, no sentido oposto das demais, caiu 2%, para 3,4 milhões de toneladas.
A China, líder disparada na compra da soja brasileira, começa a abocanhar também boa parte das proteínas. De julho a agosto, o país asiático comprou 374% mais carne suína no Brasil do que em igual período de 2017.
No mesmo período, as importações de carne bovina pelo chineses aumentaram 104%, e as de frango, 16%.
O IBGE mostrou também que cresce a concentração da produção: 21% dos frigoríficos abatem mais de cem cabeças de bovinos por dia, somando 88% dos animais abatidos.
No caso dos suínos, apenas 10% das unidades abatem 85% dos animais. No setor de frangos, os 8% de frigoríficos que abatem mais de 200 mil animais por dia concentram 37% dessa operação.
CRESCE ABATE BOVINO NÃO FISCALIZADO
Os abates não fiscalizados aumentam no país. É o que constata a pesquisa do terceiro trimestre do IBGE, referente à produção da pecuária.
A aquisição de couros bovinos pelas indústrias somou 9,1 milhões de unidades de julho a setembro, enquanto os abates certificados de animais ficaram em 8,3 milhões.
Os certificados podem vir de serviço de inspeção sanitária municipal, estadual ou federal.
Para os técnicos do IBGE, essa diferença pode ser entendida como um retrato de abate não fiscalizado. Os números indicam que o abate não fiscalizado foi de 9,2% neste terceiro trimestre, o maior percentual para o período nos últimos quatro anos (Folha de S.Paulo, 13/12/18)