Patinho feio da agricultura, trigo tem melhor avanço no valor de produção
Receitas devem somar R$ 4,4 bilhões, com aumento de 63%, segundo analista.
O trigo, o patinho feio da agricultura nos últimos anos e que vem sendo preterido pelo milho nas safras de inverno do Sul, é o produto que apresenta a melhor evolução no VBP (Valor Bruto de Produção) neste ano.
Nos cálculos de José Gasques, do Ministério da Agricultura, o trigo renderá R$ 4,4 bilhões para os agricultores, 63% mais do que na safra anterior. É um valor pequeno, quando comprado com os R$ 137 bilhões da soja, mas o cereal premia os que optaram por ele em 2018.
A tonelada de trigo está sendo comercializada a R$ 1.107 no Paraná, segundo apuração de preços do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), um valor 53% superior ao do ano passado. Essa sustentação dos preços internos vem de fatores externos, como redução na produção mundial, aumento de consumo e queda nos estoques.
Internamente, os produtores recebem o incentivo do dólar. Em alta, a moeda americana encarece as importações brasileiras. A necessidade de matéria-prima das cooperativas que têm moinho é mais um incentivo para a manutenção dos preços em alta.
O algodão é outro produto que traz uma boa renda para os produtores neste ano. O aumento de produtividade, que deverá proporcionar uma produção recorde de 2 milhões de toneladas, gerará receitas de R$ 32 bilhões. Há dez anos, a renda com o produto era de apenas R$ 5 bilhões no país.
O grande destaque na produção agropecuária brasileira continua sendo a soja, um produto mais democrático do que trigo e algodão. Enquanto a renda desses dois últimos produtos vem basicamente de dois estados, a soja está espalhada por 19 unidades da Federação.
Mais democrático ainda é o milho, cujas receitas deverão atingir R$ 46 bilhões, provenientes de todos os estados brasileiros.
O VBP total da agricultura somará R$ 383 bilhões e ficará estável em relação ao de 2017. O Ministério da Agricultura acompanha a evolução do valor de produção de 17 culturas no país.
A principal desaceleração nas receitas ocorre na pecuária, em que todos os itens do setor perdem. Gasquez destaca o recuo do setor para R$ 179 bilhões, 5% menos do que no ano passado.
Há queda em todos os segmentos da pecuária, mas a maior perda fica com suínos. O valor de produção cai para R$ 14 bilhões, 16% menos do que no ano anterior. O maior VBP do setor é de bovinos (R$ 74 bilhões), seguido de frango (R$ 49 bilhões).
O Valor Bruto de Produção do país, após o recorde em 2017, recua para R$ 562 bilhões neste ano, 2% menos do que no ano anterior (Folha de S.Paulo, 18/7/18)