18/11/2019

Açúcar: Analistas ou nefelibatas? – Por Arnaldo Luiz Corrêa

 Açúcar: Analistas ou nefelibatas? – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Nova Iorque fechou a semana com o vencimento março/2020 negociado a 12.73 centavos de dólar por libra-peso, 16 pontos melhor do que a semana anterior (3.50 dólares por tonelada). O mercado tem estado há tempos num intervalo de preços tão aborrecido que as médias de 50, 100 e 200 dias estão muito próximas uma das outras: 12.09, 11.94 e, 12.18 centavos de dólar por libra-peso respectivamente. Última vez que esse estreitamento ocorreu foi em fevereiro de 2018.

Na semana encurtada pelo feriado de sexta-feira no Brasil duas coisas surpreenderam os traders: primeiro, o contrato futuro de março/2019 que chegou a bater 12.92 centavos de dólar por libra-peso influenciado pelas notícias acerca do impacto provocado pelo frio e pelas chuvas que atingiram o Vale do Rio Vermelho (que responde por quase 60% da produção de beterraba) causando estragos na safra americana e, segundo, o volume de contratos negociado na bolsa de NY na quarta-feira que foi extraordinário que desde setembro não se via (mais de 217,000 contratos).

No caso do primeiro, nenhum analista acredita que a situação do açúcar nos EUA seja suficientemente preocupante para mover o mercado internacional além dos 14 centavos de dólar por libra-peso, muito embora o contrato 16, que representa o açúcar negociado no mercado americano (ou de origem estrangeira com imposto pago pelo entregador), negocia próximo a 28 centavos de dólar por libra-peso (mais do que o dobro do contrato internacional) e fala-se na necessidade de importação de 2.5 milhões de toneladas de açúcar para fechar a conta.

Apesar da despreocupação dos analistas, vale a pena observar que uma empresa de açúcar daquele país deixou para trás 1/3 da produção porque não conseguiu colher a beterraba devido ao clima. Duas outras grandes empresas declararam force majeure e não vão cumprir seus contratos de entrega de açúcar pois não tem o produto. Além disso, a razão estoque/consumo caiu para próximo de 10%. Ou seja, ou os analistas de mercado estão absolutamente corretos e não vai haver contaminação da situação americana no mercado internacional ou são um bando de nefelibatas.

Voltando ao açúcar de NY, essa recuperação de preços pode ter sido alimentada pela robusta cobertura dos fundos que como se sabe estão pesadamente vendidos (os números do CFTC apontam que estavam vendidos até terça-feira, 158,000 contratos). Reduziram a posição em 20,000 contratos e o mercado caiu 12 pontos (12.71 contra 12.59 nas duas terças-feiras). Uma indicação clara de que as usinas aproveitaram bem e começaram a fixar seus contratos comerciais para 2020/2021 valendo-se também da curva ascendente do dólar devido a fraqueza momentânea da moeda brasileira. Muito NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) foi feito combinado com a fixação de preços em NY, trazendo os valores finais próximo dos R$ 1,350 por tonelada FOB.

O real continua sua trajetória de baixa em relação ao dólar abrindo possibilidade de trava de preços para as usinas para o açúcar a ser produzido na safra 2020/2021. Uma fixação hoje para março/2021, usando o fechamento de sexta-feira e com NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) equivale a 1,350 reais por tonelada. As usinas mais eficientes do Centro-Sul possuem um custo médio de produção (caixa) entre 38 e 40 reais por saca posto usina.

A situação atual do açúcar poderia ser resumida assim: a) todos acreditam que já vimos a mínima do mercado; b) o mercado deve buscar patamares mais altos (acima de 13 centavos de dólar por libra-peso), mas ninguém deixa de fixar seu açúcar para a safra 2020/2021 se o valor em reais por tonelada for atrativo; c) 14 centavos de dólar por libra-peso ainda é um sonho, mas nada impossível; d) situação climática nos EUA preocupa, mas com efeitos menores nos preços internacionais; e) o fato de os fundos terem liquidado 20,000 contratos e o mercado ter variado negativamente mostra menor força para cima.

As coisas não andam bem para os CEO’s no hemisfério Norte. No mês de outubro, mais de 170 executivos de grandes empresas listadas nos EUA ou pediram demissão ou foram gentilmente acompanhados pelo segurança até a porta da saída carregando suas caixas de papelão com as tralhas. O número é recorde desde a crise de 2008. Motivo: não entregaram o lucro que prometeram.     

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