Açúcar: Encurralado – Por Arnaldo Luiz Corrêa
Na semana encurtada pelo feriado de Páscoa, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a quinta-feira a 12.78 centavos de dólar por libra-peso para o contrato com vencimento maio/2019. Com o desempenho aborrecido de sempre, o mercado completa agora quase 40 pregões encurralado no intervalo de preços entre os 12 e 13 centavos. É preciso ter paciência de monge tibetano para acompanhar esse mercado 24 horas.
A volatilidade anualizada do mercado futuro de açúcar em NY, baseado na média móvel de 20 dias, é de 18.45%, enquanto, por exemplo, se observarmos 200 dias ela sobe para 27.21%. Quando a volatilidade de uma commodity despenca, isso significa que o risco percebido pelos participantes do mercado diminuiu e, como os fundos normalmente buscam ativos de risco para exceder o desempenho de seus portfólios (se não fosse assim, seria preferível colocar o dinheiro em títulos do tesouro), mercados com risco baixo afastam os fundos especulativos. Traduzindo para o português: nossa opinião é que os fundos podem sair de suas posições vendidas e para isso, obviamente, terão que recomprar o mercado. Só não sabemos quando.
No disputado evento da Canaplan ocorrido em Ribeirão Preto na semana passada, uma das palestras mais valiosas que mereceram especial atenção por parte dos traders e tomadores de decisão foi a de dois brilhantes mestres da UNESP, Professores Cruciol e Figueiredo. Em sua apresentação conjunta eles observaram que a cana no Centro-Sul na safra corrente vai estar mais fibrosa, perdendo caldo e produtividade, consequência da falta de chuvas no período em que a planta mais precisava de água. Afirmam ainda que as recentes chuvas não conseguem recuperar o dano sofrido pela gramínea pela escassez hídrica lá atrás. A perda, segunda eles, é irrecuperável.
Esse é um ponto extremamente relevante que contribui para validar os fundamentos que temos discutido semanalmente neste espaço e colocam em dúvida as previsões otimistas que circulam no mercado acerca do tamanho da safra de cana. A equação é muito simples: menos cana e menor expansão do canavial somadas à uma produtividade menor é igual a menos ATR, no entanto, temos visto algumas previsões no mercado apostando numa safra acima de 580 milhões de toneladas.
A moagem da cana está atrasada. Algumas usinas reportaram que em 19 dias de safra, de 6 a 7 dias foram perdidos até agora. Com isso, os pátios das usinas estão lotados de caminhões aguardando carregar etanol, enquanto os terminais de açúcar padecem com pouca mercadoria chegando para ser embarcada. O preço do etanol dispara e distorce ainda mais a arbitragem com o açúcar que para competir com o combustível renovável precisará subir pelo menos 200 pontos. A questão é se e quando isso vai ocorrer.
Algumas inconsistências no mercado futuro perturbam uma análise mais criteriosa sobre a situação global. Por exemplo, o spread outubro/2019 com março/2020 faz os analistas coçarem a cabeça. O spread apresenta um desconto de 94 pontos em cinco meses o que representa 18.50% ao ano. Por que haveríamos de ter um desconto dessa magnitude considerando que o Centro-Sul pode ter pouca disponibilidade de açúcar em função do preço do etanol? Um quebra-cabeças a ser desvendado.
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