Açúcar: Os Fundos não tem pressa – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar em NY continua como água de morro abaixo, levando tudo que encontra pela frente. Muitas usinas estão pagando o preço pela espera por dias melhores que acabaram não vindo e, ato contínuo, um volume de fixações por fazer acabou se acumulando contra o vencimento março de 2018. Sair desse labirinto é uma equação de difícil solução. No entanto, talvez já tenhamos visto o pior em termos de preços para os produtores.
O contrato futuro de açúcar para março/2018, que expira no final deste mês, encerrou a sexta-feira negociando a 13.63 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 26 pontos em relação ao dia anterior, mas basicamente inalterado em relação à sexta-feira da semana passada. A semana foi tensa quando o março chegou muito próximo dos 13 centavos de dólar por libra-peso. Muita gente roendo as unhas.
Vários executivos e profissionais do mercado estão se deslocando para Dubai onde, a partir deste sábado, ocorre a Conferência Anual de Açúcar. Normalmente as conversas lá costumam ter um viés baixista, por razões óbvias, afinal o organizador do evento é um grande comprador. O impacto na maioria das vezes foi neutro, exceção feita ao ano passado em que os preços colapsaram, não por causa da Conferência, mas porque estavam inflados mesmo.
Uma inquietação que temos sentido em conversas com vários executivos do setor tem sua raiz no tamanho da próxima safra de cana. Não há dúvidas que vamos ter um ano com menor cana para moer, menor produtividade (haja vista que a produção na 2017/2018 foi excepcional) e muito menos açúcar.
Nossa terceira estimativa para a safra 2018/2019 do Centro-Sul prevê uma moagem de 580 milhões de toneladas de cana, com uma produção de 30.5 milhões de toneladas de açúcar (uma redução de 5.3 milhões de toneladas em relação ao número da UNICA para 2017/2018) e 26.5 bilhões de litros de etanol (um aumento de 1.3 bilhão de litros). Esse número foi obtido considerando um mix de 41.4% de açúcar, que é ligeiramente superior às expectativas de alguns executivos que apostam em um mix de 40%. Se eles estiverem certos, pode cortar mais um milhão de toneladas de açúcar dessa conta. Já imaginaram, né?
Há exatamente um ano quando o mercado negociava 20.42 centavos de dólar por libra-peso, comentei aqui que sentia um cheiro de cisne negro no ar, certamente afetado pelo convívio de uma semana no curso que participei ministrado pelo Professor Nassim Taleb. O mercado estava pronto para uma virada. Os fundos estavam pesadamente comprados. E hoje estão pesadamente vendidos. A história é a mesma, mas com sinal trocado.
Hoje, sabemos que os fundos montaram uma estratégia chamada long-short que consiste em vender a descoberto um determinado ativo e comprar outro ativo que acreditam que vai subir, usando o mesmo valor nocional, isto é, vendem determinado valor equivalente em açúcar e compram o mesmo valor equivalente em petróleo, por exemplo. Assim, eles estão pesadamente vendidos nas soft commodities (principalmente café e açúcar) e pesadamente comprados em energia (petróleo). Enquanto açúcar e café caíram no acumulado do ano 10% e 4.5%, respectivamente, o petróleo subiu 8.5%. Ou seja, os fundos estão ganhando centenas de milhões de dólares com a abertura desse spread.
Os fundos não têm pressa de sair de suas posições vendidas no açúcar por várias razões: uma, eles estão no lucro; duas, tecnicamente o mercado continua apontando para baixo; três, o petróleo continua firme e dá sustentação para a posição que mantem no açúcar; quatro, toda vez que o mercado se move as usinas atrasadas nas fixações aproveitam a subida e fixam preços. Ou seja, os fundos não precisam ter pressa nenhuma. E o último fator citado é o que tem feito a diferença.
A preocupação é se eles saírem das duas posições de maneira simultânea (e isso não é raro). A eventual subida que o açúcar teria com a recompra da posição vendida por parte dos fundos poderia eventualmente ser neutralizada com a queda do petróleo que afetaria o valor da gasolina na bomba e então o hidratado. Ou seja, essa diferença entre os dois mercados se estreitaria para um valor mais justo. Explico melhor.
A curva do preço do petróleo para os próximos três meses, assumindo que a Petrobras vai manter sua política de transparência na formação de preços e que o dólar vai continuar entre R$ 3,1600 e R$ 3,2000, mostra um preço médio da gasolina na bomba em R$ 4,0000 o litro.
Vamos admitir duas hipóteses: primeira, assumindo que 70% desse valor é o máximo que o hidratado pode ser negociado na bomba mantendo sua competitividade. Segunda, vamos imaginar que no início da safra as usinas pressionem a venda do hidratado a tal ponto que sua paridade com a gasolina chega a 65%.
Assim, estabelecemos como preço máximo do hidratado R$ 2,8000 por litro e mínimo de R$ 2,6000 por litro, na bomba. Esses valores equivalem a R$ 1,7434 e R$ 1,5434 por litro, respectivamente na Usina, sem impostos. O primeiro demandaria que o açúcar em NY negociasse a 16.42 centavos de dólar por libra-peso para empatar enquanto o segundo coloca NY a 14.74 centavos de dólar por libra-peso. Portanto, esse seria o intervalo de preços justo para o período março-abril-maio.
Ah, mas o que acontece se o Brent cair para 55 dólares por barril e o real se valorizar para R$ 3.000? O preço justo de NY deveria ser 14.88 centavos de dólar por libra-peso.
Uma boa aposta para quem gosta de cisnes negros: comprar uma call (opção de compra) de preço de exercício 18 centavos de dólar por libra-peso financiada com a venda de uma put (opção de venda) de 11 centavos de dólar por libra-peso, ambas com vencimento em outubro/2018.
Restam apenas quatro vagas para o XXIX Curso de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas que vai ocorrer nos dias 06, 07 e 08 de março de 2018, em São Paulo, Capital, no Hotel Wall Street. O próximo Curso, só deve ocorrer em agosto de 2018. Para mais informações: priscilla@archerconsulting.com.br (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)