22/10/2018

Açúcar: Quando a maré sobe é que se nota quem sabe nadar

 Açúcar: Quando a maré sobe é que se nota quem sabe nadar

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Em trinta dias de pregão o mercado futuro de açúcar em NY assistiu a uma inacreditável recuperação nos preços que, no período, percorreram o caminho de uma mínima de 9.83 centavos de dólar por libra-peso galgando até uma máxima de 13.95 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, 412 pontos. Nem o analista fundamentalista mais otimista poderia esperar um desempenho tão expressivo do mercado em um espaço de tempo tão exíguo: 42%. Nós acreditávamos que o mercado de açúcar atingiria 13.50 centavos de dólar por libra-peso no último trimestre do ano, mas não poderíamos prever uma escalada íngreme como esta.

A última vez que um aumento dessa magnitude foi observado no mesmo período de tempo ocorreu no último trimestre de 2015 quando atingiu 43%. E antes disso, em junho de 2011 quando o mercado se valorizou quase 45% no período. No último trimestre de 2010 uma valorização de 48% ocorreu num período de trinta pregões. Em janeiro do mesmo ano, 50%. Mas, o recorde pertence a junho de 2000 quando o mercado valorizou 71.80% num período de trinta pregões.

O tão propalado superávit mundial gigantesco de milhões e milhões de toneladas de açúcar não resistiu à lógica nem à aritmética simples. Acreditamos que o mercado se fez algumas perguntas, como por exemplo, é possível manter-se baixista com o mercado negociando a 10 centavos de dólar por libra-peso quando ninguém no mundo consegue produzir açúcar e colocá-lo dentro do navio no porto por esse valor? É possível acreditar em produção no Centro-Sul de 590 milhões de toneladas de cana, como ocorreu no início deste ano, quando se sabia da idade média dos canaviais, da falta de tratos culturais por falta de dinheiro e da assombrosa redução de investimentos? É possível acreditar em mix pró-açúcar quando o preço internacional do petróleo bombava e o real se desvalorizava em relação ao dólar, tornando o etanol extremamente competitivo na bomba negociando a prêmios de 150/200 pontos em relação ao açúcar em NY?

Se o mercado foi mais robusto nessa alta, a pergunta que vale agora é se os fundos – que reduziram agressivamente suas posições vendidas – irão se posicionar na compra a partir deste momento e, se isso ocorrer, quem lhes dará liquidez? Alguns consumidores industriais estão com gosto amargo na boca. Embarcaram cegamente nas histórias de superávits de dois dígitos e agora ficam de queixo caído quando ouvem de consultorias selecionadas, que o superávit pode virar déficit. WHAT? Gente que não comprou açúcar porque foi aconselhada a esperar pois o mercado ia cair mais se confraterniza com gente que vendeu por que foi aconselhada a fazê-lo pois tinha muito açúcar no mercado. Quantas vezes já vimos esse roteiro, mesmo?

Ah, mas os fundos vão encontrar liquidez comprando das usinas/trading que estão fixando ou vão fixar ainda. Bem, está todo mundo falando em redução de exportação. As exportações brasileiras são estimadas por alguns em 18 milhões de toneladas de açúcar, se isso for verdade, evidentemente que a necessidade de hedge vai ser menor. Pelo volume negociado nas últimas semanas, espera-se que o total fixado pelas usinas para a safra 2019/2020 supere os 20%, vamos aguardar o que o modelo vai dizer.

Também comentamos neste espaço, quase que à exaustão e testando a paciência infinita dos nossos leitores, que alguns fundos não indexados estavam comprados em petróleo e energia e vendidos em café e açúcar. O que ocorreu efetivamente? Neste mês de outubro, gasolina e petróleo caíram 8% e 5%, respectivamente, enquanto café e açúcar subiram 19% e 24% respectivamente.

O perigo que o açúcar corre nesse momento é que o petróleo continue caindo e o real continue se valorizando em relação ao dólar. A combinação desses dois eventos barateia a gasolina de importação, pressiona o etanol hidratado e pode fazer com que as usinas revejam seu mix para a safra 2019/2020. Por outro lado, a eleição de Bolsonaro (com probabilidade de mais de 90% segundo algumas empresas especializadas em risco político) pode aquecer o mercado consumidor se medidas de ajustes fiscais forem implementadas na nova administração e o aumento do consumo represado (tanto de combustível quanto de produtos alimentícios e bebidas) pode ser o contraponto que necessitamos para equilibrar o perigo mencionado.

Um executivo indiano nos questiona o seguinte: “uma vez que sabemos que tanto a safra indiana quanto a safra tailandesa e europeia serão menores, e considerando igualmente que a temporada de chuvas no Brasil mal começou e, portanto, o risco climático ainda existe, por que as usinas brasileiras precisam fazer o hedge agora, nos 14 centavos de dólar por libra-peso?  Não seria melhor esperar os preços reagirem mais?”.  Respondemos que se na média as usinas de açúcar do Centro-Sul possuem um custo caixa médio de produção de 42 reais por saca posto usina que equivale hoje a aproximadamente 12.25 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, é difícil ficar – uma vez mais – sem fixar preços.

A gestão de risco é instrumento valioso nesse momento. Não se apaixone pela posição. Lembre-se que ninguém quebra com dinheiro no bolso. Existem várias operações estruturadas que podem ser construídas nesse momento, dependendo do apetite ao risco de cada empresa.

Estão abertas as inscrições para o XXXI Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas, que ocorrerá nos dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de março de 2019, no Hotel Paulista Wall Street, na Bela Vista, em São Paulo (SP). Para mais informações, mande e-mail para priscilla@archerconsulting.com.br . Recomendamos que antes de fazer o curso, o participante leia o livro Derivativos Agrícolas, que pode ser encontrado no iTunes, Amazon, Livraria Cultura ou no sitewww.estantevirtual.com.br (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)