28/10/2024

Agências reguladoras sofrem ataque especulativo de Lula

 Agências reguladoras sofrem ataque especulativo de Lula

LULA Foto Blog Diário do Comércio

 

Gestão petista tem ideias para mudanças em autarquias, que favorecem intervencionismo; Congresso deve barrar retrocessos

 

A recente crise de abastecimento de energia elétrica na cidade de São Paulo, que expôs falhas de uma concessionária de serviço público, também serviu de pretexto para que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desencadeasse uma nova onda de pressão política contra as agências reguladoras.

 

Diferentes ideias, a maioria vinda de fontes anônimas, emanam da administração petista, que nunca aceitou o modelo de agências —autarquias que têm a incumbência de garantir decisões com solidez técnica e balancear interesses de sociedade, governo e empresas em áreas fundamentais para a produção e a prestação de serviços.

 

Fala-se em enviar projeto ao Congresso que poderá alterar a governança das entidades. A justificativa é avaliar o desempenho da gestão e a contenção da influência de interesses empresariais.

Não se disfarça, porém, o desejo de intervenção, com possível alteração de mandatos dos dirigentes para que coincidam com o calendário das eleições presidenciais, o que é um despautério. O interesse de um governo não necessariamente coincide com ações de Estado, que têm natureza de longo prazo.

 

Tampouco soa bem a eventual criação de uma instância superior às agências, já que o comando desse órgão coordenador provavelmente seria preenchido politicamente —o que derrubaria por terra o propósito essencial.

 

O risco é uma grave erosão da previsibilidade das regras que norteiam investimentos em áreas como energia, saneamentopetróleo, mineração, telecomunicações e transportes.

 

São justamente a autonomia em relação ao Executivo —ao qual cabe o direcionamento estratégico a partir dos ministérios— e a observância de normas técnicas que propiciam estabilidade para investimentos.

 

Algumas críticas ao funcionamento das agências são justificadas. Regulamentadas nos anos 1990, permitiram avanço notável em atração de investimentos e maior transparência decisória. Mas não está ainda consolidada a desejável solidez institucional.

 

A culpa em parte pode ser atribuída às entidades, mas o problema começa pelos próprios governos, que escolhem mal seus dirigentes, e pelo Congresso, que não cumpre seu papel de filtrar as indicações, muitas de caráter político. Também há sucateamento pela falta de verbas e por dezenas de cargos não preenchidos.

 

É obviamente correto salvaguardar o interesse público e garantir a blindagem ante interesses privados. Também se espera que a direção das autarquias seja avaliada por eficiência. É fundamental, contudo, que não haja intervencionismo de Brasília nos setores monitorados, como deseja o governo Lula.

 

Espera-se que não haja ambiente para tal retrocesso no Legislativo. Ainda assim, o ataque especulativo às agências em nada contribui para o fortalecimento da regulação, essencial para o crescimento de longo prazo (Folha, 26/10/24)