10/01/2018

Algodão:Maior competitividade atrai produtor e área deve crescer neste ano

 Algodão:Maior competitividade atrai produtor e área deve crescer neste ano

 

Atualmente, entre as culturas temporárias, a de algodão se mostra como uma das mais atrativas aos produtores brasileiros. No entanto, de acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, as barreiras à entrada na cultura, diante das especificidades de ativos necessários e de conhecimentos técnicos na produção e comercialização, fazem com que apenas produtores com capacidade ociosa possam aproveitar a melhor relação receita/custos.

 

Segundo dados da equipe de custos agrícolas do Cepea, em Mato Grosso, a compra de insumos e a venda antecipada da pluma em 2017 para entrega no segundo semestre de 2018 apontam que a receita total deve superar os custos totais em cerca de 10%. Mas é importante considerar que, se o cenário é positivo ao Brasil, também é favorável para diversos outros países.

 

As expectativas de melhores retornos no campo já fazem com que estimativas apontem crescimento da área com algodão no Brasil. Mesmo com atraso nas primeiras chuvas, o clima tem favorecido as lavouras de verão nas principais regiões produtoras no Brasil. O semeio foi iniciado em vários estados, como Bahia, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso, maior produtor nacional, grande parte da área é de segunda safra, com semeio ocorrendo principalmente em janeiro e fevereiro.

 

Para a temporada 2017/18, espera-se colheita brasileira de 1,69 milhão de toneladas, 9,1% maior que na temporada anterior, segundo dados da Conab. A esta oferta, adicionam-se 395,8 mil toneladas de estoque inicial em janeiro/18 e 15 mil toneladas de importação, gerando disponibilidade interna de 2,1 milhões de toneladas. O consumo previsto para 2018 é de 720 mil toneladas, 4,3% maior que no ano anterior. Assim, o excedente interno é estimado em 1,38 milhão de toneladas, os quais podem ser exportados.

 

Segundo dados da Conab, em 2018, devem ser exportadas 960 mil toneladas, crescimento de 40% frente à safra 2016/17. Com isso, o estoque em dezembro/18 pode ser de quase 421 mil toneladas. Enquanto a exportação é um fator de sustentação do preço, o maior excedente pode limitar fortes reações.

 

Entre os motivos que podem ajudar a sustentar os preços, conforme pesquisadores do Cepea, estão o fato de que parte da safra 2016/17 está comprometida em contratos (que deve ser exportada no primeiro semestre de 2018) e as expectativas de recuperação do consumo nacional e de valorização do dólar frente ao Real. Espera-se, também, que a paridade de exportação se mantenha positiva – o que favoreceria as vendas externas e reduziria a disponibilidade da pluma no primeiro semestre.

 

Além disso, contratos envolvendo lotes da safra 2017/18 foram captados pelo Cepea, seja para exportação “flex” (com opção para o mercado interno) e para entregas no mercado doméstico, fixados nos contratos de Nova York, no Esalq e mesmo a valores fixos. Segundo cálculos do Cepea, a média de 2017 (até 28 de dezembro) para os contratos de exportação referentes à safra 2017/18 foi de US$ 0,7493/lp para embarques programados entre agosto e fevereiro/19.

 

No contexto internacional, a produção da temporada 2017/18 (já colhida no Hemisfério Norte) está estimada em 26,1 milhões de toneladas, volume 12,6% superior à safra anterior, de acordo com o USDA. O impulso veio das maiores colheitas na Índia, China e nos Estados Unidos. Se confirmada, será o segundo ano de crescimento da produção, com salto de 5,2 milhões de toneladas, equivalente a 24,8% sobre a temporada 2015/16.

 

Para o consumo global de 2017/18, deve atingir 26,05 milhões de toneladas, crescimento de 4,2%, segundo o USDA, o que seria o maior desde 2007/08. Todos os principais países consumidores seguem com elevação no consumo, puxado pela melhora na economia. Ao se considerar os últimos cinco anos safras, o consumo mundial de algodão cresceu 8,7%, com destaque para China (13%), Índia (6,5%), Bangladesh (35,9%), Turquia (11,1%) e Vietnã (90,5%), enquanto no Brasil houve redução de 19%.

 

Apesar de a produção estar acima do consumo, a relação estoque final/consumo deve se reduzir para 73,6% – vale lembrar que, em 2014/15, era praticamente de 100%. A China, que detinha mais de 60% dos estoques, agora detém 45%. Como o consumo naquele país segue crescendo, os estoques representam 100% da demanda de um ano, contra 197% em 2014/15.

 

Neste ambiente, as perspectivas são de preços firmes em 2018. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), em dezembro/17, o contrato Mar/18 se valorizou 7,99%, fechando a US$ 0,7863/lp no dia 29 – o maior valor deste vencimento foi no último dia 27, de US$ 0,7895/lp. O vencimento Maio/18 registrou alta de 7,46% (US$ 0,7896/lp); Jul/18, de 7,33% (US$ 0,7924/lp); Out/18, de 5,26% (US$ 0,7546/lp); e Dez/18, de 5,37% (US$ 0,7451/lp).

 

Dados da BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias) tabulados pelo Cepea apontam que 38% da safra brasileira 2017/18 teria sido comercializada até o final de dezembro de 2017. Deste total, 35,4% foram direcionados ao mercado interno e 64,6%, ao externo. Entretanto, os dados apontam que 66,2% da produção de 2016/17 (1,53 milhão de toneladas) foi comercializada até dez/17, dos quais 41,7% foram negociados para exportação e 58,3%, para o mercado interno. Nas últimas seis safras, cerca de 81% da produção doméstica foi registrada na BBM (Esalaq/USP, 9/1/18)