Boi: Agromensal Cepea abril/2020
Apesar de todo o cenário incerto diante da pandemia de coronavírus, o mercado pecuário nacional seguiu relativamente firme em abril. O Indicador do boi gordo CEPEA/B3 registrou média de R$ 199,57 no mês, sendo apenas 0,38% inferior à de março/2020 e quase 20% acima da de abril do ano passado, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IGP-DI).
A sustentação veio da baixa oferta de animais prontos para abate neste período de final de safra. Em algumas regiões, agentes consultados pelo Cepea indicaram que as condições das pastagens permitiram que pecuaristas segurassem seus animais, na expectativa de preços maiores.
Neste caso, mesmo com o menor volume de chuva em abril, a umidade do solo em algumas propriedades ainda foi considerada boa, o que, associada ao manejo ideal por parte de pecuaristas, favoreceu a restrição da oferta de boi gordo. Por outro lado, alguns pecuaristas de São Paulo indicaram que as pastagens começaram a se deteriorar com a falta de precipitações.
Do lado da demanda, verificou-se certa estabilidade na procura de brasileiros pela carne bovina, especialmente por cortes mais baratos. Em abril, o valor médio da carcaça casada do boi foi de R$ 14,04/kg, sendo 0,57% superior à média de março/2020 e quase 24% acima da de abril do ano passado, em termos reais.
A demanda internacional pela carne bovina in natura seguiu aquecida, especialmente por parte da China – vale lembrar que o país asiático parece ter superado a pandemia de coronavírus, o que tende a manter firme a procura internacional por carnes. Conforme dados preliminares da Secex, foram exportadas pelo Brasil 122,11 mil toneladas de carne bovina in natura em abril, 3% abaixo de março/2020, mas 11,2% a mais que em abril do ano passado.
REPOSIÇÃO
Os preços do animal de reposição seguiram em patamares recordes no estado de São Paulo. Em abril, o bezerro nelore, de 8 a 12 meses, registrou média de R$ 1.952,34, com altas de 1,55% em relação ao mês anterior e de expressivos 44% frente à de abril de 2019, em termos reais.
CORONAVÍRUS
Até abril, os impactos do coronavírus sobre o mercado pecuário nacional ocorreram de forma menos intensa que outros produtos agropecuários, como o algodão e os hortifrútis. De um modo geral, a pecuária nacional não deve comparar, mas pode aprender com a crise atravessada pelo setor em 2017 – quando foram verificadas a “Operação Carne Fraca” e a delação da maior indústria frigorífica brasileira, respectivamente em março e em maio daquele ano, contexto que reduziu o volume de animais em confinamento e resultou em alta de preços no segundo semestre.
Claro, o cenário atual é bem distinto do enfrentado pelo setor pecuário brasileiro naquele ano: as incertezas de agora são grandes e em termos globais e as possíveis retrações econômicas são sem precedentes. Observando o passado, arrisca-se indicar que o que possivelmente pode ser observado neste ano é igualmente uma forte redução no volume de animais indo para confinamento nas próximas semanas e meses.
Em 2020, aliás, além da pandemia de coronavírus, os preços dos animais para reposição estão em patamares recordes reais em muitas regiões e os preços do milho e do farelo estão elevados. Alguns insumos importados se encareceram significativamente nos últimos meses, em decorrência do alto patamar do dólar.
Diante disso, é possível que o segundo semestre seja marcado por baixa oferta de animais, mas isso também não quer dizer que os preços irão subir como em 2017. Isso porque a demanda doméstica pode registrar forte retração – muitos consumidores, com a possível diminuição da renda, podem se deslocar para proteínas mais baratas, como carne de frango e ovos. A demanda externa, por sua vez, deve ser a “válvula de escape”.
Apesar da pandemia do coronavírus, que teve mais força na China entre o final do ano passado e o início de 2020, o país asiático, que é o principal destino da carne brasileira, seguiu demandando elevados volumes da proteína bovina no primeiro quadrimestre de 2020, favorecendo os embarques totais brasileiros do produto.
Agora, resta saber em relação aos demais mercados compradores e o fechamento de suas fronteiras para além de indivíduos. A Europa está entre os 10 maiores compradores da carne bovina brasileira e a crise pela qual está passando deverá reduzir as aquisições da proteína (Assessoria de Comunicação, 6/5/20)