02/09/2024

Café: Novas máximas históricas; mercado segue firme!

 Café: Novas máximas históricas; mercado segue firme!
CAFE EXPORTAÇÃO BRASIL COLUNA SEGUNDA Foto Divulgação

Por Marcelo Fraga Moreira

 

Como previsto no “comentário semanal” anterior, o vencimento Set-24 (prestes a expirar) negociou na terça-feira na máxima dos últimos 3 anos @ 263,65 centavos de dólar por libra-peso. E trabalhou com uma amplitude de 3.070 pontos (mínima / máxima / mínima / fechamento respectivamente 248,40 / 263,65 / 248,20 / 248,20 centavos de dólar por libra-peso). Idem com o vencimento Dez-24 negociando com uma amplitude de 3.105 pontos (mínima / máxima / mínima / fechamento respectivamente 245,30 / 259,45 / 242,55 / 244,05 centavos de dólar por libra-peso).

Londres não foi diferente! Tanto o vencimento Set-24 quanto o Nov-24 negociaram em novas máximas históricas respectivamente @ 5.580 US$/tonelada e 5.180 US$/tonelada! Quem diria! Café robusta negociando acima do café arábica no mercado interno brasileiro!

O R$ chegou a desvalorizar -4%, negociando @ 5,71 R$/US$ e encerrando a semana @ 5,62 R$/US$. O Banco Central voltou a realizar leilão de aproximadamente 1,5 bilhão de dólares para “segurar” a moeda uma vez que, novamente, as contas publicar voltaram a explodir (o mercado aguardava um déficit público para o mês de julho em “apenas” -13 bilhões de reais e o número final divulgado ficou em “apenas” -21 bilhões de reais)! O risco país junto com a nomeação do novo presidente do Banco Central (Sr Galípolo – homem de confiança do presidente do Brasil e do ministro da economia) e com o receio do FED* iniciar a redução dos juros agora no mês de setembro em apenas -0,25 e não -0,50 pontos ajudou a estressar o R$.

A combinação das cotações em NY e em Londres (atingindo preços recordes dos últimos 3 anos) junto com a desvalorização do R$ voltou a dar sustentação aos preços praticados no mercado interno. O café robusta chegou a negociar acima dos 1.400 R$/saca. O café arábica tipo “rio” entre 1.200-1.350 R$/saca, o café arábica tipo 6 entre 1.400 – 1.550 R$/saca e o “cereja descascado” acima dos 1.600 R$/saca!

Mesmo com esse preço recorde no mercado interno para o café tipo robusta o Brasil continua vendendo o seu produto com um desconto acima dos 150 R$/saca contra o produto do Vietnam. O café arábica tipo 6, respeitando um “ágio” histórico de pelo menos 500 R$/saca, já deveria estar sendo negociado nos 1.800/1900 R$/saca – equivalente a NY @ 290 centavos de dólar por libra-peso! Como já compartilhado com nossos leitores, creio que NY irá buscar esse patamar em breve, até o final do ano!

Considerando a logística brasileira mais eficiente e confiável para abastecer a Europa nos dias atuais (com uma rota de navegação mais curta e mais segura) o café robusta brasileiro já deveria estar valendo um prêmio para o café do Vietnam e Indonésia! E o café arábica tipo 6 peneira 17/18 já deveria estar negociando acima dos 1.800 R$/saca!

Considerando que após o Set-24 e Dez-24 negociarem no “topo histórico” dos últimos 3 anos a realização entre a quarta-feira e a sexta-feira foi saudável e já esperada (por alguns). Os contratos estavam negociando acima do topo da banda de Bollinger dos 50 dias e os fundos + especuladores aproveitaram para colocar dinheiro no bolso. Nada como o mercado pegar folego para ir buscar as próximas resistências (263 / 275 / 300 centavos de dólar por libra-peso) e, em breve, romper o topo histórico acima dos 360 centavos de dólar por libra-peso.

Como mencionado, a cada 2.500 pontos a chamada de margem equivale a aproximadamente 2 bilhões de dólares. Então, desde 28 de novembro de 2023 até agora (quando o mercado estava negociando ao redor dos 170 centavos de dólar por libra-peso) os “vendidos” precisaram enviar aproximadamente +7,20 bilhões de dólares para cobrir as chamadas de margem.

Os fundos + especuladores continuam comprados em 46.775 lotes. Em breve creio que iremos ver novos “stops” sendo acionados. Por que? Porque o clima seco e quente continua castigando as lavouras. Não só no Brasil, mas também nas outras origens. A safra brasileira 24/25 continua sub judice – essa semana o Rabobank* novamente divulgou nova estimativa para a safra atual reduzindo para 67,1 milhões de sacas x 69,80 milhões de sacas. Aos poucos está “caindo a ficha” que a safra 24/25 quebrou.

Ainda existe oferta para o café tipo arábica, mas o café tipo robusta já começa a ser disputado tanto pela indústria local quanto para o mercado externo.

Outra justificativa para a queda dos preços no último pregão da semana foi a divulgação dos dados do estoque certificado. Ora, esse estoque saiu dos 2,50 milhões de sacas para abaixo das 300 mil sacas e agora está em 847 mil sacas (sento 794 mil sacas no porto de Antuérpia e 38 mil sacas no porto de Hamburgo). Ora, esse volume corresponde a apenas 2 dias do consumo mundial! Ou seja, não é isso que fez o mercado realizar. Mas sim a combinação da desvalorização do R$ e a correção técnica / liquidação posição dos fundos/especuladores.

No mês de agosto, segundo a Cecafé*, o Brasil deverá exportar entre 3,30 / 3,50 milhões de sacas. Se forem 3,30 milhões de sacas então nos meses de julho-agosto-24 o Brasil já terá exportado 7,08 milhões de sacas. Se forem 3,50 milhões de sacas então esse número aumentará para 7,28 milhões de sacas. No mesmo período da safra 23/24 o Brasil exportou 6,70 milhões de sacas! Ou seja, mesmo com uma safra “teoricamente menor”, com os números sub judice, o Brasil começou bem, abastecendo o mercado internacional, com aumento basicamente concentrado no café tipo robusta!

O clima deverá seguir seco e quente durante os próximos 20 dias. Já existe o risco das floradas para a próxima safra 25/26 ter problemas. Muitos produtores e agrônomos já estão céticos em relação a nova “safra recorde” em 25/26.

Creio que ainda iremos ver tanto Londres como NY “andar” bem nas próximas semanas em função dos fundos + especuladores pressionando os “vendidos” e com a procura por produto pelas tradings / mercados consumidores.

Como sempre, proteja-se!

Cuidado com as travas para as próximas safras 25/26 em diante!

Travas sem “contra hedge” (através da compra de uma opção de compra “call*”) são um perigo!

E produzir sem garantir um piso mínimo (através da compra de uma opção de venda “put*”), um seguro contra eventual correção no mercado também (Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting; 31/8/24)