Consumo de energia elétrica tem primeira alta em três anos
Por Zilmar José de Souza
O consumo de energia elétrica na rede no Brasil atingiu quase 40 mil GWh em dezembro do ano passado, um crescimento de 1,7% em relação ao mesmo mês de 2016, de acordo com recente levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). No ano, o consumo total ficou em 463.948 GWh, representando uma variação de 0,8% em relação a 2016, primeiro resultado positivo dos últimos três anos, mas ainda inferior ao consumo registrado em 2015 (464.084 GWh).
Em 2017, a principal classe de consumo de energiaelétrica continua sendo a industrial, com um total de 165.883 GWh, respondendo por 36% do consumo no país. A classe residencial, com 133.904 GWh, ocupou a segunda posição, representando 29% do consumo de energia elétrica em 2017, conforme se observa na Figura 1.
De acordo com a EPE (2018), o consumo industrial de eletricidade fechou o ano de 2017 com alta de 1,3% frente a 2016, após duas quedas consecutivas nos anos anteriores (-2,5% em 2016 e -6,2% em 2015). Na classe residencial, o consumo de energia elétrica em 2017 teve crescimento de apenas 0,8% em relação a 2016. Segundo a EPE, em linha com a tendência da economia no país, o consumo residencial de energiaelétrica apresentou melhor resultado no segundo semestre, 1,4% contra 0,6% no primeiro. Mesmo crescendo abaixo do histórico, resultado da fraca atividade do mercado imobiliário, a base de consumidores avançou 2,4%, alcançando 70,9 milhões de unidades consumidoras, e compensando, assim, a retração para 157 kWh/mês (-1,5%) do consumo médio de energia elétrica por residência no país em 2017.
Figura 1 - Distribuição do consumo de energia elétrica, Brasil, por classe de consumo, 2017 (%)
O crescimento de 0,8% no consumo de energia elétrica esteve aderente com o próprio crescimento estimado para o PIB do país entre 2016 e 2017. Embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deva divulgar o dado oficial do PIB de 2017 apenas em março deste ano, a estimativa do Boletim Focus do Banco Central é que tenha havido um crescimento de 1% para o PIB do país entre 2016 e 2017.
Considerando que, de acordo com o último Boletim Focus, as previsões de crescimento do PIB para 2018 e 2019 são, respectivamente, 2,7% e 3%, espera-se também o retorno de um crescimento maior para o consumo de energia elétrica no país para os próximos anos, o que exigirá a expansão da capacidade instalada e a diversificação na contratação de diversas fontes de geração para uma matriz elétrica cada vez mais complexa. Ao lado da eólica e da solar, uma das fontes que mais pode contribuir neste desafio é também a bioeletricidade.
Em termos de evolução anual de capacidade instalada, a fonte biomassa teve seu recorde no ano de 2010, com 1.750 MW (equivalente a 12,5% de uma Usina Itaipu), resultado de decisões de investimentos antes de 2008, quando o cenário era estimulante à expansão do setor sucroenergético. A fonte biomassa, que já chegou a representar 32% do crescimento anual da capacidade instalada no país, participou com 7% da expansão da capacidade instalada no Brasil em 2017, índice que poderá cair para apenas 1% em 2018.
Em 2017, a estimativa é que a produção de bioeletricidade para a rede elétrica tenha atingido quase 26 mil GWh, ou seja, foi equivalente a 5,6% do total de consumo de energia elétrica no país, mas o efetivo aproveitamento desta fonte ainda é inferior a 20% do potencial técnico da bioeletricidade, calculado pela própria EPE.
Com um potencial subaproveitado e com a retomada do crescimento econômico e do respectivo consumo de energia elétrica no país, a expectativa é que a bioeletricidade, uma energia renovável e sustentável, possa contribuir mais firmemente na expansão do sistema elétrico nacional e na garantia ao atendimento de uma demanda crescente por energia elétrica.
Para 2018, já temos agendado o leilão regulado A-4, previsto para ocorrer em 4 de abril e que contratará projetos de energia nova para início se suprimento em 2022. Com 1.422 MW de bioeletricidade cadastrados para o certame (28 projetos), espera-se que o chamado modelo de decisão de investimentos (MDI) adotado pelos responsáveis pelo certame continue a ser aprimorado e, ao repartir a demanda total a ser contratada, possa reconhecer atributos positivos não só econômicos, mas de sustentabilidade, complementaridade às hidrelétricas e geo-elétricos que a bioeletricidade apresenta, contribuindo para uma retomada mais significativa da evolução da capacidade instalada pela biomassa na matriz elétrica brasileira (Zilmar José de Souza é gerente de Bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar)