20/09/2023

Desatando os nós nas cadeias produtivas dos biocombustíveis

 Desatando os nós nas cadeias produtivas dos biocombustíveis

economia verde  Imagem Blog Sustentável

Por Ronaldo Knack

 

“O mundo terá de tomar três grandes decisões: busca de segurança alimentar; renovação (transição energética) e administrar as questões ambientais. Todas passam pelo agronegócio” – Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura

 Nunca e em tempo algum os biocombustíveis conseguiram alcançar o protagonismo global como na semana que passou. Primeiro, foi no encontro do G-20 promovido na Índia, cujo tema principal foi o lançamento da “Aliança Global para os Biocombustíveis” sob liderança de Brasil, Estados Unidos e Índia, os três maiores produtores nesse campo.

 Depois, o lançamento em Brasília do “Programa Combustível do Futuro”, que inclui o envio ao Congresso de um projeto de lei para regulamentar uma série de novas propostas na área de combustíveis. E, para arrematar, o enviado especial para o Clima dos EUA  John Kerry, chega nas próximas horas liderando uma missão do Departamento de Estado para se reunir com 25 empresários brasileiros.

 Curiosamente, mas não inesperadamente para quem acompanha a trajetória dos biocombustíveis, estes eventos tiveram pouco repercussão e quase nenhuma ressonância aqui em nosso país que já foi protagonista e maior produtor mundial dos biocombustíveis.

 Os produtores e empresários agrícolas e da indústria e serviços que formam a cadeia produtiva dos biocombustíveis, permaneceram acanhados e calados, não tomando nenhuma iniciativa pública para comemorar os anúncios. O ministro da Agricultura Carlos Fávaro não apareceu para comemorar as novas iniciativas e, mesmo em Brasília, pouco se falou a respeito.

 Num mundo globalizado, com os meios de comunicação passando por profundas mudanças, com as facilidades, velocidade e instantaneidade das notícias nas redes sociais, deixar de ecoar iniciativas positivas denota incompetência e apatia dos principais atores e representantes dos setores produtivos.

 A falta de organização e, principalmente de união, dos vários elos das cadeias produtivas, já há tempos provoca desconfianças principalmente nos investidores, representantes da academia e formadores de opinião.

 E torna a cadeia produtiva dos biocombustíveis “verde-amarela” extremamente vulnerável. Haja vista o que ocorreu durante o governo Bolsonaro que escancarou as importações de etanol americano sem pagamento de impostos. Antes disto, nos governos Lula e Dilma os biocombustíveis foram alvos da inação de políticas públicas trazendo pesados prejuízos aos produtores.

 E agora, ainda recentemente, o ataque histérico e despropositado das distribuidoras de combustíveis Ipiranga e Vibra (ex-BR) contra o Renovabio. O ataque afronta os interesses dos brasileiros e denota arrogância, despropósito e antinacionalismo. Entrentanto, o silêncio das “pseudo-lideranças” do setor dos biocombustíveis chamou mais uma vez a atenção!

 Fica difícil e incompreensível, o setor do etanol ser representado por um Fórum Nacional Sucroenergético, por uma Única – União da Indústria da Cana-de-Açúcar (que apenas representa os usineiros do Centro-Sul), pela Novabio – Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (representa os usineiros do Nortes e Norte), pela Unem – União Nacional do Etanol de Milho, pela Feplana – Federação dos Plantadores de Cana do Brasil, Ceise – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis e Udop – União Nacional da Bioenergia.

 Já o setor dos biodiesel é representado pela Aprobio – Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil, Ubrabio – União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene e Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. Todas estas entidades e instituições foram criadas e são mantidas com o objetivo de defender os interesses dos produtores.

 Mas, convenhamos: fica muito difícil, principalmente na esfera governamental, estabelecer-se uma linha de diálogo e discutir propostas com as 6 representações institucionais do setor do etanol e as 3 do biodiesel. Aliás, como já afirmou conhecido ministro de plantão, “é muito fácil negociar com um setor que não consegue sequer se unir para ser representado à altura da sua importância”.

 Mais difícil ainda é o trabalho da imprensa quando se trata de buscar informações sobre os interesses e problemas do setor dos biocombustíveis. Afinal, dos 9 representantes do setor qual deles é a fonte mais confiável e que, de fato e de direito, representa e fala pelo setor?

 E quais deles reúnem as condições de conhecimento e liderança para falar sobre temas sensíveis como a transição energética, novos combustíveis renováveis,  hidrogênio e a economia verde que é vista como a 4ª Revolução Industrial? (Ronaldo Knack é Jornalista e bacharel em Administração de Empresas e Direito; é também fundador e editor do BrasilAgro; ronaldo@brasilagro.com.br)