Em cinco anos, área irrigada no Brasil pode crescer 65%
O Brasil tem 4,5 milhões de hectares de área prioritária pronta para receber a agricultura irrigada, considerando um horizonte até 2024. O dado está presente no estudo "Agricultura irrigada sustentável no Brasil: identificação de áreas prioritárias", lançada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) nesta terça-feira (20/3), dentro dos debates promovidos em Brasília no âmbito do 8º Fórum Mundial da Água.
A estimativa mais recente da Agência Nacional de Águas (ANA) indica que em 2015 o Brasil atingiu a marca de 6,95 milhões de hectares de área irrigada. Com o potencial agora indicado pela FAO seria possível alcançar, portanto, um total de quase 11,5 milhões de hectares, um salto de 65% em pouco mais de meia década.
Inicialmente, o estudo da FAO identificou quase 27,5 milhões de hectares aptos para a agricultura irrigada sustentável. A partir desse número, foram aplicados diversos filtros. Foram descontadas áreas de reserva legal, urbanizadas, irrigadas, Áreas de Proteção Permanente (APPs), áreas prioritárias para preservação, entre outros critérios. Dessa forma, a FAO alcançou o primeiro recorte, de 12,4 milhões de hectares potenciais (distribuídos em 1.124 municípios em 20 Estados) para a irrigação.
Em um segundo momento, a FAO identificou áreas com menor necessidade de investimento e risco reduzido de conflitos pelo uso da água. Assim foi obtido o cálculo final de que o Brasil tem 4,5 milhões de hectares prontos para receber cultivos irrigados dentro de poucos anos. Foram consideradas áreas localizadas em municípios com boa infraestrutura e disponibilidade para a prática da agricultura irrigada (considerando, inclusive, pontos como possibilidade de armazenamento).
No texto de apresentação do estudo, o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, destaca que a água doce tem se tornado um dos recursos mais escassos do século XXI e que diante desse cenário surge o desafio de garantir investimentos eficazes para otimizar o uso dos recursos hídricos. Ele lembra que levantamentos da própria FAO apontam que a agricultura é a principal usuária dos recursos hídricos disponíveis, com uma média de 70% do consumo mundial de água.
"A contribuição da agricultura irrigada é que ela representa uma poderosa ferramenta de gestão contra as incertezas de chuvas que afetam diversas regiões do mundo. A irrigação também se torna economicamente atraente no cultivo de alto rendimento e aplica nutrientes e pesticidas apropriadas para explorar o potencial de variedades modernas", cita Bojanic. Ou seja, a FAO reconhece a importância da irrigação como ferramenta de inovação tecnológica, dentro da meta final de garantir segurança alimentar para o planeta.
O estudo "Agricultura irrigada sustentável no Brasil: identificação de áreas prioritárias" foi elaborado pela FAO a partir de solicitação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com colaboração da Agência Nacional de Águas (ANA), destaca Bojanic. "Ao realizar a identificação das áreas prioritárias para o desenvolvimento da agricultura irrigada, a FAO presta um serviço estratégico para o desenvolvimento socioeconômico do País", afirma o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins da Silva Júnior, no prefácio da publicação. Ele ressalta que a CNA considera a agricultura irrigada um importante instrumento para o desenvolvimento sustentável brasileiro.
O estudo da FAO teve por objetivo selecionar áreas prioritárias, dentro da meta do MAPA de aumentar em cinco milhões de hectares as áreas ocupadas pela irrigada no País até 2024. O trabalho destaca que a agricultura irrigada sustentável envolve práticas agrícolas que atendam às necessidades sociais atuais e futuras por alimentos e por fibras; que permitam a manutenção dos serviços ambientais dos ecossistemas e que possibilitem uma vida saudável para agricultores e consumidores, sempre de forma ética.
A FAO lembra que o crescimento da população mundial vai demandas aumento de aproximadamente 70% na produção mundial para atender 9,1 bilhões de pessoas em 2050. O potencial de expansão da agricultura irrigada em todo o mundo é estimado pela FAO em cerca de 200 milhões de hectares. "O Brasil, considerado um dos principais celeiros da produção de alimentos fibras e biocombustíveis e dono de aproximadamente 12% das águas doces superficiais do planeta, tem papel significativo na produção agrícola mundial, não podendo se eximir do compromisso de produzir com responsabilidade e dentro dos preceitos de sustentabilidade", alerta o estudo (Globo Rural, 22/3/18)