Lula é inelegível; Real deve tomar fôlego; Ajuste nas soft commodities?
Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cravando 10.63 centavos de dólar por libra-peso no vencimento outubro de 2018, 40 pontos acima do fechamento da semana anterior (quase 9 dólares por tonelada).
Se ajustarmos a curva de preços de NY tomando o vencimento março de 2020 e trazendo para valor presente descontado à taxa de 5%, 6% e 7%, percebemos que as cotações do açúcar em NY no período que compreende março a outubro de 2019, estão com desconto médio de 20-25 pontos. Isso mostra a pressão que estes meses sofrem, provavelmente em função da excessiva desvalorização do real projetada via NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) que incentivam algumas usinas a começarem a fixar seus açúcares para a próxima safra.
O valor médio de fixação para a safra 2019/2020 baseando-se no fechamento de sexta é de R$ 1,138 por tonelada FOB Santos. Para a 2020/2021 é de R$ 1,249 por tonelada. O mercado encerrou a semana com o outubro valendo quase R$ 1,000 por tonelada. Não há dúvida que houve uma enorme recuperação por parte do mercado, que só não foi mais expressiva devido às fixações em atraso, já comentada aqui dezenas de vezes.
Os fundos não-indexados aumentaram suas posições vendidas para 177.000 lotes, ao mesmo tempo em que o etanol hidratado se valorizou internamente nas últimas semanas. Vejo esses dois pontos como importantes para dar ligeira sustentação ao mercado apesar deste estar no chão. A partir de agora vamos constatar que a moagem final desta safra no Centro-Sul será muito menor do que originalmente supúnhamos e a quantidade de açúcar produzido no final vai ficar igualmente aquém dos 27-28 milhões de toneladas de açúcar que pensávamos.
O efeito desse quadro não será sentido de imediato, quer dizer, não após o encerramento da safra presente, mas no início de 2019. Em conversas com diversos gerentes agrícolas é difícil encontrar alguém que esteja otimista em relação com a qualidade do canavial, com a redução de investimentos e expansão observadas e até mesmo com o pouco cuidado cultural prejudicado pelo estresse no caixa das usinas. Muito embora uma projeção de número de moagem para o próximo a safra 2019/2020 seja tão eficiente quanto chamarmos uma taróloga para ver para onde vai o mercado de açúcar, o fato é que o consenso aponta para 540 milhões de toneladas de cana.
Outro ponto de sustentação é a moeda brasileira. O real tem sofrido com o conturbado cenário eleitoral. Quando um candidato de esquerda aparece com legítima possibilidade de avançar até o segundo turno das eleições presidenciais, mais o real se desvaloriza. Temos um quadro indefinido e bastante segmentado, já que o nome que lidera as pesquisas (se alguém acreditar nelas) é o de um bandido e criminoso condenado e já atrás das grades.
A candidatura do maior criminoso do país foi rejeitada nesta sexta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral colocando um freio nas especulações que o presidiário pudesse concorrer às eleições. Boatos como esse (do chefe da quadrilha poder vir a ser candidato) só ajudam o mercado financeiro a vender mais proteções e enfiar goela abaixo todo tipo de estrutura esdrúxula com um prêmio de volatilidade que o comprador nunca vai recuperar. Enfim, pode ser que a pressão sobre a moeda brasileira se asserene um pouco já a partir da segunda-feira.
Uma parte dos fundos que estão vendidos, fazem parte da operação long/short que consiste em ficar comprado determinada commodity (no caso energia, RBOB, petróleo WTI, petróleo Brent) e vendido as soft commodities (café e açúcar, principalmente). Vamos ter que ficar de olho no comportamento do café em NY. Como o café é extremamente sensível em relação ao dólar, a valorização da moeda brasileira (em função do que falamos acima) a partir de segunda-feira (na verdade terça, pois segunda é feriado nos EUA) pode fazer com que os fundos tomem lucro na posição vendida que possuem no café. Se essa recompra contaminar também o açúcar, podemos continuar a assistir uma recuperação de preços.
Se o mercado aposta que o hidratado pode atingir um preço máximo de R$ 2,0500 por litro na entressafra, ou seja, em dezembro/2018 e janeiro e fevereiro/2019, esse valor representa (se for mantida a relação mínima de 65%% entre hidratado e gasolina), o açúcar em NY precisaria subir para 14.38 centavos de dólar por libra-peso. Como dissemos no último comentário semanal, por vezes o mercado em NY pode negociar com até 100 pontos de desconto. Dessa forma, em tese, NY deveria chegar até 13.38 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, o mercado teria espaço para subir cerca de 200 pontos no período dezembro/janeiro/fevereiro. Façam suas apostas, senhoras e senhores (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)