17/06/2019

Milho e Petróleo em trajetórias opostas inibem alta do açúcar

 Milho e Petróleo em trajetórias opostas inibem alta do açúcar

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de etanol de milho nas bolsas americanas subiu quase 21% nos últimos trinta dias. O milho subiu mais de 23%. Essa situação – reflexo da quebra de quase 9% da safra de milho prevista pela Secretaria de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) – deve se constituir em preços proibitivos para o Brasil que esperava importar etanol proveniente do mercado americano para atender ao consumo de combustível do Norte/Nordeste brasileiro.

Preços mais altos do etanol de milho no mercado internacional abrem espaço para eventual exportação de etanol brasileiro, agora mais competitivo. Ou seja, como resolver essa intrincada equação de oferta e demanda do etanol?  A solução virá via preço. Etanol mais caro aqui, significa menos açúcar disponível lá fora.

A percepção entre os operadores de mercado é de que o Brasil vai otimizar ao máximo possível a produção de etanol, produto que dá maior rentabilidade. Nem poderia ser de outra maneira. Resta saber se estamos no limite de produção, isto é, se o limite do mix esbarra em 35%.

Aos poucos o mercado físico de açúcar se antecipa à situação de provável disponibilidade reduzida e reflete na negociação do spread entre os vencimentos julho e outubro na bolsa de NY, que já estreitou de maneira bastante robusta durante a semana. Em outras palavras: o estreitamento do spread denota preocupação por parte dos participantes do mercado acerca da disponibilidade do produto no curto prazo, mas pode também ser reflexo da rolagem dos fundos que estão vendidos e para empurrarem a posição para o vencimento seguinte, recompram o julho e vendem o outubro afetando o spread entre os dois meses. Durante a semana, o volume de spread negociado na bolsa ultrapassou 75% de todo o volume negociado no dia.

Se por um lado, etanol e milho trazem suporte indiretamente ao mercado de açúcar, por outro, petróleo e gasolina despencam no mesmo período, embora não com a mesma magnitude. Os mercados de petróleo WTI e Brent caíram 13.5% e 12.5% em um mês, respectivamente. A gasolina (RBOB) caiu 11.75%.

A combinação desses fatores opostos, em tese, trouxe neutralidade ao preço do açúcar, pois se, por um lado, o aumento do etanol de milho indica que o N/NE terá que “importar” etanol do Centro-Sul, a gasolina mais barata pressiona a arbitragem com o etanol no posto de abastecimento. Isso, em tese, porque como bem observou um especialista do mercado, os postos dão maior desconto ao etanol ao consumidor em função da margem maior que obtém com o produto, comparativamente à gasolina e o giro é maior pois o consumidor “visita” mais o posto para abastecer seu veículo.

Na sexta, o mercado futuro de açúcar em NY acabou encerrando a semana com o vencimento julho/2019 cotado a 12.75 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 24 pontos na semana (5.30 dólares por tonelada) enquanto os fundos – segundo um conhecido corretor de NY – devem ter reduzido a posição vendida em 100,000 contratos (ainda enorme).

O açúcar em NY continua negociando no equivalente a 1,100 reais por tonelada FOB. Enquanto ainda existir fixações pendentes de outros meses de vencimento que foram roladas para julho e outubro com o intuito de aproveitar eventual recuperação do mercado, vamos assistir a uma certa pressão dos preços perto de R$ 1,150 – 1,200 o que pode limitar uma eventual recuperação do preço. No entanto, acreditamos que conforme a moagem evolui e mais claro ficar acerca do mix de produção, do real volume de cana e do ATR abaixo da expectativa, o mercado deve buscar 14 ou quem sabe mesmo 15 centavos de dólar por libra-peso no último trimestre do ano.

Para as usinas, a ordem do dia é ficar atenta ao dólar e as oportunidades de fixação nos picos de preço. Para os consumidores industriais, estão diante de uma excelente oportunidade de fixar o preço da matéria-prima e/ou diminuir custo de aquisição via venda puts (opções de venda) com preço de exercício fora-do-dinheiro.

Uma eventual recuperação no preço do petróleo no mercado internacional pode elevar o preço de importação de gasolina e o etanol mudar de patamar de preço internamente, apesar da plena safra. Nós dissemos aqui que ficar vendido a descoberto a 12 centavos de dólar por libra-peso requeria uma alta dose de coragem.

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