Participação asiática na exportação de carne bovina gera otimismo e alerta
Por Thiago Bernardino de Carvalho
A China é uma parceira muito importante do Brasil e a participação do país asiático nas vendas de produtos do agronegócio nacionais tem crescido. Segundo pesquisas da equipe de macroeconomia do Cepea, de janeiro a abril deste ano, pouco mais de 37% de todo o volume do agronegócio exportado pelo Brasil teve como destino a China. Como comparação, nos primeiros quadrimestres de 2019 e de 2018, a parcela chinesa correspondia a 30% das exportações totais de produtos do agronegócio.
No caso da carne bovina, segundo dados da Secex, especificamente em maio, quase 65% das exportações brasileiras tiveram como destino China e Hong Kong. No mesmo mês de 2019, essa região asiática correspondia por 40,7% das vendas brasileiras. De um modo geral, pode-se afirmar que essa parcela mensal registrada em maio foi a maior para um único destino.
Até então, a maior participação da China e Hong Kong, juntos, num único mês havia sido verificado em dezembro de 2019, quando 63,3% das 173,64 mil toneladas embarcadas pelo Brasil foram enviadas ao destino asiático.
Essa participação da China junto a Hong Kong nos embarques brasileiros de carne bovina gera otimismo ao setor pecuário, especialmente neste atual momento de poder de compra enfraquecido da população brasileira – e da potencial piora desse cenário. A boa performance das vendas externas tem favorecido a sustentação dos preços domésticos da arroba do boi gordo ao longo de 2020, em torno de R$ 200,00. Essa firmeza nos valores domésticos da arroba, por sua vez, traz certo alento ao setor neste momento que também registra custos em alta (dólar elevado e consequente encarecimento de insumos importados, bezerro em patamar recorde real e milho e farelo de soja valorizados), possibilitando que pecuaristas planejem seus investimentos para o segundo semestre.
As exportações de carne bovina aquecidas também têm ajudado o desempenho de todo o ramo pecuário nacional. Cálculos do Cepea realizados em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) indicam que, no primeiro trimestre de 2020, o PIB deste ramo cresceu expressivos 6,11%, contra avanço de 1,91% no agrícola. Diante disso, o PIB do agronegócio nacional aumentou 3,29% no período.
Por outro lado, essa forte dependência da China e de Hong Kong gera um importante alerta. Exportações concentradas em um único destino estão suscetíveis a eventos sanitários ou político-econômicos.
E a Rússia é um exemplo disso. Em 2017, o país era destino de 40% de toda a carne suína exportada pelo Brasil e de 11% da carne bovina e, no final daquele ano, suspendeu as importações de ambos produtos do País, alegando um fator sanitário. Ainda que a relação comercial entre estes países tivesse um histórico importante e estratégico até aquele momento, o embargo durou tempo suficiente para gerar perdas significativas, especialmente a suinocultores e agroindústrias brasileiras.
Assim, verifica-se que este é um oportuno momento para que indústrias brasileiras busquem ampliar e diversificar seus demandantes, ainda que a atual crise mundial por conta da pandemia de coronavírus possa limitar a conquista de possíveis novos mercados ao Brasil.
O que tem a favor do País é a carne mais competitiva, favorecida pelo patamar elevado do câmbio. Além disso, os contínuos casos de Peste Suína Africana (PSA) tanto na Ásia quanto em países da Europa e da África e casos recentes de febre aftosa na China podem sustentar a demanda internacional e direcionar novos compradores ao Brasil (Thiago Bernardino de Carvalho é pesquisador do Cepea; colaborou Alessandra da Paz, coordenadora da Comunicação do Cepea; Assessoria de Comunicação, 22/6/20)