1 bilhão de toneladas e 1 US$ trilhão: a meta para o agronegócio
Por José Luiz Tejon Megido e Roberto Rodrigues
Que conselho um homem com 104 anos daria para um jovem do agro hoje? “Não se afaste da ciência e confie no mercado“. Assim aconselhou o Dr. Fernando Penteado Cardoso, fundador da Manah e da Fundação Agrisus, com a síntese da sua sabedoria centenária.
Da ciência conhecemos, adaptamos, criamos e dominamos com inteligência a tecnologia para tornar o Brasil o país campeão mundial da segurança de alimentos e agroenergia.
Do mercado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) anunciou sermos o único país do mundo com condições de aumentar em 41% a atual produção de alimentos em 10 anos, enquanto o crescimento mundial seria de 20%.
Visionários, pioneiros, cientistas e empreendedores (como Fernando Penteado Cardoso, ou Ney Bitencourt de Araujo, da Agroceres, que em 1983 sonhava com o Brasil produzindo 100 milhões de toneladas de grãos) mudaram a agropecuária da década perdida dos anos 80, promovendo revoluções no campo como o plantio direto, a “safrinha”, a genética de aves e suínos e a das sementes, a agricultura de baixo carbono, a mecanização, enfrentaram a crise do petróleo com o pró álcool, etc.
Com isso, chegamos aos anos 90 criando a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) com o conceito de agribusiness da Universidade Harvard; uma visão sistêmica do antes, dentro e pós-porteira das fazendas; e depois inaugurando na FEA-USP, o Programa de Estudos do Setor Agroindustrial (PENSA). E o sonho nascido das dificuldades e das imperfeições vencia um primeiro estágio: passamos a exportar alimentos.
Chegou a hora impor uma meta: um bilhão de toneladas de produtos do agro brasileiro com um trilhão de dólares de valor.
O bilhão de toneladas já é realidade, embora nem todos percebam. Nossos números são impressionantes: mais de 230 milhões de toneladas de grãos, 620 milhões de toneladas de cana, 62 milhões de sacas de café, 273 milhões de caixas de laranja, 28 milhões de toneladas de carnes (10 da bovina, 14 de aves, 4 da suína, e vem aí o pescado), 37 bilhões de litros de leite, mais de 30 bilhões de litros de biocombustíveis, cerca de 45 bilhões de ovos, 13 milhões de toneladas de hortifruti, sem contar a madeira (com papel e celulose), mandioca, palma, borracha, cacau e assim por diante.
Em 2018, exportamos US$ 101 bilhões, 5 vezes mais do que no ano 2000, e nesse período a crise de 2008/10 reduziu o comércio mundial!
Mas agora precisamos de uma meta sistêmica para todo o agronegócio envolvendo suas cadeias produtivas.
Ao somarmos a economia do antes da porteira (ciência, tecnologia, máquinas, defensivos, fertilizantes, sementes, produtos veterinários e serviços) com o valor bruto da produção agropecuária, dentro da porteira e ainda adicionando as receitas produzidas com o pós-porteira das fazendas (agroindústria, processamento, distribuição, comércio e serviços, incluindo sistema financeiro, bolsas, educação, agregação de valor), chegamos a um total de cerca de US$ 500 bilhões (dependendo da taxa do câmbio e dos fatores computados dentro da cadeia do agronegócio).
O PIB do Brasil oscila em torno de US$ 2 trilhões, dos quais 25%, portanto, vem do nosso agro. Mas se somarmos todos os impactos gerados pelo agronegócio diretamente, desde o pet food dos nossos cães e gatos numa expansão geométrica, cruzando os sinais de satélite, a digitalização, o novo Watson agro da IBM, com o valor do Ifood, deliveries, indústria de eletroeletrônicos ligados ao agro, veremos que o porcentual do agronegócio é maior.
Eis então o tema: seria apenas uma aspiração sonhadora a meta de dobrarmos o tamanho do agro nacional, ou uma questão estratégica e vital?
Qual outro macro setor do Brasil tem condições científicas, tecnológicas, recursos humanos, empreendedorismo e cooperativismo para contribuir decisivamente com a eliminação da fome no mundo, e assim permitir que o PIB do país cresça cerca de 4% ao ano, chegando perto de 2,5 trilhões em 5 anos?
O Brasil não resistirá, nenhum governo sobreviverá se não crescermos. Sendo assim, o sonho do “1 trilhão de dólares” do nosso agronegócio nos próximos 5 anos é realizável, sobretudo considerando que o agribusiness global vale 20 trilhões de dólares!
Mais que um sonho ou desejo, a realidade é que se não dobrarmos o tamanho do agronegócio brasileiro, não vamos crescer, e seremos dobrados pela recessão e pela depressão. O bilhão de toneladas já temos!
Aumentar o PIB em 4% ao ano, criando e distribuindo renda às quase 90 mil lojas de supermercados, transformando-as em pontos de educação alimentar do consumidor, serão realidades se soubermos discernir entre sonho e ilusão. Sonho é o desejo veemente, é tudo aquilo que fazemos com a realidade enquanto sonhamos. Ilusão, ao contrário, é o engano dos sentidos e da mente, é tudo o que a realidade faz conosco enquanto nos iludimos.
O bilhão e o trilhão: meta estratégica de uma política de estado em parceria entre o público e o privado. O livro “Agro é Paz” produzido pela Cátedra do Agronegócio da USP tem uma clara receita para isso.
Se decidirmos agora “o que e porque fazer“, juntos descobriremos o “como realizar”. Agora, pois, avancemos! (José Luiz Tejon é coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e Roberto Rodrigues é coordenador da GVAgro e Embaixador da FAO para as Cooperativas; Canal Rural, 18/6/19)