A Amazônia é nossa? - Por Antonio Cabrera
FOTO ANTONIO CABRERA - DIVULGAÇÃO
Em ação preventiva, o Exército teve que realizar uma movimentação pesada de tropas até Roraima. Nessa operação ficou clara a nossa extrema vulnerabilidade na defesa da Região Norte.
Certa feita, quando visitava um dos cemitérios na Europa de soldados americanos que tombaram no desembarque da Normandia, um europeu tentou me repreender quando eu explicava aos meus filhos o sacrifício daqueles jovens, dizendo: “Foi uma estupidez. Milhares de rapazes se mataram para se apoderarem de pontes sem a menor importância”. É claro que hoje, para esse europeu, um cidadão que vive em uma segurança conquistada com as vidas de outras pessoas, ele pode levianamente considerar pontes como não tendo “a menor importância”. Mas, numa situação de guerra, o controle sobre as pontes, estradas ou ferrovias pode representar uma questão de vida ou de morte para os exércitos, e consequentemente para o destino de nações inteiras.
Pois bem, recentemente, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, promulgou uma lei para anexar à Venezuela o território de Essequibo, que pertence de fato à Guiana. Essa região, rica em petróleo e minerais, representa cerca de 70% do território da Guiana. Maduro chegou a produzir um novo mapa da Venezuela com parte do território guianense já anexado ao país. Se Maduro concretizar essa aventura maluca, ele pode se sentir tentado em usar o território brasileiro para a passagem para a Guiana. Para tanto, em uma ação preventiva, o Exército brasileiro teve que realizar uma movimentação pesada de tropas até Roraima. Nessa operação, ficou clara a nossa extrema vulnerabilidade na defesa da Região Norte. Como o Aeroporto de Boa Vista não pode receber aviões de grande porte, os equipamentos tiveram que ser enviados até Manaus e, de lá, foram por rodovia até Roraima.
Manaus, por exemplo, é uma capital brasileira que não tem conexão por asfalto com o resto do País, pois ativistas ambientais impedem a pavimentação da BR-319. Vide o desastre que foi o abastecimento de oxigênio durante a pandemia para Manaus. Outra obra fundamental na logística brasileira que também sofre ataques de ativistas é a Ferrogrão. É claro que ela é importante para o agronegócio, como eu tenho defendido, mas é assustador que as nossas autoridades militares não saem a público para mostrar a grande importância estratégica da Ferrogrão na movimentação de tropas e equipamentos pesados para a Região Norte em caso de necessidade de mobilização militar ou conflito.
Enquanto escrevo este texto, estou viajando a 190 quilômetros por hora na Ferrovia Transcaspiana, ligando o Turcomenistão e Uzbequistão e seguindo pela antiga Rota da Seda. Mas você sabe por que esta ferrovia foi construída? Ela foi iniciada em 1879, após a anexação do Canato de Cocande. Teve o propósito de facilitar que o Exército Imperial Russo se locomovesse em ações contra a resistência local ao seu domínio. Posteriormente, em 1888 começou a estimular as exportações de algodão ou propósitos econômicos.
Os brasileiros precisam entender que a atividade mais importante do governo federal é prover a defesa nacional. Onde estão os nossos líderes nesse assunto primordial da nossa soberania? Esse ativismo ambiental e jurídico é uma brincadeira com fogo para o Brasil. E pode custar muito caro para o nosso futuro (Antonio Cabrera foi ministro da Agricultura e Reforma Agrária; Estadão, 19/6/24)