29/03/2018

A grande virtude de São José – Por Tarcisio Angelo Mascarim

A grande virtude de São José – Por Tarcisio Angelo Mascarim

Lendo a Bíblia, em Mateus 1:16-25 constatamos a grande virtude de São José: o silêncio. Acompanhe comigo:

“16 – Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que é chamado o Messias. 17 – Assim as gerações desde Abraão até Davi são catorze; de Davi até o exílio na Babilônia, catorze gerações; e do exílio na Babilônia até o Messias, catorze gerações.

O começo de uma nova história: 18 – A origem de Jesus, o Messias, foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 – José, seu marido, era justo. Não queria denunciar Maria e pensava em deixá-la, sem ninguém saber. 20 – Enquanto José pensava nisso, o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: ‘José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 – Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados.’ 22 – Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 – ‘Vejam: a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco’. 24 – Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado: Levou Maria para casa. 25 – e, sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho. E José deu a ele o nome de Jesus”.

Baseado no site padrepauloricardo.org, explico o que São José nos ensina com seu silêncio.

“‘Quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome a este glorioso Santo por mestre e não errará no caminho’”. Isso é Santa Teresa d’Ávila, grande doutora da Igreja, falando de São José, pai virginal de Jesus.

Comecemos por procurar entender o que significa a recomendação desta santa, de ter São José como ‘mestre de oração’. Se nos fosse dado o conselho de ouvir talvez um apóstolo, cujos atos estão pormenorizadamente narrados na Bíblia, ou ler os escritos de um santo doutor, como Agostinho ou Afonso de Ligório, pouca dificuldade teríamos em aceitá-lo. Afinal de contas, é ofício do mestre ensinar, seja oralmente, como fizeram os primeiros discípulos de Cristo, seja por escrito, como fizeram tantos outros depois deles. O silêncio é o grande ‘porteiro da vida interior’, sem o qual é absolutamente impossível ter intimidade com Deus.

De São José, no entanto, se é possível aprender com alguns dos poucos atos de sua vida relatados nos Evangelhos (cf. Mt 1, 16.18-24; 13, 55; Lc 2. 41-51; 3, 23), de sua boca não temos nenhuma palavra, nem uma sequer, que nos tenha chegado ao conhecimento. Trata-se, sem dúvida, de uma das personagens mais importantes do Novo Testamento, mas também uma das quais menos se fala.

Por isso, outra conclusão que podemos tirar das palavras de Santa Teresa é que São José, diferentemente da maioria dos mestres, tem algo a ensinar-nos não tanto com suas palavras, mas justamente com seu silêncio.

Esse silêncio de que queremos falar, porém, não é tanto a ausência de palavras, ou um ‘simples mutismo’, como se manter de boca fechada fosse, por si só, prova e indicativo de virtude. O silêncio de São José só nos ensina se considerarmos a grandeza do mistério que o circunda.

Nas palavras do Pe. Federico Suárez Verdeguer, em ‘José, esposo de Maria’: José encontra-se perante um mistério de um Deus feito homem, de uma Virgem que concebe sem obra de varão, e de uma eleição – a que Deus fez dele – para velar o mistério e proteger os seus protagonistas. Que ia ele dizer ante semelhante prodígio, um homem simples, um artesão de uma aldeia perdida num canto do Império, ao ver-se não somente espectador do mais maravilhoso sucesso ocorrido desde a criação do mundo mais implicado nele, por um particular desígnio de Deus?

Não se fala quando se está imerso na contemplação do divino, quando a grandeza do que se está a contemplar é tal que qualquer palavra se torna trivial, uma vez que o acontecimento ultrapassa completamente a pessoa e o que ela pode dizer.

Para ilustrar esta verdade, de que ‘não se fala quando se está imerso na contemplação do divino’, tomemos como exemplo negativo a reação de São Pedro à Transfiguração do Senhor, narrada há poucos dias na liturgia.

Diante do mistério de Jesus Cristo glorioso, com as roupas brancas e resplandecentes, e com Elias e Moisés a conversar com Ele, Pedro faz ao Senhor um comentário totalmente despropositado: ‘Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.’ É claro que nada do que está na Bíblia foi escrito e chegou até nós em vão. Mas que Pedro ‘nem sabia o que estava dizendo’ é o próprio evangelista Lucas quem o declara.

Disso aprendemos que, diante de um acontecimento que ‘ultrapassa completamente a pessoa e o que ela pode dizer’, melhor resposta não há do que silenciar-se, deter-se diante do que se está a contemplar e guardar o que se tem diante dos olhos bem no fundo do coração: Secretum meum mihi, ‘o meu segredo para mim’ (Is 24, 16 na Vulgata).

São Pedro naturalmente mudaria muito depois deste episódio no monte Tabor. Ao longo de sua vida apostólica, até o martírio, ele certamente ainda pararia muitas vezes para meditar sobre aquele grande milagre que havia presenciado. São José, no entanto, desde o começo fez aquilo que os Apóstolos só começariam a fazer de fato em Pentecostes. Ele, a exemplo de Maria de Betânia, tinha escolhido a melhor parte (cf. Lc 10, 42). Daí a conveniência de lhe chamarmos ‘mestre de oração’: com seu silêncio, S. José aponta-nos para o grande ‘porteiro da vida interior’, sem o qual é absolutamente impossível ter intimidade com Deus.

Para haver verdadeiro e frutuoso silêncio em nossas vidas, no entanto, não basta que procuremos nos recolher um momento ou outro de nosso dia, voltando depois a incontáveis barulhos e agitações voluntárias. ‘Não há nada que perturbe tanto a clara visão da alma como a turbulência provocada pelas preocupações triviais e pelo enxame de banalidades que atraem a nossa atenção e que tornam o homem tão ligeiro como inconstante’.

Nada mais é do que aquele zumbido que nos atazana o dia inteiro, comprometendo até mesmo a nossa vida de oração; aquele monte de informações jogadas ao mesmo tempo nas redes sociais e que vamos absorvendo superficialmente de tudo um pouco, sem nos aprofundarmos em nada; aquele punhado de notícias que nos mantêm aparentemente ‘atualizados’, mas que nos vão tornando espiritualmente defasados, mornos, imprestáveis.

Talvez esteja na hora de nos retirarmos um pouco mais do mundo frenético da internet e nos recolhermos no santuário de nossa alma, onde Deus habita e quer falar conosco. Este é o único conhecimento verdadeiramente necessário; todos os outros, por mais elevados que pareçam, não passam de ‘vaidade das vaidades’ (Ecle 1, 2). ‘Todos os homens naturalmente desejam saber’, diz a Imitação de Cristo. ‘Mas para que serve a ciência sem o temor de Deus? E ainda: É preferível o humilde camponês que serve a Deus ao orgulhoso filósofo que observa os movimentos dos céus’.

Quem melhor pode representar este ‘humilde camponês’ que São José, o artesão simples e recolhido de Nazaré? Peçamos a ele aquilo que nos recomendava Santa Teresa d’Avila: que ele seja ‘mestre de oração’ para nós. Prefiramos perder tudo, morrer completamente para o mundo, se for preciso, ser ignorados por todas as pessoas, longe do ‘enxame de banalidades’ de que está cheia a internet, contanto que vivamos para Deus. ‘Que os homens jamais falem de nós, contanto que Jesus Cristo fale um dia.’”

Encerrando, vamos pedir, novamente, ao Papa Francisco que, com seus padres e bispos, consiga junto ao povo o cumprimento do projeto de Deus, segundo o qual o povo de Deus deve tê-Lo como único Senhor, conviver com as pessoas na fraternidade e repartir as coisas criadas por Ele para todos (Tarcisio Angelo Mascarim é sócio e administrador da Mascarim & Mascarim Sociedade de Advogados. Leia mais artigos no www.tarcisiomascarim.com.br)