A pandemia e os paradigmas energéticos – Editorial O Estado de S.Paulo
O impacto do coronavírus serve para lembrar que mudanças no setor de energia são parte fundamental no desenvolvimento de economias mais produtivas, inovadoras e sustentáveis.
Ante o impacto do novo coronavírus, a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) vem revendo as perspectivas e estratégias para o setor. Numa série de artigos recém-publicados, a IEA aponta três aspectos críticos: a eletricidade é mais indispensável do que nunca; a energia limpa deve estar no coração dos pacotes de revitalização da economia; e a turbulência aprofunda os desafios para os produtores de gás e petróleo.
Neste momento, centenas de milhões de pessoas estão confinadas em suas casas, recorrendo à rede digital para fazer seu trabalho, abastecer sua família e se entreter. Os sistemas hospitalares tentam aumentar sua capacidade de atendimento e, sobretudo, a oferta de respiradores artificiais. Os governantes precisam garantir uma rápida comunicação com os cidadãos. Tudo isso depende do suprimento de eletricidade.
Apesar disso, a demanda de eletricidade declinou 15% em razão da pausa nas fábricas e serviços. Rupturas bruscas no equilíbrio entre a oferta e a demanda podem provocar blecautes. A crise serve para lembrar os governos da necessidade de investir na flexibilidade dos sistemas, garantindo a sua resiliência em condições extremas.
A combinação da pandemia com a volatilidade dos mercados tende a distrair a atenção dos gestores, empresários e investidores das tecnologias renováveis – solar, eólica, hidrogênio, baterias e sequestro de carbono. Mas elas devem ser centrais nos planos de governo porque podem trazer os “benefícios gêmeos” de estímulo às economias e aceleração da transição para energias limpas. O progresso na transformação da infraestrutura não será temporário e fará diferença para o futuro.
O maior choque ocorre no setor de petróleo e gás. A demanda está colapsando enquanto a oferta, já superabundante, cresce expressivamente. Em alguns países, esta é uma fonte vital para os orçamentos nacionais. A crise expõe os riscos associados a economias pouco diversificadas, baseadas nos preços voláteis das commodities.
O impacto da pandemia serve para lembrar que mudanças no setor de energia são parte fundamental no desenvolvimento de economias mais produtivas, inovadoras e sustentáveis. O processo é complexo, mas um setor de energia eficiente pode ser um ativo durável para a cadeia de produção, fornecendo parte do capital e do know-how necessária para um crescimento diversificado (O Estado de S.Paulo, 31/3/20)