18/12/2019

A política de Estado no etanol dos EUA e a política neoliberal no Brasil

A política de Estado no etanol dos EUA e a política neoliberal no Brasil

Por Andre Motta Araujo

O Brasil no Governo Geisel descobriu o etanol combustível, mas hoje o maior produtor e exportador mundial de etanol combustível são os Estados Unidos, enquanto o Brasil virou importador de etanol dos EUA e tem quase metade de suas usinas de açúcar e álcool em recuperação judicial e semi quebradas.

A diferença está no campo da POLÍTICA.

Os EUA trataram o etanol como questão de segurança energética, despejando subsídios de US$145 bilhões desde 2000 em benefício da indústria americana de etanol. A primeira tarifa sobre etanol importado nos EUA, de 54 cents por galão, teve como objetivo declarado impedir a entrada de ETANOL BRASILEIRO, então iniciando exportação para os EUA. Invés de permitir a importação de etanol do Brasil, os EUA resolveram desenvolver sua própria indústria de etanol, COMO POLÍTICA DE ESTADO através de mega subsídios a razão de US$9 bilhões por ano.

Enquanto isso, a partir do Governo Collor foi extinto o INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL e a até então próspera indústria sucroalcooleira do Brasil foi largada ao mercado, resultando no fechamento de grande número de usinas independentes, grandes geradoras de empregos e que hoje estão ou falidas ou em recuperação judicial ou vendidas a grupos estrangeiros, desintegrando um setor com 400 anos de história e elemento central do nascimento e desenvolvimento da economia brasileira, indústria grande empregadora, hoje sem qualquer política de Estado, enquanto nos EUA toda a política do etanol está sob controle e incentivo do DEPARTAMENTO DE ENERGIA. Com isso a produção de etanol nos EUA, em 2018, chegou a 101 bilhões de litros, TRÊS VEZES a produção brasileira de 33,1 bilhões de litros, segundo última estatística disponível, sendo evidente que com muitas usinas paralisadas, semi ociosas ou quebradas o Brasil teria capacidade de produzir muito mais se houvesse uma política de Estado para o setor.

 

A INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA NO BRASIL

Nos EUA são 203 as usinas de etanol, associadas a Renewable Fuels Association, no Brasil as usinas de açúcar e álcool e as destilarias independentes de álcool beiram a 393 unidades. Em alguns Estados a situação após o fechamento do IAA foi trágica. O Estado do Rio perdeu suas 14 usinas, o Estado de Alagoas com 27 usinas mantém apenas 3, em Pernambuco o fechamento de usinas tradicionalíssimas como a Catende e a Santa Therezinha destruiu regiões inteiras.

Em muitas áreas do Brasil a usina de açúcar era a maior empregadora, a maior contribuinte de impostos, a maior geradora de atividade econômica pela compra de cana e outros insumos. Enquanto nos EUA o Estado patrocinou a nascimento de uma nova indústria de etanol, a PARTIR DO ZERO, o Brasil neoliberal deixou destruir vastas áreas e unidades produtivas que poderiam fazer o país ser o maior produtor e exportador mundial de etanol.

Os EUA adotaram uma política de adição do etanol à gasolina à razão de 1% em 2000, 3% em 2006 e a partir de 2011 em 10%, TUDO POLÍTICA DE ESTADO.

Como a produção de etanol de milho é muito menos econômica do que a de cana, essa nova indústria só nasceu POR CAUSA DE SUBSÍDIOS, quer dizer, por aquilo que os chamados “liberais” vira latas do Brasil acham absurdo, mas que os americanos acham perfeitamente normal. Evidentemente que o Departamento de Energia não foi consultar a Universidade de Chicago para saber a opinião deles sobre o seu PROJETO ETANOL, que fez dos EUA o maior produtor do etanol combustível, inventado no Brasil, criando nos EUA 500 mil novos empregos além de muito contribuir para autossuficiência energética, que é uma POLÍTICA DE ESTADO de Washington. Enquanto isso, no Brasil, os neoliberais burros acham que é tudo mercado, não tem Estado em energia e combustível, a PETROBRAS deve ser vendida, a ELETROBRAS idem, energia é mercado. Washington de Obama a Trump pensa diferente. Hoje, além de importar etanol dos EUA, o Brasil importa também grande volume de gasolina e diesel dos EUA, enquanto nossas refinarias operam com grande ociosidade, “por razões de mercado”, é mais barato importar gasolina e diesel do que refinar aqui, segundo os gênios neoliberais da PETROBRAS.

 

O BRASIL DE EXPORTADOR VIRA IMPORTADOR DE ETANOL

Era o projeto original no Governo Geisel, antes do advento do neoliberalismo com o Governo Collor. Ao tempo do governador Jeb Bush, início do ano 2000, nasceu a ideia de se criar um terminal especial no porto de Miami para armazenar etanol do Brasil e para isso foi criada a Junta Interamericana de Etanol, por ideia de meu amigo Brian Dean, então presidente do Instituto Republicano Internacional, braço externo do Partido Republicano. A iniciativa deu partida, mas aí surge o grande projeto do etanol americano pelo Departamento de Energia e hoje o Brasil em vez de exportar etanol para os EUA IMPORTA etanol dos EUA com tarifa zero, sendo que nosso etanol FOI BARRADO nos EUA por tarifa e sobretarifa de 54 cents por galão a partir de 2001.

Hoje, EUA e Brasil juntos são os maiores produtores mundiais de etanol combustível, os EUA com quase 77% da produção mundial, sendo zero em 1995.

E ainda tem vira latas neoliberais no Brasil que condenam veemente a presença do Estado no setor de combustíveis, acham que tudo é mercado.

É uma grande ironia o Brasil hoje importar etanol de milho dos EUA em grande escala, com tarifa zero, depois deles barrarem nosso etanol com sobretarifas para proteger o etanol deles que sem o “tax credit” altíssimo é economicamente inviável, o etanol americano só existe porque há subsídio do Estado (Jornal GGN, 17/12/19)