19/04/2023

A postura de Lula, o “exército de Stédile” e o “Abril Vermelho”

A postura de Lula, o “exército de Stédile” e o “Abril Vermelho”

Stédile e Lula - Foto Brasil de Fato Guilherme Santos

Por José Fucs

É difícil imaginar que, depois de cinco dias de viagem com Lula, o líder do MST tenha agido sem receber o sinal verde do presidete.

Depois de uma relativa calmaria nos últimos anos, a retomada da invasão de terras produtivas privadas e de prédios públicos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e por seus aliados, reforçada pelas ocupações realizadas neste domingo, 16, como parte do chamado “Abril vermelho”, traz de volta o clima de insegurança no campo que muitos imaginavam ter ficado para trás.

Integrantes do MST em propriedade invadida em Caruaru (PE), no domingo, 16 de abril. Foto Reproducao MST-PE

Amparadas na ideia de que aos chamados “movimentos sociais” tudo é permitido, sem que as organizações e suas lideranças tenham de responder à Justiça pelos atos criminosos que cometem, as invasões “do bem” desempenham um papel relevante para aguçar ainda mais polarização que tem marcado a vida política do País.

O pior – se é que se pode dizer que possa haver algo mais negativo do que isso – é ver que o líder do MST, João Pedro Stédile, que fez parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua viagem à China e aos Emirados Árabes Unidos, pode ter recebido a benção presidencial em suas ações.

 Ainda que se dê a Lula o benefício da dúvida, é difícil imaginar que, ao longo dos cinco dias que passou com ele fora do País, Stédile não tenha lhe falado sobre as ocupações que seriam promovidas no domingo e que tenha agido sem receber o sinal verde do presidente.

Afinal, Lula e o PT sempre andaram de mãos dadas com Stédile e o MST. Quem é que não se lembra, por exemplo, da ameaça de Lula de colocar o “exército do Stédile” nas ruas para defender o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, durante uma manifestação de apoio à Petrobras, em 2015, no auge do petrolão?

Num momento em que o País busca cicatrizar suas feridas para fortalecer a democracia e o Estado de Direito, ações como as empreendidas pelo MST deveriam ser alvo de uma rejeição generalizada das autoridades constituídas, para que não pairem quaisquer dúvidas sobre a postura do presidente, do governo e dos demais Poderes em relação à questão.

No Brasil que se pretende construir, não pode haver espaço, nem de um lado nem de outro, para a barbárie e para a “passada de pano” para os “companheiros” (Estadão.com, 18/4/23)