A união das agtechs com grandes empresas está na vanguarda do agronegócio
Por Álvaro Duarte
A agricultura sempre foi uma força motriz para o desenvolvimento de tecnologias. Foi em prol do plantio que sociedades antigas desenvolveram cálculos, sistemas de irrigação e distribuição de plantações para alimentar todos da melhor forma e com mais eficiência. Atualmente, milhares de anos depois, as necessidades do campo ainda motivam a pesquisa e elaboração de novos meios para prolongar a produtividade e economia de recursos. A diferença é que hoje temos drones e inteligência artificial.
No Brasil, país no qual em 2018 o setor agro impulsionou um avanço de 2,5%, no PIB (Produto Interno Bruto), registrando R$61,9 bilhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são atuantes 182 agtechs, segundo mapeamento da ABStartups (Associação Brasileira de Startups). Por agtechsnos referimos às empresas novas de tecnologia destinadas a sanar problemas que ocorrem durante a operação no campo, ou seja, startups do agronegócio. Existe uma tendência mundial na conexão entre grandes empresas e startups, não somente no agronegócio, mas em todas as áreas que envolvem desenvolvimento de novas soluções digitais.
Antes do advento das agtechs, já haviam no mercado as estabelecidas grandes empresas do setor. Estes nomes conhecidos e com anos - muitas vezes décadas- de atuação, se unem cada vez mais com as novas empresas para juntarem forças e impulsionarem o desenvolvimento de soluções. Nesta dinâmica, por um lado, as agtechs esperam ter sucesso e o retorno financeiro de todo investimento feito para uma nova tecnologia. As grandes empresas, por outro lado, estão sempre procurando inovar, mas muitas vezes preferem procurar algo mais maduro no mercado, cuja prova de conceito, protótipo e modelo de negócio já tenham sido inicialmente desenvolvidos.
Dessa forma, trata-se de uma relação de ganha-ganha quando as duas se encontram. Os resultados são muito frutíferos, pois a agtech ganha um aporte financeiro necessário para crescer e expandir rapidamente, e a empresa tem uma maior segurança de investir em algo com menor risco de dar errado. Como presidente de uma fundação com 40 anos de história e cujo objetivo é incentivar a pesquisas no meio agro e unir pesquisadores, institutos e hubs de inovação, digo que é primordial aproximar empresas às áreas científico-tecnológicas e startups.
Para que estes grandes nomes se sintam atraídos a interagir com as agtechs, elas precisam ser desenvolvidas e com um sólido business plan (plano de negócios). Nossa trajetória de décadas nos permite identificar os pontos fundamentais a serem bem apurados em uma agtech, desde direitos de P.I. (Propriedade Intelectual), valoração da tecnologia a ser oferecida, até chegarmos no match com empresas específicas, identificando as áreas de interesse das mesmas e fazendo este "casamento" entre os dois atores.
Para dar um exemplo prático e real menciono aqui o case de agtech brasileira Grão Direto, cuja função é agilizar a revenda dos itens agropecuários por meio de uma plataforma desenvolvida por eles mesmos. Foi chamada de "Tinder do Agronegócio" e atraiu aporte financeiro da gigante internacional Monsanto. Dentre os desafios que envolvem este processo, a empresa que irá investir precisa se sentir segura para seguir com este investimento. Um ponto importante para que isso ocorra da forma mais saudável possível é a apresentação de números sobre como a agtech irá atingir as metas indicadas em retorno ao aporte financeiro. Outro ponto fundamental é a segurança jurídica do negócio, que deve ser considerada desde a concepção de qualquer startup.
Pelo lado da startup, ela precisa ter segurança no sentido de salvaguardar seus direitos a propriedade intelectual, tais como patentes e marcas, que devem estar devidamente registrados no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
Por fim, penso em como estaremos daqui 10 anos e creio que este será o modus operandi para grandes empresas que querem inovar em um curto espaço de tempo. Ele se baseia no princípio da inovação aberta, onde a empresa não mais realiza P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) dentro de casa, mas procura parceiros com grande expertise em determinadas áreas para que, não só o tempo, mas o investimento em pesquisa, sejam reduzidos de forma significativa. É nítido que, com planejamento e transparência, todos ganham dentro e fora “do campo” (Álvaro Duarte é Diretor Presidente da Fundepag, fundação que aproxima pesquisadores, institutos, hubs de inovação e de novos negócios em expansão e ecossistema de empreendedorismo; também é Pesquisador Científico no Instituto de Tecnologia de Alimentos)