Abates de bovinos começam ano com aceleração
CARNE BOVINA -AGENCIA BRASIL - ARQUIVO.jpg
Frigorífico recebe 3,14 milhões de animais em janeiro, 16% a mais do que em 2023.
O ano de 2024 começa com uma forte aceleração nos abates de bovinos. No mês passado, foram 3,14 milhões de animais, 16,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Essa aceleração dá continuidade ao avanço do ritmo registrado no ano passado, quando haviam sido abatidos 34,3 milhões de cabeças, o maior volume desta década e um patamar 8% superior ao de 2022, conforme dados da Safras & Mercado.
Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria, aponta dois fatores básicos para esse aumento.
Primeiro, os pecuaristas colocaram muito dinheiro recentemente no setor, elevando os investimentos em genética, pastagens e integração lavoura-pecuária. O resultado foi uma maior produtividade e uma melhora na oferta de animais.
Segundo, o país está saindo de um ciclo pecuário em que houve uma maior oferta de vacas para o abate. Os preços externos da tonelada de carne bovina, que atingiram US$ 8.000 por tonelada em alguns contratos de 2022, recuaram para US$ 4.500 neste ano, afetando os valores internos de negociações.
A redução de margem de lucro no setor de cria e recria forçou um descarte maior de fêmeas, ampliado ainda mais pela crise no setor leiteiro. Isso colocou um número maior de vacas a caminho dos frigoríficos.
Iglesias diz que o abate de fêmeas, em 2023, foi 28% superior ao de 2022, conforme acompanhamento do setor pela consultoria.
No segundo semestre, haverá uma redução no descarte de vacas e, a partir do próximo ano, o setor mostrará mais claramente a chegada de um novo ciclo.
Apesar dessa aceleração inicial dos abates, o analista da Safras afirma que o volume deste ano ficará em 34 milhões de cabeças, um pouco abaixo dos 34,3 milhões do recorde de 2023.
A produção de carne se mantém em 9,43 milhões de toneladas, com as exportações subindo para 3,4 milhões de toneladas equivalentes carcaça, 1,7% a mais do que em 2023, segundo estimativas da Safras. Neste mês, as exportações já somam 10,5 mil toneladas por dia útil, 50% a mais do que em fevereiro de 2023, conforme os dados mais recentes da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já mostrava a aceleração dos abates no último trimestre de 2023. Conforme os dados mais recentes do instituto, e que ainda serão atualizados no próximo mês, os abates de outubro a dezembro atingiram 9 milhões de animais, 20% a mais do que em igual período de 2022.
Os dados da Safras para o setor de suínos indicam produção nacional de 5,41 milhões de toneladas de carne neste ano, com exportações de 1,25 milhão. Outros 4,2 milhões de toneladas ficam à disposição do mercado interno.
O setor de suínos cresce rapidamente, segundo Iglesias. Neste ano, os abates deverão atingir 49,6 milhões de animais, bem acima dos 41,3 milhões de 2019.
Para o setor de avicultura, a Safras espera uma produção de 15,1 milhões de toneladas de carne neste ano, com evolução de 0,7% sobre o ano anterior. As exportações ficam próximas de 5 milhões de toneladas, e a disponibilidade interna dessa proteína será de 10,1 milhões.
Para um representante de um dos grandes frigoríficos nacionais, os abates estão elevados, mas a demanda interna segue firme. A carne bovina, com o recuo de preços, ficou mais competitiva em relação às demais do setor.
O ritmo das compras da China, após as festividades do Ano Novo Lunar, dará mais clareza ao setor, afirma.
A POBREZA ARGENTINA
Pelo menos 57% da população da Argentina está em situação de pobreza. Essa taxa acelerou nos últimos dois meses com a chegada Javier Milei, que fez uma liberação dos preços no país.
Tradicional fornecedora de alimentos para o mercado interno e externo, a Argentina passou por uma situação bastante atípica na safra agrícola passada, com fortes quedas nas produções de trigo, soja e milho.
Com isso, um dos principais pesos no bolso do consumidor são os alimentos. Nos últimos 12 meses terminados em janeiro, a alimentação ficou 291% mais cara no país.
Sempre com uma boa oferta de trigo e de arroz, os argentinos viram as condições climáticas no ano passado derrubarem a safra desses produtos. Por causa disso, os preços de pães e de cereais ficaram 318% mais caros.
As condições econômicas e climáticas também afetam a pecuária, o que resultou em um aumento acumulado de 331% nos preços das carnes e dos derivados nos últimos 12 meses. A crise no setor reduziu a produção na pecuária de leite, e os produtos lácteos subiram 279%.
Os argentinos nem tiveram uma válvula de escape na procura por alimentos substitutos. Frutas e verduras ficaram 276% e 179%, respectivamente, mais caras no período, segundo o Indec (instituto de estatísticas e de pesquisa do país vizinho).
No Brasil, segundo o IPCA do IBGE, a inflação dos alimentos foi de 1,38% em janeiro, acumulando 4,51% em 12 meses (Folha, 21/2/24)