Abengoa: Credores esperam em venda de usinas para solucionar dívidas
Bancos e investidores envolvidos na recuperação judicial da Abengoa Bioenergia Brasil esperam receber seus créditos por meio de uma potencial venda das duas usinas da companhia no interior de São Paulo, disseram à Reuters duas fonte próxima ao processo.
Existem quatro “non-disclosure agreements” (acordos de confidencialidade) assinados com potenciais compradores das usinas, disse uma das fontes, que pediu anonimato. Dois dos interessados já atuam no setor sucroalcooleiro, enquanto os outros dois são fundos de investimento.
Embora ainda não exista nenhuma proposta vinculante, espera-se poder chegar a um acordo antes do início da próxima safra de cana, em abril, segundo uma das fontes.
“A ideia é aprovar o plano de recuperação no primeiro semestre”, disse essa fonte.
A BP Biocombustíveis seria um quinta interessado nos ativos, segundo a outra fonte. As tratativas entre a divisão sucroenergética do conglomerado espanhol e a petroleira britânica, porém, são iniciais, segundo essa fonte.
De acordo com análise da Crowe Horwath International, que integra o plano de recuperação judicial da Abengoa Bioenergia, a venda das duas usinas tem como “fator crítico... a capacidade financeira que o proponente deve possuir para propiciar a reestruturação integral da dívida”, mas é o cenário com maior possibilidade para recuperação dos créditos.
Em caso de venda apenas da Usina São Luiz, em Pirassununga, a recuperação seria de 36 por cento, ou cerca de 400 milhões de reais. Já um negócio envolvendo somente a Usina São João, em São João da Boa Vista, recuperaria 30 por cento (335 milhões de reais).
“Os ativos são bons, e a Abengoa quer muito passá-los para frente”, disse a segunda fonte.
“O plano deles (Abengoa Bioenergia) prevê a possibilidade de o comprador negociar diretamente o pagamento do passivo”, acrescentou. A dívida do grupo sucroenergético, que tem entre seus principais credores Amerra Capital, Banco do Brasil, Bradesco, Banco Original e Santander, é da ordem de 1 bilhão de reais, segundo o plano de recuperação.
A Abengoa chegou ao setor sucroenergético brasileiro em 2007 ao adquirir o controle da Dedini Agro por 1,3 bilhão de reais e assumir 730 milhões de reais em dívidas. Suas duas usinas em São Paulo têm capacidade instalada para moer cerca de 6 milhões de toneladas de cana por safra.
Em dificuldades já há alguns anos, com a crise do setor no Brasil, a recessão econômica no país e os próprios problemas da matriz na Espanha, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial em setembro do ano passado.
Em dezembro, a Abengoa Bioenergia apresentou um plano de recuperação que prevê a venda de seus ativos e o pagamento, inicialmente, de todos os credores trabalhistas. Na sequência aparecem as pequenas e médias empresas, no valor de 7,8 mil reais para cada credor, seguidas de credores sem garantia real, créditos fiscais e retenção de 80 milhões de reais para despesas com o processo de recuperação judicial.
A potencial venda dos ativos da Abengoa Bioenergia pode ocorrer em um momento de perspectivas mais favoráveis para o setor sucroenergético do Brasil, depois da sanção da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) pelo presidente Michel Temer no fim do ano passado.
Pelas estimativas do governo, o RenovaBio pode gerar investimentos de 1,4 trilhão de reais e economia de 300 bilhões de litros em gasolina e diesel importados até 2030 --os derivados de petróleo seriam substituídos pelo combustível renovável produzido localmente.
Procuradas, a Abengoa disse que não comentaria o assunto, enquanto a BP Biocombustíveis não respondeu até o momento.
Santander e Bradesco não comentaram. Amerra Capital, Banco do Brasil e Banco Original não responderam de imediato (Assessoria de Comunicação, 29/1/18)