16/12/2021

Acabou o embargo: China libera compra de carne bovina do Brasil

Acabou o embargo: China libera compra de carne bovina do Brasil

CARNE BOVINA -AGENCIA BRASIL - ARQUIVO

Por Mauro Zafalon

Preços internos devem reagir, embora tenham um limite, mas efeitos das exportações começam só no próximo ano.

China deu um belo presente de Natal para o Brasil, mas ele só poderá ser aberto no próximo ano. Essa é a avaliação de participantes desse mercado de proteínas.

Quanto a reflexos para o consumidor, o valor da carne já está precificado, e as alterações serão pequenas, segundo avaliações do Ministério da Agricultura.

Após três meses e meio de interrupção nas compras de carne bovina brasileira, a China anunciou o retorno ao mercado brasileiro. É uma boa notícia, embora os reflexos para o setor só serão sentidos a partir de meados de fevereiro e de março, quando a China é mais ativa no mercado, diz Bruno de Jesus Andrade, diretor de operações do Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne).

Para Ricado Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o anúncio é extremamente positivo para a carne bovina, mas mostra uma retomada de confiança dos chineses no produto brasileiro, o que é bom para todas as proteínas. É um bom presente de Natal para todo o setor, afirma ele.

A volta da China retira uma série de incertezas sobre o mercado brasileiro e elimina as especulações de quanta carne bovina sobraria no país e quais seriam os efeitos disso sobre toda a cadeia de proteínas, principalmente sobre aves e suínos, diz Santin.

Na avaliação do diretor do Imac, porém, os chineses não deverão voltar às compras com o mesmo apetite dos meses anteriores à interrupção, ocorrida em setembro.

Naquele mês, o Brasil exportou 187 mil toneladas de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada. A China ficou com 112 mil toneladas. Um volume recorde.

Na avaliação de Andrade e de Santin, esse apetite menor deverá ocorrer porque eles estão recompondo o rebanho de suínos, além de terem ampliado o leque de fornecedores de carne bovina.

Os reflexos de preços podem ser inevitáveis neste período de final de ano, quando a demanda cresce, há o pagamento do 13º salário e começa a chegar novo auxílio financeiro do governo. O preço da arroba de boi deve reagir e permitir um ajuste nos preços internos das proteínas.

Orlando Leite Ribeiro, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, não vê grandes variações de preços no mercado interno, porque eles já estão ajustados.

Basta olhar que, quando houve a interrupção, os preços internos não caíram, afirma ele.

Para Andrade, não existe perspectiva de que o preço da carne bovina possa cair, uma vez que a oferta está baixa, mas também não há espaço para grandes valorizações.

Os preços já são elevados, e os consumidores estão migrando para outras proteínas. "O que estamos enxergando daqui para a frente, é uma manutenção dos preços", diz ele.

O diretor do Imac acredita que a demanda maior neste final de ano possa pressionar os preços, mas janeiro será um período de possível depreciação, devido aos grandes gastos dos consumidores no início de ano.

Há uma falta de equilíbrio atualmente entre a oferta de animais e a demanda. Esse equilíbrio só virá a partir do segundo semestre de 2022, na avaliação de Andrade.

A volta da China ao mercado brasileiro de bovinos não prejudica aves e suínos, segundo Santin. O preço do boi volta à normalidade e permite mais transparência ao mercado de proteínas. Afetam mais o mercado brasileiro os abates antecipados de suínos na China do que o boi, diz ele.

Os números da China são sempre superlativos e essa normalização de mercado será positiva para todos os setores, afirma o presidente da ABPA.

 Neste ano, a produção de carnes bovina, suína e de aves somam 65 milhões de toneladas na China, ainda insuficiente para o consumo interno. A produção de carne suína ficará em 43,7 milhões de toneladas, para um consumo de 48,6 milhões.

Na avaliação dele, a China ainda será um bom mercado para as proteínas bovina, suína e de aves, em 2022.

A saída dos chineses do mercado brasileiro provocou uma redução média dos preços de exportação da carne bovina brasileira. Antes da interrupção, a tonelada estava em US$ 5.790. No final de novembro, recuou para US$ 4.920.

A arroba de boi, que chegou a R$ 322 em julho, caiu para R$ 254 no final de outubro e esteve em R$ 310 nesta terça-feira (14) (Folha de S.Paulo, 16/12/21)


Recuperação de preço da carne com liberação na China deve demorar, dizem analistas

FRIGORIFICO MARFRIG GROUP LINHA DE PRODUCAO- FOTO Paulo Whitaker Reuters

Legenda: Trabalhador na linha de produção do frigorífico Marfrig Group, em Promissão (SP) - Paulo Whitaker/Reuters

 Consultoria estima que restrição chinesa causou perda de US$ 1 bilhão a exportadores.

A restrição imposta pela China à carne bovina brasileira por três meses e meio provocou perdas significativas para os produtores nacionais, mas é improvável que a liberação do mercado, anunciada nesta quarta-feira (15), leve a uma rápida recuperação dos preços do produto, dizem analistas.

O banco Itaú BBA calcula que o preço médio das exportações de carne bovina caiu 15,5% durante os meses do bloqueio. A perda para os exportadores foi de quase US$ 1 bilhão, estima a consultoria Scot.

Embora o motivo da restrição tenha sido a questão sanitária, a China sempre aproveita para dar uma regulada no mercado", afirma Marcos Jank, coordenador do centro de agronegócio do Insper. "O preço da carne bovina estava pressionando a inflação chinesa, e isso pode ter contribuído para que mantivessem a restrição por mais tempo."

Apesar do prejuízo, o agronegócio brasileiro vai fechar o ano batendo novos recordes. As exportações devem alcançar US$ 118 bilhões neste ano, o que representa um aumento de 17% em relação aos embarques do ano passado, calcula Jank. As vendas para China devem atingir US$ 42 bilhões, equivalentes a 36% do total (Folha de S.Paulo, 16/12/21)


Preço do boi cai mesmo com volta da China, por falta de renda da população

ACOUGUE RIO DE JANEIRO FOTO Mauro Pimentel AFP

Cliente olha para carnes em açougue no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

 Interrupção das compras permitiu que Brasil e China buscassem novos mercados.

Mesmo com a notícia do retorno da China ao mercado brasileiro, a arroba de boi gordo teve redução nesta quarta-feira (15), caindo para R$ 308. No dia anterior havia sido negociada em R$ 310,4.

Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a queda da arroba ocorre porque o atacado não consegue repassar preços para supermercados, e estes para os consumidores.

O repasse ocorre apenas em cortes nobres, mas não em quantidade. Os frigoríficos estão estocados e saem das compras de boi gordo porque não conseguem esse repasse para o varejo.

Dados do Cepea indicam que a chamada carcaça casada, que inclui preços do traseiro, dianteiro e da ponta de agulha, está com recuo de 2,55% neste mês.

Já o valor médio do traseiro, que contém as carnes mais nobres, tem alta de 2,6% no período. No caso do dianteiro, as carnes menos nobres, a queda é de 10,4% no período.

Inflação elevada, patamar atual dos preços da carne bovina e a perda de renda da população não permitem novos reajustes nas proteínas.

Avaliando a ausência da China no mercado do Brasil nos últimos três meses e meio, Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária, afirma que foi um período de ajuda para os dois países. Eles buscaram novos caminhos.

Ambos viram que a dependência exclusiva de apenas um mercado é perigosa, tanto para o vendedor como para o comprador. A China buscou novos fornecedores, e o Brasil, novos compradores.

Para Ricardo França, superintendente de agronegócios do Santander, a pulverização de mercados é essencial para o país. A dependência de vendas para apenas alguns compradores não é conveniente.

Nogueira diz que essa dependência entre os dois mercados ocorreu porque o Brasil tinha o que a China necessitava neste período de peste suína africana no mercado asiático e de pandemia.

A dependência não é boa, inclusive, para os chineses, afirma Nogueira. Eles ficam muito vulneráveis. Um efeito climático severo no Brasil poderá deixar a China sem fornecedor.

As exportações do Brasil, no entanto, são importantes para um equilíbrio também do mercado interno. Elas dão sustentação entre as ofertas para os mercados interno e externo, segundo o diretor da consultoria.

Nogueira acredita em uma expansão da demanda de proteínas nos próximos anos. As margens devem ficar mais equilibradas com a chegada de startups e de grandes empresas que vão aproveitar as oportunidades desse mercado.

 Com isso, toda a cadeia produtiva ganha, e a demanda dos consumidores aumenta, devido à maior oferta e preços mais acessíveis.

E o país tem campo para crescimento da oferta, uma vez que há uma tendência de avanço da produtividade nacional. O Rally da Pecuária, evento que acompanha a pecuária anualmente, detectou que produtores que utilizam tecnologia conseguem um bom avanço.

Em sua décima etapa anual, a expedição do Rally apurou que os produtores acompanhados pelo evento, e que utilizam tecnologia, tiveram um avanço médio da produtividade de 5,7% ao ano na última década. Já a média da pecuária nacional ficou em apenas 2,3%.

Segundo o diretor da Athenagro, os pecuaristas vêm investindo R$ 13 bilhões em produtividade por ano.

Até 2025, devem dobrar esses investimentos, uma vez que o cenário é positivo nesse mercado.
Um dos principais investimentos é em pastagens. O país possui 153 milhões de hectares em uso exclusivo, e 5,9 milhões precisam de reformas. Outros 14 milhões deverão ser recuperados nos próximos anos e 67,5 milhões necessitarão de recuperação em um período de 12 a 48 meses.

A Athenagro traçou alguns cenários entre a pecuária brasileira e as exigências da COP26. No mais otimista, a redução de emissões relativas atingiria 52% por quilo de carne, sendo que as metas globais são de queda nas emissões de 30% (Folha de S.Paulo, 16/12/21)