Ações da PF ajudam venda de carnes especial e orgânica
A procura por carne bovina diferenciada e orgânica tem crescimento contínuo no país. Embora o quilo de picanha seja negociado próximo de R$ 120, o produto é uma exigência de parte dos consumidores.
O setor recebeu, porém, um novo incentivo após as operações da Polícia Federal no mercado de carnes.
Com início em março de 2017, essas operações indicaram desvios nos controles sanitários de alguns frigoríficos.
A atuação da Polícia Federal colocou a qualidade de parte da carne brasileira sob suspeita, incentivando o consumo de produtos especiais.
A Korin Agropecuária Ltda., tradicional na produção de proteína orgânica de frango e de ovos, é uma das empresas que vêm obtendo crescimento também no mercado de carne bovina orgânica.
A empresa colocou o primeiro boi sustentável no mercado em 2015 e o primeiro orgânico em 2016. No início, vendia apenas 33 toneladas de carne orgânica bovina por ano. Atualmente, são 1.300.
Reginaldo Morikawa, diretor-superintendente da Korin, afirma que a “demanda atual chega a ser maior do que o volume colocado pela empresa no mercado”.
A oferta não cresce porque “produzir carne bovina orgânica é um desafio financeiro”. O custo do boi é 10% acima do do animal comum, e a empresa aproveita apenas um sexto do produto para vendas orgânicas.
O restante, que vai da carne de dianteiro a couro e miúdos, é vendido a preço normal de mercado, embora tenha custado 10% mais.
O caminho do equilíbrio financeiro requer algum tempo e só virá quando a empresa conseguir colocar todas as partes do animal com preços melhores no mercado, segundo o executivo da Korin.
Para buscar o ponto de equilíbrio, a empresa comercializa hambúrguer de costela e carpaccio e agora deverá lançar carne moída orgânica.
BOLAS DE PILATES
Antônio Ricardo Sechis, presidente da Beef Passion, também apostou na carne diferenciada. Em 2011 fez estudos científicos em nutrição animal e atualmente busca obter uma interatividade na produção de bois.
Ele disse na InterCorte da semana passada, em Cuiabá (MT), que, para desestressar os animais, usa bolas de pilates coloridas. O resultado é um verdadeiro “passa-passa” de bola entre os bois, o que dá tranquilidade ao animal.
Sechis afirma que o bem-estar do animal e a interatividade entre eles influenciam não apenas na qualidade, mas até na cor da carne.
No ano passado, com as desconfianças do consumidor em relação a boa parte da carne brasileira, ele conseguiu dobrar suas vendas. “Ninguém quer o mal do setor, mas essas ocorrências [da PF] incentivaram o consumo das carnes mais nobres.”
Para Cristiane Rabaioli, diretora-executiva da Celeiro Carnes Especiais, há uma tendência natural de crescimento nesse segmento, até mesmo com a entrada de frigoríficos maiores.
Em 2017, no entanto, a evolução do consumo foi bem maior do que o normal. O consumidor quer saber a origem da carne, obter informações sobre o corte e entender mais do produto.
Para ela, o setor de carnes especiais recebeu um reforço espontânea de mídia após a Operação Carne Fraca.
As vendas do setor são sempre crescentes, mas no ano passado aumentaram 45% na empresa dela. Embora o setor mantenha evolução constante, ele ainda é muito pequeno em relação ao total de carnes vendidas.
A diretora-executiva da Celeiro estima em 2% esse mercado. A empresa abate 2.000 animais por mês, um passo grande em relação às cem cabeças de poucos anos atrás.
Assim como Morikawa, Rabaioli diz que é importante atingir um ponto de equilíbrio sem perder a qualidade do produto. Para chegar a mercados mais distantes, a empresa lançou na InterCorte uma confraria de carnes e vendas online.
As empresas afirmam que o ritmo de vendas continua intenso também neste ano.
Mas, se as operações da Polícia Federal ajudam as vendas de carnes especiais no mercado interno, podem atrapalhar no externo.
Uma empresa de Hong Kong, que importava frango orgânico da Korin, rompeu o contrato no ano passado só porque o produto tinha sido produzido no Brasil (Folha de S.Paulo, 17/4/18)