Acordo da carne entre Brasil e Japão passa pelos Estados Unidos

CARNE EXPORT 5 © Shutterstock
Para agilizar, Brasil propõe ao país asiático seguir condições aceitas pelos americanos
O acordo entre Brasil e Japão para a abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira deve passar mesmo por um acerto político. E envolve os Estados Unidos.
Uma abertura apenas com o envio de técnicos e missões do Japão para o Brasil demandaria muito tempo. Por isso, está sendo costurado um acordo que teria o mercado americano como referência das condições sanitárias brasileiras.
Isso encurtaria o início das exportações brasileiras que, em princípio, já poderiam ocorrer a partir de agosto, esperam os negociadores. A proposta que está sendo discutida entre autoridades brasileiras e japonesas é a de que a aceitação sanitária dos Estados Unidos valeria como garantia da qualidade da carne brasileira.
Quando o Brasil abriu o mercado dos Estados Unidos, a esperança era de que Japão, Coreia do Sul e outros mercados que negociam carne de qualidade também avançassem nas negociações com os brasileiros. Isso não ocorreu à época.
O Japão é o principal mercado importador da carne americana, e o americano é o segundo maior importador de carne bovina brasileira. A negociação política que está sendo discutida é que o Japão aceite as condições sanitárias exigidas pelos americanos ao produto brasileiro enquanto durem as negociações, que são demoradas.
Um acordo desse seria altamente favorável ao JBS e ao Minerva, que têm 25 unidades entre as 49 liberadas para a exportação de carne bovina para os Estados Unidos. Essas duas empresas ficam com 51% dessa lista. O JBS também é fornecedor de carne americana para os japoneses.
Em um acerto desse tipo, as empresas liberadas para exportar para os Estados Unidos teriam uma vantagem de um a dois anos, até que se faça uma nova lista de vendedores para o país asiático.
Esse acordo pode ser factível, uma vez que os japoneses são grandes importadores de carne americana e gastaram US$ 1,87 bilhão na compra de 243 mil toneladas no ano passado nos EUA. As exportações totais dos Estados Unidos de carne bovina geraram US$ 10,45 bilhões em 2024, com a venda externa de 1,29 milhão de toneladas.
O potencial americano de exportação em volume vem caindo, devido a problemas na pecuária do país. Há dois anos, as exportações globais dos Estados Unidos somaram 1,5 milhão de toneladas, 16% a mais do que as do ano passado.
O Japão foi o país que mais comprou dos Estados Unidos no ano passado, seguido de México e de Coreia do Sul. No primeiro mês deste ano, conforme os dados mais recentes do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o Japão adquiriu 19 mil toneladas de carne bovina dos americanos, 10% a menos do que em janeiro de 2024.
O mercado dos EUA, que também foi difícil e demorado para ser aberto à carne brasileira, vem buscando cada vez mais produto do Brasil. No ano passado, as exportações brasileiras atingiram 230 mil toneladas para os americanos, com uma expansão de 66% no ano. Os Estados Unidos foram o segundo maior importador da carne bovina do Brasil, abaixo apenas da China, que levou 1,34 milhão de toneladas (Folha, 26/3/25)