30/11/2018

Acordo sobre açúcar entre governo e indústria é invasão na vida privada

Acordo sobre açúcar entre governo e indústria é invasão na vida privada

Palestrante em seminário internacional sobre açúcar realizado em Londres, o deputado federal Evandro Gussi (PV-SP) – Foto -  avaliou que acordos como o firmado na última segunda-feira entre o governo e a indústria alimentícia para redução da quantidade de açúcar nos alimentos são uma "invasão nefasta na vida privada". "Essas interferências do Estado na vida privada das pessoas, cada vez mais graves, é um equívoco sério", disse ao Broadcast após participar do evento.

No início da semana, o Ministério da Saúde e 68 empresas anunciaram a meta de reduzir o uso do adoçante na produção de alimentos em 144,6 mil toneladas até 2022. Como a quantidade total de açúcar usada pela indústria não foi divulgada, não é possível calcular o quão significativa pode ser essa diminuição. Os alvos estão distribuídos em 23 categorias de alimentos e bebidas, mas críticos afirmam que itens importantes, como o de refrigerantes, por exemplo, ficaram de fora do acordo.

Para o deputado, decisões como estas têm duas implicações diretas: são uma invasão em áreas que não lhe são próprias, como a da alimentação, que faz parte da intimidade das pessoas, e retiram a responsabilidade de seus principais agentes. "O aumento da obesidade está ligado a diversos fatores, como sedentarismo, maus hábitos de vida, crianças que deixaram de brincar fisicamente e brincam mais virtualmente. Esse tipo de propaganda retira o problema do seu eixo natural e aí impede a resolução do problema", defendeu.

Gussi argumentou que se todo o açúcar do mundo fosse banido - o que, enfatiza, poderia matar a humanidade -, a população ainda manteria os mesmos traços de obesidade. "Isso porque há uma série de outros produtos que, se consumidos em excesso e não conjugados com práticas esportivas, com uma vida saudável, também farão mal.

 

Ele lembrou que União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única) lançou algum tempo atrás a campanha "Doce Equilíbrio", que mostrava que o consumo da commodity precisa ser equilibrado, mas "como tudo na vida".

Confrontado com a observação de que campanhas e acordos pela redução do uso do açúcar ocorreram também em outras partes do mundo, o deputado confirmou a tendência, mas salientou que em alguns países, como os Estados Unidos, a ênfase foi menor porque no país se acredita mais na liberdade de escolha das pessoas e menos na intervenção do Estado.

 

"O problema é para a indústria, mas também para a pessoa, o indivíduo, o cidadão, que tem sua vida invadida", disse. "Se criam invasões que são nefastas na vida das pessoas e tira-se delas o direito de saber a origem do problema e ser responsável por ela realmente", acrescentou (Broadcast, 29/11/18)