Açúcar: Além da imaginação – Por Arnaldo Luiz Corrêa
Estamos vivendo tempos de loucuras onde nem sempre a lógica prevalece. O presidente da maior economia do mundo, por exemplo, resolve usar seu Tweet para mandar um recado afirmando que o petróleo está com os preços artificialmente muito altos e o mercado – claro - cai. Imagine se em qualquer dia desses o senhor Trump acordar no meio da madrugada e resolver tuitar que açúcar faz mal para a saúde (dele). Nem Rod Serling, roteirista norte-americano, criador da série The Twilight Zone (no Brasil, Além da Imaginação) poderia conceber um roteiro tão surreal. Parece-me que se o mercado não tem se deparado recentemente com cisnes negros para agitar as cotações, seguramente conta com uma calamitosa espécie de Dilma de cabelos alaranjados para fazê-lo.
O mercado de açúcar em NY atingiu novas mínimas, o vencimento julho/2018 negociou a 11.77 centavos de dólar por libra-peso enquanto alguns analistas acreditam que vamos fechar o gap técnico de 10.44 centavos de dólar por libra-peso. Como temos dito há algumas semanas, pouco importa quão baixo os preços do açúcar podem parecer estar comparativamente ao açúcar, o fato é que nesta semana novas previsões de maior safra indiana e tailandesa atingiram o mercado e novas baixas foram vistas em todos os meses de negociação. E pelos números divulgados da posição dos comitentes, os especuladores compraram durante a semana, tomando lucro de suas posições vendidas acima do mercado, enquanto as tradings venderam o que provavelmente mostra que tivemos algumas fixações de usinas dentro do estilo “jogar a toalha”. É o que parece.
O etanol encerrou a semana negociando a R$ 1.8300 o litro, com impostos, uma queda acumulada de 20%. Esse valor corresponde a um açúcar a 13.75 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, ou seja, 200 pontos acima de NY, apesar da queda vertiginosa. Algo precisa ser mudado na comercialização de etanol. Os preços despencaram na usina, mas não mudaram nos postos de combustíveis.
Ao invés de aproveitar preços mais baixos para fomentar o consumo e consequentemente equilibrar os preços melhorando a arbitragem com o açúcar, não são as usinas que ganham dinheiro com essa perversa equação. Como disse o Professor Titular da FEA/USP, Marcos Fava Neves, “O preço do etanol precisa cair urgentemente nos postos para que o consumo na frota flex surpreenda e possa interferir nos preços do açúcar, pelo menos para o segundo semestre. Se repete neste ano o que acontece há dez anos, cai o preço na Usina e não cai na distribuição, de tal forma que um elo da cadeia (dois na verdade) transferem renda aos outros dois elos e não ocorre o esperado aumento de consumo. A mais importante ação ao setor seria a explosão do consumo de hidratado nestes próximos 3 meses”.
Reforçando a ideia de que os fundos não precisam se apressar em recomprar suas posições vendidas no mercado futuro de açúcar, principalmente porque as commodities em que eles estão comprados: gasolina, etanol de milho e petróleo apresentam um desempenho de 16%, 13.5% e 12% de alta, respectivamente, acumulada no ano, ao passo que café e açúcar despencaram 7% e 21.5% no ano, respectivamente. Os fundos não estão nem um pouco preocupados com sua posição vendida no açúcar.
Nos últimos dezoito anos, o preço médio dos fechamentos diários do contrato futuro de açúcar mais negociado na bolsa de NY no primeiro trimestre do ano foi maior do que o preço médio negociado durante o mês de abril em 2/3 dos casos. O preço médio do primeiro trimestre deste ano foi de 13.46 centavos de dólar por libra-peso.
A recuperação nos preços virá, mas dependerá do tamanho da safra de cana no Centro-Sul (já se fala em 570), do mix de produção que deverá surpreender (menos de 40% de açúcar) e da percepção por parte dos produtores que competem com o Brasil de que a este nível de preços os países não conseguem competir.
Um leitor atento nos alerta acerca do que dissemos aqui no final de janeiro sobre algumas usinas que estavam fazendo o hedge do etanol usando petróleo (Brent). Estávamos iniciando nossa compilação de dados para observar a aderência que havia entre o preço do petróleo negociado no mercado internacional e o preço do hidratado. Quando alguém usa um ativo para hedgear outro, conhecido como cross hedging (hedge cruzado), está sujeito ao risco de essa aderência se perder.
À luz do mercado atual, ter simplesmente vendido petróleo em reais para hedgear o hidratado não foi uma boa estratégia. Mesmo o que sugerimos, comprar put (opção de venda) de petróleo e vender call (opção de compra) de açúcar sob as condições atuais, teria simplesmente expirado com o prêmio da call no bolso, mas tornou-se ineficiente para o propósito de resguardar valor. É a velha máxima que diz: “quem decide pode errar, quem não decide já errou”.
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