Açúcar: Ano começa com as mesmas questões
Por Arnaldo Luiz Corrêa
Este é o primeiro comentário do ano após o recesso de festas e férias, sempre necessário para que as baterias sejam recarregadas.
Dissemos muitas vezes nesse espaço que a trajetória de preços do açúcar no mercado internacional dependia - e ainda depende - do comportamento dos preços do petróleo. Acreditava-se piamente na recuperação dos preços do açúcar principalmente em função do quadro fundamentalista que se avizinha. Isto é, o tamanho da próxima safra de cana no Centro-Sul, cujos números preliminares apontam para um intervalo preocupante de 570-575 milhões de toneladas; o aumento esperado no consumo de combustíveis há tanto represado devido aos altos preços da gasolina no ano passado que pesaram no bolso do consumidor; e, a melhora no consumo de alimentos industrializados e bebidas e refrigerantes que, somados, devem escancarar o déficit de cana ainda não refletido nos preços de NY.
Ocorre que o preço de petróleo despencou. Depois de atingir mais de 75 dólares por barril no início de outubro o mercado assistiu espantado ao derretimento do preço para 42 dólares por barril na última semana de dezembro. Com a queda do petróleo no mercado internacional e o fortalecimento do real logo após a eleição de Bolsonaro, a arbitragem entre etanol e gasolina percebida (ainda que não imediatamente refletida nos preços de mercado) levanta dúvidas em relação ao mix de produção a ser escolhido pelas usinas na safra 19/20.
Também contribuíram para a estagnação dos preços do açúcar em NY o fato de o cenário macro mundial ser desfavorável aos ativos de risco (leia-se commodities) e de as usinas, na esperança de melhores preços no último trimestre, que nunca vieram, terem sido obrigadas a fixar contratos a preços baixos para atender a compromissos firmados anteriormente.
O mercado interno de combustível trabalha com uma enorme dúvida acerca do tamanho do estoque de passagem do etanol. Tem gente que acha que vai sobrar etanol e, consequentemente, os preços estarão bastante pressionados e tem gente que acredita que a recuperação do consumo pode surpreender e estabilizar os preços. A luz vermelha é para as usinas apertadas no fluxo de caixa que vão precisar fazer dinheiro logo e podem desaguar produto a qualquer preço.
O pior cenário seria, como já alertado aqui em diversas ocasiões, uma queda ainda mais acentuada do petróleo no mercado internacional, pois ocasionaria uma enorme pressão no valor da gasolina na bomba (o valor justo hoje para o consumidor no estado de São Paulo é de R$ 3,7800 por litro) influindo negativamente no preço do açúcar em NY devido à maior disponibilidade do produto via redução do mix pró etanol. Como se vê, a equação continua complicada.
No entanto, o mercado em geral acredita que o pior para o produtor já passou, ou seja, mercado abaixo de 10 centavos de dólar por libra-peso é considerado miragem.
Por esses pressupostos, a menos que o petróleo traga surpresas indigestas, os fundamentos do açúcar se consolidam já neste primeiro trimestre do ano, especialmente se o número de moagem ficar nos níveis mencionados no segundo parágrafo.
Acreditamos que o contrato de açúcar em NY com vencimento em julho pode atingir 14.50-15.00 centavos de dólar por libra-peso. Caso o governo consiga aprovar a reforma da previdência e o fluxo de capital externo seja positivo com seu efeito na moeda brasileira, esse intervalo pode ser 50-75 pontos pior pois real mais forte significa gasolina mais barata.
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(Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)