Açúcar deve continuar em recuperação; etanol deve perder competitividade
As cotações do açúcar no mercado internacional devem continuar em recuperação no primeiro trimestre deste ano, principalmente por causa da reversão do balanço internacional de oferta e demanda pelo produto. A avaliação é da consultoria INTL FCStone, em seu relatório trimestral de perspectivas, divulgado hoje.
Conforme a consultoria, o balanço deve sair da situação de superávit registrado na safra global 2017/18 (outubro-setembro) para déficit - projetado pela INTL FCStone em 700 mil de toneladas para a temporada 2018/19. "Com isso, os estoques globais devem voltar a se retrair, abrindo espaço para a valorização do açúcar", informa no relatório o analista João Paulo Botelho.
O déficit é puxado por uma forte quebra de safra de beterraba na Europa, provocada pelo clima adverso. Além disso, a produção na Índia e na Tailândia deve cair também em virtude de problemas climáticos, aliados à redução na área plantada (no caso da Tailândia).
O déficit projetado para 2018/19, entretanto, não é nem de longe suficiente para reverter o forte aumento dos estoques na safra anterior (+9,4 milhões de toneladas). "Com isso, parte do movimento recente de alta é resultado também da expectativa de que os estoques globais de açúcar se mantenham em queda no próximo ano", estima a FCStone.
Caso se confirme a perspectiva de recuperação nos preços do açúcar, as usinas do Centro-Sul do Brasil devem atuar como fiel da balança do mercado internacional a partir do início da safra local, que ocorre oficialmente em abril, estima Paulo Botelho. Isso porque os produtores da região têm uma combinação única de características: capacidade de direcionar a matéria-prima para a produção de açúcar ou etanol a depender da relação de preços entre os dois e volume de produção suficiente para alterar significativamente a oferta global do produto.
"É possível que a paridade entre o açúcar e o etanol no Brasil acabe limitando o potencial de alta do adoçante, uma vez que uma relação muito favorável a este pode incentivar o aumento de sua produção pelas usinas locais, reduzindo assim o déficit global da commodity", relata o analista.
Etanol
O etanol manteve-se mais atrativo ante ao açúcar durante grande parte de 2018, informa o analista Matheus Costa, da INTL FCStone, no relatório trimestral de perspectivas da consultoria, divulgado hoje. Nos próximos meses, a relação entre os dois produtos ajudará a direcionar o mix das unidades produtoras para 2019/20 (abril-março). "Neste sentido, espera-se que o etanol perca sua competitividade ante ao açúcar na próxima safra - tendência que já tem sido observada desde o fim de novembro", comenta Costa no relatório.
A INTL FCStone espera que o mix alcooleiro da próxima safra no cinturão canavieiro brasileiro recue ante à 2018/19, para 59,0% (-5,7 pontos porcentuais). Consequentemente, a produção de etanol de cana deve atingir 26,8 milhões de metros cúbicos (-10,7%), sendo 17,0 milhões de Metros cúbicos de hidratado (-19,8%) e 9,8 milhões de metros cúbicos de anidro (+10,9%).
Conforme a consultoria, a situação em 2018/19 (abril-março) tem se mostrado distinta de anos anteriores para as cotações do etanol. Isso porque, conforme a consultoria, as cotações do biocombustível nas usinas têm se aproximado das mínimas dos últimos anos para o período.
"Essa tendência foi resultado de uma desvalorização abrupta do petróleo nos últimos meses", comenta a consultoria. No fim da primeira quinzena de janeiro/19, a variedade West Texas Intermediate (WTI) recuou em cerca de 30% ante ao nível máximo de 2018, registrado no início de outubro. Vale lembrar que essa queda chegou a ultrapassar os 40% em dezembro/18.
A derrocada nas cotações do óleo bruto aliada à relativa queda no dólar ante o real fez com que a Petrobras reduzisse os preços da gasolina nas refinarias - o que acabou impedindo a alta do biocombustível.
"Para o primeiro trimestre de 2019, os preços do etanol devem se manter pressionados, podendo até mesmo estender suas quedas nas próximas semanas. Por um lado, é preciso destacar que as projeções para o óleo bruto são de que o balanço entre oferta e demanda superavitário se reverta nos próximos meses, sustentando, assim, os preços da commodity energética", conclui a FCStone (Broadcast, 25/1/19)