08/03/2019

Açúcar e Etanol: A safra atual e a concentração da oferta

Açúcar e Etanol: A safra atual e a concentração da oferta

Por Júlio Maria Borges

 

Concentração de oferta é algo que temos visto com frequência em diversos setores da atividade econômica. Fusões & Aquisições têm ocorrido e isto leva à formação de grandes grupos e à concentração da oferta, com consequentes criação de oligopólios, nada bom para o consumidor. 

A safra atual: clima 

Em Fevereiro/19 tivemos chuvas próximas da média no  CSUL canavieiro, o que alivia o período relativamente seco observado na safra entre Abril/18 e Janeiro/19. Neste, quando se espera a maior quantidade de chuva do ano, choveu praticamente 50% do normal.

E daí? O que se esperar da nova safra 2019/20 ?

Tudo indica que o déficit hídrico no acumulado do ano safra será amenizado com chuvas em Março19 também na faixa da normalidade.

De qualquer forma e na melhor das hipóteses, o clima deve prejudicar o rendimento agrícola da nova safra 2019/20, que começa no próximo Abril. Isto porque, além de chuvas acumuladas abaixo da média, o regime de chuvas foi muito irregular, tanto ao longo do tempo como entre áreas da região CSUL… É, o clima tem sido surpreendente, em geral para atrapalhar.

A safra atual : preços

O açúcar de mercado interno, que remunerou o produtor mais que o açúcar de exportação,  está com preço médio no período Abril/18-Fev19 próximo daquele da safra passada. Ou seja, algo próximo de R$ 57,00/saca 50kg. O preço mínimo da safra de R$ R$ 47,00/saca ocorreu em Agosto/18 e o preço máximo de R$ 65,00/saca ocorreu recentemente ao longo dos dois últimos meses do ano passado.

Este preço de R$ 57,00/saca 50kg cobre os custos médios de produção da safra 2018/19?  Cobre praticamente as despesas e depreciação. Ou seja, o juros da dívida não seriam cobertos ou a reposição do ativo fixo não seria feita adequadamente.

No caso do etanol a situação não é diferente. O preço médio no período Abril/18-Fev19 foi cerca de 5% acima daquele da safra passada.

Para o etanol hidratado observamos um preço líquido de impostos de R$ 1,60/litro. Este preço, tal como no açúcar de mercado interno, cobre despesas e depreciação. E só. No caso do etanol anidro, este teve seu preço médio 10% acima do hidratado, o que melhora pouco a situação, mas não resolve a questão de pagar os juros da dívida.

O futuro

A situação de preços que não cobrem a totalidade dos custos não é boa para o setor de forma geral e nem é inusitada. Nos últimos anos esta situação tem sido verificada com frequência. Quando não se cobre a totalidade dos custos não há projeto novo (Greenfield) e isto pode inibir o crescimento da oferta no médio e longo prazo.

Até agora falamos de custos e receitas médias.

A situação para as usinas mais eficientes é bem diferente . Suas receitas são mais diversificadas e maiores e seus custos são menores. Estas empresas estão se capitalizando e serão os sobreviventes do setor. A consequência disto será uma oferta,  no médio prazo, crescente e mais concentrada, com players  maiores e mais capitalizados.

Este e outros assuntos de natureza estratégica serão discutidos em nosso próximo  18º Seminário sobre Estratégias Empresariais para Açúcar e Etanol. Será realizado em 5 de Abril próximo no Hotel Intercontinental em São Paulo-Capital (Julio Maria M. Borges é sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento; Canal Rural, 7/3/19)