07/10/2019

Açúcar: Fadiga de material – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: Fadiga de material – Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY assistiu a uma espetacular recuperação de preços nas últimas duas semanas refletindo a percepção do mercado físico de uma piora nas perspectivas de safra da Índia e Europa. O contrato futuro com vencimento para março de 2020 encerrou nesta sexta-feira a 12.76 centavos de dólar por libra-peso, apreciando apenas 6 pontos durante a semana equivalentes a 1.30 dólares por tonelada. Os outros meses subiram mais: maio 18 pontos, julho 19 pontos e outubro 21 pontos. Mostra duas coisas: primeiro, que muita usina ainda está atrasada na fixação e pressiona o março; segundo, que o mercado entende que o ano que vem (2020/2021) será ainda mais restritivo em termos de disponibilidade de açúcar.

Um trader baseado em São Paulo sugere que a alta do açúcar recente se assemelha a uma fadiga de material. Em outras palavras, um fenômeno de ruptura progressiva depois de o mercado ter passado por ciclos repetidos de tensão ou deformação (leia-se preços baixos nem sempre validados pelos fundamentos). No contraponto, um colega de mesa acredita que a alta foi simplesmente causada por compras de sistema, ou seja, robôs, algoritmos e outros não-humanos.

A entrega de açúcar contra a expiração do contrato de outubro, no início da semana, foi um não-evento. O volume de 175,000 toneladas de açúcar foi o menor para um mês de setembro desde 2011. Tirou um peso do mercado já que uma entrega volumosa em pleno final de safra no Centro-Sul daria uma forte indicação de que o açúcar não encontra destino.

Os fundos recompraram em torno de 58,000 lotes em uma semana (pelo relatório do CFTC publicado às terças), mas ainda continuam segurando uma posição vendida à descoberto de aproximadamente 147,000 mil lotes que eles eventualmente terão que se cobrir. O mercado subiu 47 pontos no período coberto pelo relatório,

Infelizmente o cenário macro se deteriorou esta semana com as commodities de energia caindo quase 6% (caso do petróleo WTI e Brent) na contramão de algumas softs que se esforçaram bastante para ficar no positivo.

A atividade nas opções de açúcar em NY está bastante intensa. Quando isso ocorre, combinando com uma alteração na volatilidade dos prêmios, indica que o mercado está preocupado com uma iminente mudança de intervalo de preços. Assim, constata-se que um grande volume de opções tem sido feito nos últimos dias, basicamente concentrado entre os preços de exercício de 11.00 e 15.00 centavos de dólar por libra-peso, que possuem uma posição em aberto de 136,700 lotes combinados entre calls (opções de compra) e puts (opções de venda).

Mais de 40,000 lotes de puts estão em aberto nos preços de exercício entre 11.00 e 12.00 centavos de dólar por libra-peso e quase 90,000 lotes estão em aberto nas calls de preço de exercício entre 13.00 e 15.00 centavos de dólar por libra-peso. As opções se concentram entre 12.00 e 14.00 (111,000 lotes entre calls e puts) indicando o possível intervalo de preços no qual o mercado acredita que o açúcar estará até a expiração das opções de março, em meados de fevereiro do próximo ano (daqui a quatro meses).

Para os consumidores industriais de açúcar, convém comprar uma proteção de alta (calls) financiada pela venda de uma put fora-do-dinheiro. Fixando o preço máximo de compra que não comprometa significativamente a margem do produto, abrindo mão de um preço mínimo de compra da matéria prima, caso o mercado venha a cair. De qualquer forma, acreditamos que acima de 14 centavos de dólar por libra-peso o mercado começa a dar espaço para que a Índia ofereça seu açúcar para a exportação, limitando eventuais picos além daquele nível.

Obviamente algumas coisas precisam ser observadas, em especial o comportamento do petróleo no mercado internacional (os estoques estão elevados) que causa a queda da commodity e o real se fortalecendo em relação ao dólar. Esses dois fatores podem diminuir o apetite das usinas em maximizar a produção de etanol.

Nós estamos ainda no início do último trimestre do ano. Um elenco de eventos está à espreita para nos surpreender a todos: altistas, baixistas, pessimistas, otimistas, construtivos. Não podemos nos deixar levar pelas oscilações diárias provocadas por compra e venda comandado por sistemas, robôs, etc e nos fixarmos na evolução dos fundamentos. Temos um longo caminho até março/2020 e, em nossa opinião, existem mais elementos que podem contribuir com a mudança do patamar de preços para níveis mais altos do que o oposto.

O preço médio da gasolina no mundo, apurado no final de setembro, apontava R$ 4.55 por litro (no Brasil foi de R$ 4.37). A mais barata em Cuba (Venezuela não vale quase nada) a R$ 0.37 e a mais cara em Hong Kong a R$ 9.46 o litro. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) publicou o volume de consumo no mês de agosto: 4,562 bilhões de litros gasolina equivalente, quase 2% superior ao mês de agosto do ano passado. No acumulado do ano, o consumo é de 39,46 bilhões de litros de combustível, dois bilhões de litros acima do mesmo período do ano passado.

O XXXIII Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos está confirmado para março de 2020, nos dias 24, 25 e 26 de março, no Hotel Wall Street, na Rua Itapeva, em São Paulo – Capital. Não deixa para a última hora. As chances são que as vagas se esgotem até o final do ano (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)