09/04/2018

Açúcar: Fazer mau negócio é mais fácil - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: Fazer mau negócio é mais fácil - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Um executivo do mercado ligado às usinas tem uma ótima frase que explica a situação atual do mercado de açúcar e qual seria a abordagem mais indicada para as empresas sob um cenário tão baixista como o que vivemos agora. Ele diz: "ninguém precisa ter pressa para fazer um mau negócio". Não há como refutar esse argumento muito embora a situação financeira da maioria das usinas as impeça de ao menos considerar essa alternativa. Começo de safra é o momento de fazer caixa, pagar as despesas de custeio, pagar os fornecedores e faturas que acumulam na mesa do diretor financeiro. Para algumas usinas, lamentavelmente, não raramente acabam aceitando preços nada remuneradores.

Uma mistura de medo e arrependimento, sob esse cenário, atinge o âmago do departamento comercial. Medo de que as recentes previsões apocalípticas acerca dos preços do açúcar possam eventualmente atingir um dígito e o arrependimento por não ter fixado os preços do açúcar em NY quando as condições do mercado, seja em centavos de dólar por libra-peso ou em reais por tonelada estavam num nível que pagavam as contas, deixavam dinheiro no caixa e agradavam o acionista. Hoje o acionista vai diariamente na empresa e obriga os executivos a cortarem custos em todos os setores.

Medo e arrependimento normalmente são péssimos conselheiros. No entanto, bem melhor do que olhar pelo retrovisor e se remoer sobre o que deixou de fazer é olhar para a frente e se estruturar para não deixar que isso aconteça novamente. Não adianta procurar gurus nem morubixabas que prometem fazer a dança da chuva e trazer de volta a felicidade.  Quando fazemos a clássica pergunta "onde foi que eu errei?", em nove entre dez ocasiões observamos que o problema é a falta de disciplina e de uma competente gestão de risco.

É importante estruturar a empresa para que o hedge tenha a mesma importância e seja tratado com o mesmo cuidado que se dá, por exemplo, às áreas industrial e agrícola. A melhora nos índices de desempenho dessas áreas é efusivamente comemorada, mas os hedges muitas vezes são colocados em plano secundário, quando não utilizados como perversa ferramenta de especulação pura e simples.

Por exemplo, algumas usinas recompraram seus hedges quando o mercado bateu 16 centavos de dólar por libra-peso, imaginando que iriam vender de volta a preços melhores. O mercado, como se sabe, mergulhou para níveis mais baixos fazendo com que a empresa perdesse dinheiro. Isso não é gestão de risco. É especulação pura.

O desempenho do açúcar no mercado futuro de NY na semana foi neutro com o contrato com vencimento maio/2018 encerrando a sexta-feira praticamente no mesmo nível da semana anterior 12.34 centavos de dólar por libra-peso. O valor equivalente em reais por tonelada melhorou em função do dólar mais forte em relação à moeda brasileira devido às turbulências políticas da semana.

Os fundos não-indexados estão vendidos 176,000 lotes, um volume extraordinário e não nos parece que estejam pensando em recomprá-lo. Especula-se que um bom pedaço dessa posição faça parte de uma estratégia de long-short em que o fundo se posiciona comprado num ativo e vendido em outro. Nesse caso, eles estariam comprados em contratos futuros de petróleo e vendidos em contratos futuros de açúcar e café. No acumulado do ano, eles estão ganhando no petróleo comprado pois o mercado subiu e ganhando no açúcar e café vendidos, pois ambos caíram.

A pergunta que não quer calar é qual o nível de preço do petróleo, numa eventual alta no mercado internacional, que faria os fundos liquidarem suas posições compradas e tomarem lucro ou, inversamente, qual o nível do preço do petróleo numa eventual queda que os faria estancar o prejuízo e liquidar a posição? Em ambas, diga-se, os fundos teriam que liquidar as posições vendidas de açúcar e café, recomprando-as. Quem venderia novos contratos de açúcar nos atuais níveis de preço ?

O preço do hidratado caiu bastante na semana impulsionado por vendas agressivas de produtores. O que está por trás disso? Fazer caixa ou travar a arbitragem positiva do etanol em relação ao açúcar, vendendo o hidratado no físico e comprando açúcar em NY para outubro, por exemplo?

Definitivamente o setor não é para amadores. Cada vez mais são necessários foco, disciplina e uma boa dose de criatividade na gestão de risco para adicionar valor ao acionista.

Uma semana de muita alegria em todo o Brasil para aqueles brasileiros que trabalham dura e honestamente e não estão pendurados em nenhuma teta estatal. Finalmente, o juiz Sérgio Moro decretou a prisão do condenado e ex-presidente Lula. Esta é apenas a primeira condenação e prisão, ainda faltam meia dúzia de processos que ela ainda está respondendo. Levanto um brinde aos meus leitores sorvendo deliciosamente uma dose de Blue Label (não, a Diageo não é nossa cliente, infelizmente, embora eu seja dela) celebrando esse momento épico da vida política brasileira. Ver um canalha como Lula, chefe de uma quadrilha de criminosos que levou o país ao nível mais baixo de podridão ética e moral da história, atrás das grades, não tem preço (não, a Mastercard também não é nossa cliente).

Estão abertas as inscrições para o 30º. Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas. O curso vai ocorrer nos dias 7, 8 e 9 de agosto, em São Paulo-SP, no Hotel Wall Street, na Rua Itapeva. Se você tem intenção de fazê-lo, lembre-se que as vagas são limitadas e nas últimas edições elas esgotaram 40 dias antes do início do curso (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)