Açúcar: Lesma lerda – Por Arnaldo Luiz Corrêa
Em seis meses de mercado, mais precisamente de novembro/2018 até abril/2019, a média do fechamento diário do contrato futuro de açúcar com vencimento mais curto em NY variou apenas 200 pontos, tendo alcançado a máxima diária de 13.54 centavos de dólar por libra-peso e a mínima de 11.55 centavos de dólar por libra-peso.
Se olharmos apenas a média do fechamento dos meses citados, começamos com 12.82 centavos de dólar por libra-peso no novembro/18, 12.57 no dezembro, 12.67 no janeiro, 12.93 no fevereiro, 12.47 no março e 12.54 no abril. Embora a amostragem seja pequena, podemos dizer que no ritmo atual, com 95% de certeza, a média dos fechamentos do mês presente ficaria no máximo a 35 pontos distante da média do mês anterior, para cima ou para baixo. Ou seja, o maio de 19 fecharia com a média entre 12.19 a 12.89 centavos de dólar por libra-peso. Se você, caro leitor, não estava convencido da fraqueza e entediamento do mercado, aí está um sólido argumento.
Para um mercado que se move como uma lesma lerda, ficar vendido açúcar a descoberto em NY a 12 centavos de dólar por libra-peso parece ser um ato de coragem protagonizado pelos fundos que na verdade especulam com o dinheiro dos outros. Vários sinais são mostrados no dia-a-dia de quem acompanha o físico de açúcar e etanol que corroboram com o nosso entendimento.
É notório que a qualidade da matéria prima este ano é ruim. Canavial envelhecido, cana mais fibrosa, portanto com menos açúcar. Também é notória a saída surpreendente de etanol das usinas, quebrando recordes de volume. Os níveis de estoque estão exatamente pela metade do que estavam em maio de 2018 (2.13 bilhões de litros contra 1.0, segundo a BioAgência). Os preços do hidratado negociam entre 1.9500 e 1.9800 reais por litro, com impostos, o que equivale ao açúcar em NY mais 150 pontos de prêmio. E, no entanto, o mercado não reage.
Discutimos aqui diversas vezes que o preço do açúcar em NY é dependente da trajetória de preços do petróleo combinada com o dólar. Mas, acompanhe comigo as alternativas mais extremas:
- Petróleo em baixa (queda de 15%) real forte em relação ao dólar (R$ 3,50) - Etanol perde competitividade via arbitragem com gasolina mais barata em reais; usinas podem maximizar produção de açúcar; açúcar em NY deve cair, mas como o etanol ainda tem gordura, a queda pode ser pequena;
- Petróleo em baixa (queda de 15%) dólar forte em relação ao real (R$ 4,30) - Preço da gasolina em reais se mantem, mas claramente com viés de baixa no médio prazo; talvez não seja suficiente para as usinas mudarem o mix; açúcar em NY fica neutro, mas pode perder sustentação;
- Petróleo em alta (alta de 15%) real forte em relação ao dólar (R$ 3,50) – Preço do etanol sustentado; usinas não mudam o mix, pois internamente o preço da gasolina se mantém; estimamos que o açúcar precisa subir 200 pontos para incentivar usina a produzi-lo;
- Petróleo em alta (alta de 15%) dólar forte em relação ao real (R$ 4,30) - Demanda forte no etanol; preço da gasolina internamente dispara; consumo ciclo Otto pode ser afetado, mas açúcar vai precisar subir pelo menos 100 pontos para atrair vendedor;
Note que, mesmo em situações que empurrariam o preço do açúcar para baixo, considerando a vantagem competitiva do etanol atualmente, essa pressão estaria limitada até o nível em que a “gordura” no preço do combustível fosse exaurida.
Mas, os fundos estão pesadamente vendidos a descoberto. Somente nesta semana, eles aumentaram a posição em 47,000 contratos elevando o total para 123,000 (mais de 6.2 milhões de toneladas de açúcar). Alguns analistas acreditam que os fundos estejam reconstruindo a mesma estratégia vencedora utilizada no último trimestre do ano passado que consistia em ir long (comprado) energia (petróleo, gasolina, gás de aquecimento) e ir short (vendido) as soft commodities (café, açúcar, suco de laranja, algodão). Talvez faça sentido. Nos últimos 30 dias as commodities que mais caíram foram as soft (algodão 12.4%, suco de laranja 11.7%, açúcar 8.34% e café 5.6%) ao passo que as de energia tiveram um desempenho pelo menos 10 pontos percentuais melhor. Fique atento.
O modelo desenvolvido pela Archer Consulting aponta que até o final de abril/19 as usinas estavam fixadas em 11.35 milhões de toneladas para a safra 2019/2020 apurando que houve uma desaceleração por parte das usinas para a fixação de seus açúcares depois de janeiro, provavelmente em função de melhor expectativa de remuneração do etanol hidratado no mercado interno, que incentiva às usinas reduzirem a produção da commodity e também diminuir o ritmo de vendas futuras.
O modelo também corrigiu uma distorção no número divulgado no final de janeiro, que apontava 11.9 milhões, quando na verdade era de apenas 10.2 milhões de toneladas apenas. O preço médio das fixações apurado é de R$ 1,164 por tonelada FOB, com prêmio de polarização, equivalentes à 50,66 centavos de real por libra-peso (nesse caso, sem polarização).
O percentual fixado (estimado em 54%) é ligeiramente superior a igual período do ano passado quando o percentual atingira 52.68% e está abaixo da média acumulada para o mês de abril, desde que a Archer começou a divulgar os números, em 2012/2013, que é de 62.25%. Muitas usinas rolaram suas fixações originalmente destinadas ao vencimento maio de 2019 para o vencimento seguinte devido ao estreitamento do spread que compensava a rolagem. Esse também pode ter sido um dos motivos para a diminuição do ritmo de fixação.
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