Açúcar: Mais sobre o nada; o mercado mais enfadonho dos últimos 20 anos
Por Arnaldo Luiz Corrêa
Nenhum mercado resiste aos twitters de Trump. O presidente norte-americano surpreendeu o mundo financeiro com a imposição de uma tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões de produtos chineses. Imediatamente os mercados despencaram, em especial o de energia (petróleo e gasolina derreteram) e por osmose as demais commodities. A atitude de Trump atinge Jerome Powell atual presidente do FED que está na parede para cortar ainda mais os juros americanos. Um jogo de pôquer com consequências pesadas para a economia global.
Brasil e EUA reduziram suas taxas de juros e em tese, abririam oportunidades para as commodities em geral. No entanto, a reação foi oposta. Os mercados reagem em pânico às notícias tempestuosas como ao twitter de Trump, até que as pessoas coloquem a cabeça no lugar e percebam que os fundamentos do mercado de açúcar não mudaram em nada.
Na sexta-feira, o mercado de açúcar encerrou a semana com o vencimento outubro/2019 negociado a 12.01 centavos de dólar por libra-peso, inalterado em relação à semana anterior. Os fundos reduziram a posição vendida para 134,000 lotes com base no relatório com data de terça-feira dia 30 de julho. No entanto, dada a turbulência que o mercado experimentou durante a semana, é bastante plausível que os fundos tenham novamente aumentado a posição vendida nesse período. Alguns estimam entre 9 e 12 mil lotes.
O mês de julho foi embora e a média dos fechamentos do contrato futuro de açúcar em NY (primeiro mês da tela) foi de 12.13 centavos de dólar por libra-peso, mantendo o intervalo das médias desde outubro/2018 de 11.83 a 13.18 centavos de dólar por libra-peso. Há tempos não tínhamos um período tão extenso de preços restritos a apenas 136 pontos, muito embora estamos falando de médias. Em 2006/2007 também vivemos um período bastante aborrecido em termos de flutuação de preços, mas em termos relativos, o período atual é o pior em 20 anos: o intervalo de preços sobre o preço médio é pouco acima de 10% (136 pontos sobre um preço médio de 12.56 centavos de dólar por libra-peso)
Interessante notar que os fundos construíram parte de posição short no mês de julho em níveis que estão hoje bem abaixo do mercado. Como diz um veterano do mercado de etanol, “é quando a piscina esvazia que a gente vê quem está pelado”. Os fundos vão se cobrir mais rápido do que pensávamos? Nossa aposta é que sim, desde que fatores exógenos não venham a atrapalhar.
O preço do hidratado continua subindo. Segundo o CEPEA-Esalq, o preço do combustível alcançou R$ 1,7253 por litro na usina sem impostos o que, considerando o fechamento do açúcar em NY para o vencimento outubro/2019 a 12.01 centavos de dólar por libra-peso, isso representa que o hidratado está negociando com um prêmio de 191 pontos sobre o açúcar. Quem vai produzir açúcar aí levanta a mão. Não apenas as usinas estão produzindo o máximo que podem de etanol, mas também o consumidor abraçou de vez o etanol, com as vendas quebrando novos recordes.
10.7 bilhões de litros de hidratado foram consumidos no primeiro semestre deste ano, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, um volume 33% maior do que aquele consumido no primeiro trimestre do ano passado. No entanto, apesar desse consumo recorde de hidratado, o consumo anualizado de combustíveis gasolina equivalente ainda é inferior em 0.13% em relação ao mesmo período do ano passado.
Não dá para não comentar que os fundos estão com uma posição bem próxima do recorde recente em que chegaram a ter 189,000 lotes vendidos. Do ponto de vista técnico, segundo os experts no assunto, se com toda essa pressão o mercado continua respirando com o nariz acima da linha de 12 centavos de dólar por libra-peso, é difícil imaginar que tenhamos uma maior depreciação dos preços. Assim sendo, voltamos àquela máxima provocada em alguns comentários passados: quem se atreve a ficar vendido a 12 centavos?
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