Açúcar: Mercado está no chão, mas todo chão tem um buraco...
Por Arnaldo Luiz Corrêa
A queda do preço do açúcar em NY, nesta sexta-feira, acompanhou o desempenho sofrível de todas as soft commodities. O contrato futuro para vencimento julho/2019 encerrou a 11.54 centavos de dólar por libra-peso, o menor preço desde outubro de 2018. Café, suco de laranja, algodão e cacau, todos tiveram quedas de até 5%. Um leitor do comentário da semana passada rapidamente me mandou uma mensagem via WhatsApp perguntando se eu ainda tinha receio de ir vendido a descoberto a 12 centavos de dólar por libra-peso, em alusão ao meu questionamento externado naquele comentário.
Tirando o desempenho das commodities, a semana do açúcar em NY foi rica nas discussões acerca do que vai acontecer com o mercado a partir de agora. Como sempre ocorre, existem aqueles que estão mais pessimistas, outros mais otimistas e alguns sem entender o que está acontecendo. O Seminário da Datagro teve relevantes painéis abordando as perspectivas nos países asiáticos, a oferta e demanda do açúcar para 2019/2020, os próximos passos do RenovaBio e a visão dos potenciais investidores estrangeiros no setor no Brasil, entre outros.
O consenso entre as melhores cabeças pensantes do mercado aponta claramente para dois pontos que irrefutavelmente estão na composição da trajetória de preço que o mercado deverá tomar, seja ela qual for: valor do barril do petróleo no mercado internacional e a cotação do real em relação ao dólar. É o que temos observado neste espaço há muitos meses. Açúcar em NY vai seguir o produto dos dois.
A recente desvalorização do real em relação ao dólar, influenciada não apenas pelo cenário macro, mas também pela inadequação do governo Bolsonaro para fazer o que se esperava dele, ou seja, governar, tem desanimado os investidores e aumentado a desconfiança acerca da aprovação da reforma da previdência, de importância vital para o equilíbrio fiscal. As chances de que a aprovação ocorra no primeiro semestre são exíguas. Acreditamos que ela deverá ocorrer em novembro apenas, o que será, sem dúvida, um banho de água fria e a certeza de que a moeda brasileira ficará ainda mais instável até lá.
Com esse cenário, qualquer aumento do real vai pressionar as cotações do açúcar no mercado futuro de NY por parte daqueles que ainda possuem lotes em aberto que se destinam à fixação de seus contratos comerciais com as tradings. Essa questão será, na nossa visão, um importante limitador no médio prazo para o crescimento das cotações em centavos de dólar por libra-peso, visto que grande parte das usinas pensam no açúcar em reais por tonelada. Por outro lado, um corretor aqui de NY me disse que não recebeu nenhuma ordem de fixação de usinas brasileiras.
O segundo efeito da desvalorização cambial, desde que o petróleo se mantenha nos níveis atuais e não afunde para abaixo de 60 dólares por barril (Brent) será no repasse do preço da gasolina no Brasil pela Petrobrás que, diga-se de passagem, está ainda defasado em relação ao mercado internacional em cerca de 6-8%. Com isso, diminui sobremaneira a possibilidade de redução do mix de etanol pois este estará ainda negociando bem acima do açúcar em NY, comparativamente. Hoje, já se fala no mercado que o mix será de 2/3 de etanol.
O resumo da ópera é o seguinte: real fraco em um primeiro momento limita alta do açúcar pois existem fixações pendentes por parte das usinas do Centro-Sul, reagindo depois caso o petróleo se mantenha inalterado pois favorece a arbitragem do etanol contra o açúcar.
Embora grande parte dos participantes ativos do mercado reconhecem que o açúcar está extremamente pressionado, sofrendo os reflexos macros que afetam as soft commodities, ajudado pelos fundos que estão pesadamente vendidos a descoberto, parcela significativa dos traders acreditam igualmente que os fundamentos apontam para uma recuperação. A questão quando ela virá? Como me disse um experiente corretor de NY, o mercado pode estar no chão, mas todo chão tem um buraco. E o açúcar parece estar dentro dele nesse momento.
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