12/08/2019

Açúcar: Momentos Decisivos – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: Momentos Decisivos – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Os números da safra do Centro-Sul divulgados pela UNICA mostram que a moagem acumulada até 1° de agosto está atrasada em aproximadamente 2.75% em relação ao mesmo período do ano passado. A produção de açúcar atingiu 13.3 milhões de toneladas de açúcar, volume quase 10% menor do que a última safra, enquanto o etanol atingiu uma produção de 15.5 bilhões de litros, também abaixo daquela do ano anterior em 4%. O pior foi a ATR que apresentou perda de aproximadamente 6 quilos por tonelada em relação à safra 2018/19

As exportações brasileiras, último dado publicado de julho de 2019, chegaram a 1,82 milhão de toneladas de açúcar no mês, colocando o acumulado em doze meses (de agosto de 2018 até julho de 2019) para 19,173 milhões de toneladas de açúcar. Esse número é 23% inferior ao mesmo período do ano passado e o menor desde dezembro de 2008. Se compararmos um período de exportação brasileira de açúcar acumulando 24 meses, de agosto de 2017 até julho de 2019, chegaríamos a 44 milhões de toneladas de açúcar, um volume 14% inferior à média da década que foi de 51.3 milhões de toneladas de açúcar. Desde janeiro/2010 não víamos um volume tão baixo. Isso mostra um enxugamento alarmante de açúcar brasileiro (9 milhões em um ano !!!!) disponível para o mercado internacional. Quem se importa, não é mesmo? Afinal Índia e Tailândia tem sido capazes de substituir Brasil. A questão é por quanto tempo e por quantas centenas de milhões de dólares de subsídio.

É óbvio que dada a atual condição de mercado, as usinas vão focar na produção de etanol em detrimento ao açúcar também para o próximo ano. Mais investimentos estão sendo feitos em tancagem e, com a produção estagnada de ATR, há uma década, e com boa perspectiva de manutenção da preferência do consumidor pelo etanol na hora de abastecer, o açúcar deve continuar em segundo plano.

Ciente dos problemas, as tradings se esforçam em antecipar a negociação com as usinas de contratos comerciais de exportação de açúcar para o próximo ano temendo que a disponibilidade do produto seja reduzida. Chama a atenção, por exemplo, o volume de fixação de preços por parte das usinas para a corrente safra. Apenas 58.2% do açúcar estimado para a exportação está fixado, o mais baixo percentual desde que a Archer Consulting começou a apurar esses números há oito anos. Esse percentual é baixo porque a base considerada foi de exportação de 19 milhões de toneladas de açúcar. Esse número, no entanto, pode abaixar já que algumas usinas deixaram um volume não comprometido de açúcar a ser produzido para entrega no último trimestre do ano, que pode eventualmente se converter em etanol caso o preço deste continue a fazer sentido.

Historicamente, o somatório de exportação de açúcar no período abril/julho dos últimos 10 anos representou 31% do volume final da respectiva safra. Com o acumulado até o momento de 6,2 milhões de toneladas de açúcar, em tese fecharíamos o ano safra com 19.8 milhões de toneladas, o que colocaria o acumulado de 24 meses em 39.7 milhões, um enxugamento substancial de açúcar brasileiro em dois anos que chega a 13 milhões de toneladas de açúcar.

O ritmo de vendas de etanol no mercado interno chegou a 2.5 bilhões de litros no mês de junho, elevando o volume dos últimos doze meses para 30.8 bilhões de litros, um crescimento de quase 20%. Especialistas do mercado acreditam que o Brasil vai encerrar o ano com um estoque de passagem suficiente para o consumo de apenas 30 dias. Os preços podem reagir de forma violenta.

Hoje, o etanol hidratado negocia o equivalente a NY mais 190 pontos e o açúcar FOB é oferecido a um desconto de 30 pontos. Ou seja, o etanol proporciona à usina um retorno melhor equivalente a 195 reais por tonelada, quase 10 reais por saca.

Enquanto isso, os fundos aumentam a posição vendida à descoberto durante a semana em que o mercado de açúcar encerrou sexta-feira negociando a 11.90 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento outubro.

Até 30 de julho, segundo levantamento da Archer Consulting, os preços da gasolina estavam defasados em aproximadamente 16%, ou seja, a Petrobras tinha espaço para aumentar o preço na refinaria. Ocorre que com o derretimento do preço do petróleo no mercado internacional após o Twitter do presidente Trump a diferença estreitou consideravelmente e a estatal brasileira não tem pressa para reajustar preços nesse momento.

Vale observar a estratégia que muitos postos de abastecimento de combustível estão utilizando principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais que contribui para o aumento excepcional de consumo do hidratado. Eles colocam o preço do etanol numa razão em torno de 0.65 em relação ao preço da gasolina. Isso faz com que o consumidor “visite” o posto mais vezes já que para rodar a mesma quilometragem no etanol ele vai precisar abastecer com mais frequência. Visitando mais vezes o posto, as chances de usar as lojas de conveniência são 40% maiores, trazendo mais receita ao posto.

O consumo de combustível no ciclo Otto no acumulado de doze meses ainda amarga uma retração de 0.13% comparativamente ao mesmo período do ano passado. No entanto, o crescimento do PIB esperado para o próximo ano deve acelerar o consumo de combustíveis e uma vez mais o preço do etanol vai encontrar enorme suporte embora a paridade com o açúcar estreite devido à curva de preços de NY ser ascendente.

Ficar baixista no açúcar depende de uma combinação de fatores: a queda acentuada do preço do petróleo no mercado internacional, a valorização do real em relação ao dólar (que barateiam o preço da gasolina na bomba), a Índia despejando 6 milhões de toneladas de açúcar no mercado, a instauração do pânico por parte das usinas fixando o preço do açúcar antes que o outubro expire, os fundos aumentando ainda mais a posição vendida que possuem (na terça passada estavam 149,000 lotes). Dessas, a mais factível seria a queda do petróleo, mas esta teria como suporte o custo do gás de xisto.

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