Açúcar: O mercado só precisa de uma faísca – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão de sexta-feira com o contrato para vencimento maio/2019 cotado a 12.75 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 20 pontos em relação à semana anterior. O mercado tentou quebrar os 13 centavos de dólar por libra-peso, mas uma vez mais não conseguiu. O fechamento da semana, combinado com o dólar cotado a R$ 3.8730 equivale a R$ 1,134 por tonelada FOB. Guarde esse número.
Nas últimas cinco safras, de 2014/15 até a 2018/19 que agora se encerra, a valor médio negociado em NY convertido em reais e atualizado monetariamente pela inflação é de R$ 1,334 por tonelada. Ou seja, o preço atual está defasado em 15% em relação à média. Se considerarmos que os fundamentos tendem a se fortalecer conforme vamos entrando na safra nova e a percepção de menor disponibilidade de açúcar torna-se mais clara, NY deveria – em tese – começar a buscar níveis mais altos.
Já sabíamos que este seria um ano de volatilidade e tudo leva a crer que a profecia vai se confirmar. Nenhum pais consegue produzir açúcar aos níveis de preço atuais. Enquanto as usinas mais eficientes do Brasil conseguem produzir açúcar ao custo caixa (sem despesas financeiras) aproximado de 9.10 centavos de dólar por libra-peso na usina, na Tailândia esse custo dispara para 13.27, na Europa 16.17 e na Índia 17.20 centavos de dólar por libra-peso!!!
Estamos vendo redução de safra na Europa, com muitas empresas apresentando resultados deploráveis nos balanços, chacoalhando as estruturas corporativas. O mesmo vale para as tradings que reduzem seus quadros, mudam suas mesas de negociação, objetivando redução de custos e aumento de eficiência em épocas de margens estreitas e riscos largos. O mundo do açúcar vai mudar rapidamente.
Voltando às médias, no primeiro quartil encontramos R$ 1,131 por tonelada (preço ajustado pela inflação). Isso quer dizer que em apenas 25% das vezes, nos últimos cinco anos, o mercado negocia abaixo dele (e estamos em cima dele agora!!!). Faria sentido que na situação que o mercado se encontra agora, com perspectiva de redução de disponibilidade de açúcar no Centro-Sul, o contrato de açúcar negocie abaixo desse valor? Parece que não. Em 50% das vezes, o mercado negocia entre R$ 1,131 e R$ 1,579 por tonelada. E em apenas 25% das vezes negocia acima de R$ 1,579. Em outras palavras, fixar preços agora significa fechar os olhos para uma eventual recuperação dos preços. Por isso, recomendamos na semana passada que quem não tivesse fixado preços no maio rolasse para o vencimento seguinte.
A Índia caminha para uma produção de 32.6 milhões de toneladas de açúcar, ligeiramente acima do que o mercado previra. No entanto, acredita-se que a 2019/2020 será uma safra menor. O mesmo deve ocorrer com a Tailândia. As exportações brasileiras de açúcar somam 20.6 milhões de toneladas, um volume 25% menor do que o mesmo período do ano passado. Em 24 meses, a exportação brasileira soma 48.3 milhões de toneladas de açúcar. Quando observamos o volume de dois anos, isso nos dá uma visão mais ampla de quanto o Brasil tirou de açúcar do comercio internacional e/ou quanto que outros países precisariam suprir de volume. Esse volume (48.3) é o menor desde 2010. Na média, em dez anos, o volume de açúcar brasileiro cobrindo um período de 24 meses foi de 50.7 milhões de toneladas de açúcar. Mas, onde vamos chegar?
Essa é a questão de milhões de dólares. Esse ano, dada a produção limitada de açúcar (Centro-Sul com pouco menos de 27 milhões de toneladas de açúcar), a estimativa é que o Brasil exporte 21 milhões de toneladas. Vamos chegar em março de 2020 com uma exportação acumulada de 24 meses de 41 milhões de toneladas. Quando isso ocorreu pela última vez? Há dez anos. Considere a média de dez anos de 50.7 milhões de toneladas (como mencionamos acima) e compare com 41 milhões de toneladas em março de 2020. Quem vai suprir isso no final? Como os preços reagirão?
Se fomos buscar os comentários de alguns meses atrás, veremos que os únicos fatores que podem determinar uma piora dos preços do açúcar no mercado internacional são o preço do petróleo (digamos, WTI abaixo de 50 dólares por barril) e a desvalorização acentuada do real. Mas, apesar do risco que parece ser o de ficar vendido a descoberto nesses níveis, os fundos dão de ombros e ainda possuem uma posição vendida a descoberto de mais de 100,000 lotes (equivalentes a exportação brasileira de três meses). Qualquer faísca nesse mercado pode ter consequências fatais (para os fundos, evidentemente).
A Archer Consulting divulgou esta semana a 1ª previsão da safra de cana no Centro-Sul. Nossa estimativa é de 572 milhões de toneladas de cana, um pequeno acréscimo em relação à produção do ano passado (ainda não totalizada, mas que se espera em torno de 565 milhões de toneladas de cana). Acreditamos que o envelhecimento do canavial, a falta de novos investimentos, a minguada expansão de área cultivada, além do escasso trato cultural motivado pela falta de dinheiro vão reduzir a ATR para 136,95 kg (safra passada 138,36). A produção de açúcar no Centro-Sul está estimada em 26,871 milhões de toneladas de açúcar e a de etanol soma 29,5 bilhões de litros.
Estimamos que as usinas estejam fixadas em 10.2 milhões de toneladas de açúcar para a safra 2019/2020, que representam 48.61% das 21 milhões de toneladas de açúcar que o Brasil deverá exportar este ano. Evidentemente que esse número de exportação pode ser menor em função da produção menor este ano. O preço médio obtido pelas usinas, segundo o nosso modelo, é de 13,08 centavos de dólar por libra-peso FOB, com prêmio de polarização. Em reais, estimamos que a fixação represente 1,163,49 reais por tonelada FOB, com pol.
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