Açúcar: O mundo é cruel – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mês de novembro se encerra revelando uma dolorosa desvalorização das commodities no segmento de energia. Petróleo WTI despencou 22.5%, o Brent derreteu 21%, a gasolina 20.5% e o óleo de aquecimento 19%. No caso da gasolina, a queda vai afetar o preço de importação da Petrobras e consequentemente piorar a arbitragem do etanol com o açúcar, colocando em dúvida o mix de produção para o próximo ano. Na outra ponta, como maior acréscimo mensal está o Gás Natural que subiu quase 40% e levou à derrocada este mês de um fundo em Tampa, Florida, cujo gestor se atreveu a ficar vendido a descoberto uma enorme quantidade de calls (opções de compra) fora-do-dinheiro.
O açúcar encerrou a semana com o vencimento março de 2019, cotado na bolsa de NY a 12.83 centavos de dólar por libra-peso. Uma vez mais tentou quebrar os 13 centavos de dólar por libra-peso, conseguiu, mas imediatamente voltou para território negativo. Como dissemos aqui por diversas vezes, o mercado de açúcar ainda necessita de uma consolidação proveniente de um quadro mais claro acerca da produção do próximo ano. Existem vários fatores que podem trazer sustentação aos preços, mas esses fatores dependem da trajetória da economia brasileira, do movimento do real em relação ao dólar, de como o petróleo vai se comportar, cada um com seu peso específico.
É razoável admitir que o preço do açúcar no mercado internacional tem uma predisposição a se apreciar no primeiro trimestre do próximo ano, momento em que algum desses fatores mencionados acima se tornarem mais cristalinos. E a eles poderão se somar também a constatação, por muitos anunciada, de que o superávit mundial será muito menor do que se estimava, de que Tailândia e Europa terão igualmente produção menor.
Há muito temos dito neste espaço que será interessante observar como é que o mercado mundial vai se comportar com a retirada maciça de volume de exportação por parte do Brasil. A Archer Consulting estimava uma exportação de 21 milhões de toneladas de açúcar para 2018/2019, mas esse número tende a ser bem menor. Alguns analistas colocam como apenas 18 milhões de toneladas de açúcar. Acreditamos que pode ser 19.2 milhões de toneladas de açúcar.
Um ponto sobre o qual vale a pena uma reflexão sobre esta questão específica é que nesta década a menor exportação brasileira de açúcar, computado um período móvel de doze meses, foi de 21.9 milhões de toneladas (de outubro de 2011 a setembro de 2012), e a menor num período móvel de 24 meses foi de 47.5 milhões de toneladas (de fevereiro de 2014 até janeiro de 2016).
Caso o atual cenário se mantenha, ou seja, sem expansão do canavial e maior parte da cana indo para a produção de etanol, podemos ver o acumulado de 24 meses em março de 2019 chegar abaixo de 47.5 milhões de toneladas de açúcar, e um ano depois, ou seja, em março de 2020 derreter para 40 milhões de toneladas de açúcar. Quem vai suprir o mercado internacional com esse enxugamento acumulado? Haverá reflexos.
Por isso, estamos construtivos (diferente de ser incondicionalmente altistas) em termos de preço para o próximo ano. O cenário macro mundial, segundo alguns economistas, diminui a possibilidade de o real se fortalecer em relação ao dólar além do piso de 3.5000. Assim, existe real possibilidade de no ano que vem o açúcar beliscar R$ 1,300 por tonelada com espaço para ir mais além (aposto em R$ 1,400, puro palpite). Claro, que isso tudo depende da relação mais importante que afeta o nosso mercado: petróleo e real.
Na próxima quarta-feira, dia 05 de dezembro, estarei em Ribeirão Preto, no 17º Seminário do Grupo Idea, no Centro de Convenções, palestrando sobre o tema “Perspectivas para o Mercado Internacional de Açúcar em 2019”. Se vocês estiverem por lá, vai ser um prazer poder ter um minuto de prosa. Até lá.
Como diz um sobrinho meu que também atua no mercado de commodities, “o mundo é cruel”. Tão logo o mercado tomou conhecimento que o gestor de fundo James Cordier detonou centenas de milhões de dólares no seu fundo, vendendo opções a descoberto, começaram a aparecer vários anúncios na internet de escritórios de advocacia oferecendo serviços para aqueles investidores processarem o citado gestor e tentar recuperar a grana perdida. Enquanto isso, na Amazon, o livro “The Complete Guide to Option Selling” do mesmo guru, é oferecido a US$ 3.99. Realmente, o mundo é cruel.
O XXXI Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas ocorrerá nos dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de março de 2019, no Hotel Paulista Wall Street, na Bela Vista, em São Paulo (SP). As vagas são limitadas. Para mais informações, mande e-mail para priscilla@archerconsulting.