Açúcar: O que está errado com esse cenário?
Por Arnaldo Luiz Corrêa
Segundo o Fundo Monetário Internacional, a economia dos países emergentes vai crescer em 2018 em média 4.9%, enquanto nas economias avançadas o crescimento deve ser de 2%, com a média global alcançando os 3.7%. Apenas três países vão ter crescimento abaixo de zero: a Venezuela do ditador Maduro (queda de 6%), a República da Guiné Equatorial, outra ditadura, com queda de 7.8% do PIB e a recém independente Sudão do Sul com queda de 3.4%.
As principais regiões consumidoras de açúcar, no entanto, Ásia, Norte da África e Oriente Médio crescem este ano 5.4%, 4.1% e 2.8%, respectivamente. Para os dois próximos anos, o FMI acredita em números continuamente ascendentes variando uns poucos décimos. O crescimento do consumo de açúcar, após análise desses números do FMI, deverá ser maior do que o estimado pela maioria das casas comercializadoras da commodity.
O consumo mundial de açúcar cresceu em média 1.85% ao ano nos últimos oito anos e pode ser incrementado pelo vigor da atividade econômica nas regiões mencionadas. É factível, acredita-se, no crescimento em torno de 2.3%, ligeiramente superior ao número apresentado pelo Diretor Executivo da Organização Internacional do Açúcar, José Orive, em recentes palestras, o que pode demandar adicionais 1.6 milhões de toneladas de açúcar até a 2019/2020.
Enquanto isso, os fundos continuam adicionando mais vendas a descoberto em suas robustas posições vendidas (agora com inacreditáveis 166.533 contratos equivalentes a 8.46 milhões de toneladas de açúcar) muito embora – se usarmos apenas a razão como discutido extensamente no último comentário semanal – nenhuma mudança nos fundamentos ocorreu nos últimos dias que justificasse uma queda de 200 pontos no mercado !!!
No acumulado do ano, o açúcar lidera sozinho a queda expressiva de 12.5% seguido muito de longe por outra soft commodity, o café, com queda de 1.3%. No mais, todas as commodities agrícolas operam no azul este ano. No mercado de energia, o petróleo acumula alta de quase 10% no WTI e pouco mais de 5.5% no Brent.
Desde a introdução da política de formação de preços da Petrobras acompanhando o mercado internacional, abriu-se a oportunidade para as usinas fazerem operações de proteção contra variações negativas de preço do etanol usando o petróleo. E desde então, a Archer tem acompanhado os fechamentos do petróleo e comparado com os preços do hidratado.
Após compilar esses dados e fazer os ajustes necessários para diminuir as dispersões e melhorar a aderência do modelo então desenvolvido, já dá para perceber que a correlação é bastante alta; hoje está em 95.1%. O modelo é capaz de prever com razoável acurácia qual o preço do hidratado nos próximos cinco dias úteis. Não é por outra razão, que estamos vendo algumas usinas hedgear o preço do etanol usando o Brent. Apesar de o risco de hedge cruzado (quando usamos um mercado para hedgear outro) ser inerente, a aderência das duas curvas (Brent e hidratado) dá muito conforto em usar essa estratégia.
O argumento favorito dos baixistas quando vemos a disparidade entre o preço do etanol e o preço do açúcar (hidratado negociando a 400 pontos sobre NY) é de que o etanol vai cair de preço no começo da safra pois as usinas vão precisar de dinheiro imediato para fazer frente às despesas incorridas no plantio. É possível. Mas, ainda assim, como observamos no comentário da semana passada, o ponto que queremos fazer é quão baixista ainda podemos ser a 13.36 centavos de dólar por libra-peso?
Alguns ingredientes seriam necessários para que o mercado de açúcar em NY se mantenha no atual nível até o início da safra: o etanol precisaria despencar, mas não a tal ponto que o colocasse na paridade de 65% senão a demanda por ele seria cada vez maior. Então, temos que colocar numa equação alguns limitantes: o etanol pode cair, mas não pode ficar mais barato do que 65% do preço da gasolina na bomba; para se igualar ao valor do açúcar equivalente em NY, o petróleo precisa cair ou o real precisa se valorizar (ou uma combinação dos dois). Mas, não podemos nos esquecer de que o preço na bomba é composto por 40% de combustível (28% gasolina A importada pela Petrobras e 12% do anidro), ou seja, para que o preço caísse na bomba o Brent teria que derreter.
Se esperássemos uma tempestade perfeita que combinasse o real se valorizando em relação ao dólar a R$ 3,0000, o Brent despencando para 55 dólares por barril, o etanol no limite de 65% do preço da gasolina na bomba, ainda assim o hidratado estaria negociando ao equivalente a 100 pontos sobre NY.
Dessa forma, estressando o cenário com muito cuidado, onde caros leitores, vocês colocariam suas fichas apostando a direção que o mercado vai tomar? Para onde estão os próximos 100 pontos de variação? Para cima ou para baixo. O que está errado com esse cenário?
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