Açúcar: Quando entrar setembro – Por Arnaldo Luiz Corrêa
Nova York encerrou a semana com o contrato futuro de açúcar para vencimento outubro/2019 cotado a 12.02 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 43 pontos ou quase 10 dólares por tonelada em relação à semana anterior. Os preços mais baixos em NY no início da semana passada, preparavam o mercado para novas baixas. É notório que a combinação de preços deprimidos e volatilidade baixa desestimulam as tradings a se posicionarem agressivamente no mercado. Os fundos, em contrapartida, adicionaram mais vendas à descoberto e no relatório dos comitentes com base na posição de terça-feira estavam nada menos do que 160,497 lotes vendidos.
O longo tempo de vacas magras para as empresas comercializadoras de açúcar, convivendo com margens extremamente reduzidas, bem como o alto risco creditício ao lidarem comercialmente com empresas em sérias dificuldades financeiras, afastam as tradings de tomarem posições mais agressivas. Além disso, a constante e irritante sonolência no mercado físico de açúcar diminui o giro de estoque e requer mais capital de giro para manter a roda girando. Fossem outros os tempos atuais, as tradings estariam pesadamente compradas nesse mercado, tanto nos futuros e quanto no basis.
O giro de estoque é um elemento chave na dinâmica do mercado de commodities. Mercados cujos estoques giram muito propiciam menor margem, melhor competitividade e aumentam a possibilidade de novos entrantes, mormente os de pequeno e médio porte, num resultado saudável para todo o segmento.
Por outro lado, a diminuição do giro não raramente pode inviabilizar a permanência no negócio para algumas empresas. Uma redução do giro de 50 dias para 90 dias, por exemplo, demandaria da trading aproximadamente 80% a mais de recursos financeiros apenas para manter a mesma receita. Como isso nem sempre é exequível, ou se reduz a estrutura organizacional, ou se passa essa conta para o produtor por meio do aumento do desconto oferecido na compra do produto, ou aumenta a seletividade deixando as empresas menos saudáveis financeiramente tendo que oferecer descontos maiores para levarem seus produtos, ou aumenta-se o risco nos mercados de derivativos. O mercado de açúcar parece estar nessa fase em que essas alternativas são combinadas em diversas proporções.
Um corretor de futuros nos EUA alertou que a posição de contratos em aberto no mercado de açúcar pouco alterou com o rally (subida vigorosa dos preços) na semana passada, ou seja, não houve cobertura de posições curtas por parte dos fundos. Isso deixa a posição dos fundos mais vulnerável, embora de maneira muito confortável, pois não se vislumbra nenhuma preocupação por parte dos fundos com a atual posição. Dessa forma, embora os fundamentos estejam mostrando a cara, acredito que essa ligeira recuperação que observamos ao longo desta semana ainda precisa de consolidação. É prematura a recuperação e alguns sinais precisam ocorrer para que essa consolidação comece a tomar corpo.
Entre os principais sinais que corroborariam com essa tese (a recuperação do mercado) são, primeiramente, o estreitamento do spread outubro/março. Difícil montar a assunção de que estamos num mercado construtivo fundamentalmente falando, com o spread outubro/março negociando a 100 pontos, que correspondem a um carrego de 21% ao ano, em dólares !!! Isso ocorre, evidentemente, pela anemia do mercado físico, pelos descontos cada vez maiores que são dados, pelo temor de uma entrega de açúcar em NY para o final de setembro, quando o contrato de outubro expira. Em segundo lugar, o mercado físico mostra reação quando o basis se fortalece. Nenhum desses dois sinais ainda foram percebidos.
Por outro lado, o mercado em NY tem sido puramente ou praticamente influenciado pelos fundos e algoritmos. Basta observamos os comportamentos erráticos que eles têm tido. Oscilam de maneira abrupta sem que nada tenha ocorrido no campo dos fundamentos. Um experiente trader alerta que “não descartaria o fato de termos um grande participante do mercado entregando um volume bem grande em outubro para derrubar o mercado”.
Na vida real, o número publicado pela UNICA é preocupante: estamos atrasados 4% em relação ao mesmo período do ano passado, uma queda de quase 11% na produção de açúcar, um encolhimento de 8% na ATR, ou 5,5 quilos a menos por tonelada de cana. Enquanto isso, a venda de etanol continua subindo. Esses dois pontos combinados poderão ser explosivos quando setembro chegar.
Continuamos acreditando que 12 centavos de dólar por libra-peso em NY se constituem numa excelente oportunidade de compra. O etanol hidratado negocia a 200 pontos acima de NY na média semanal. A reação do mercado, considerando a posição dos fundos pode eventualmente buscar essa paridade. Acho que podemos ver ainda no último trimestre do ano um rally de 200 pontos ou mais.
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