Açúcar: Quem dá as cartas? – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro de 2018 fechando abaixo de 11.00 centavos de dólar por libra-peso, desvalorizado em 39 pontos em relação à semana anterior, uma perda de 8.60 dólares por tonelada. Baseado no fechamento do câmbio na sexta-feira, uma tonelada de açúcar chegaria ao porto de Santos cotada a R$ 930, muito abaixo da meta de R$ 1,050 que muitas usinas perseguiam.
Os fundos não indexados continuam dando as cartas no mercado de açúcar e, como sempre ocorre em situações de mercado similares a essa que estamos atravessando, o que se observa é um exagero que pressiona os preços muito além da conta, da mesma forma que em outros momentos, elevou o preço muito além do razoável.
Os fundamentos pesam e estão refletidos no preço já há muito tempo. As notícias mais recentes, inclusive, são mais construtivas. Menor número de moagem de cana no Centro-Sul, caminhando para 555 milhões de toneladas de cana; o temor que a moagem terminará mais cedo do que se supunha, a nítida piora do canavial que, segundo alguns especialistas da área agrícola das usinas, será sentida a partir da moagem da segunda quinzena deste mês e de todo o mês que vem. Redução de cana e ATR combinadas. Será que os altistas saíram de férias.
O que destoa nesse quadro aparentemente mais construtivo, neste momento, é que de um lado temos os fundos bastante agressivos na venda de futuros, agindo com o mesmo rigor no mercado de café, outra das soft commodities bastante desvalorizada. Dentro da estrutura que desenharam, os fundos estão long (comprados) energia (petróleo e gasolina, por exemplo) e short (vendidos) as softs. No acumulado do ano, açúcar e café despencaram 28% e 12%, respectivamente, enquanto gasolina e petróleo subiram 18% e 14%, respectivamente no mesmo período. Os fundos estão vendidos quase 100,000 lotes de açúcar.
Um fundo, por exemplo, que tenha investido US$ 100 milhões de nocional (o valor total do ativo numa posição alavancada) na compra e US$ 100 milhões na venda, ou seja, zero de exposição somadas, hoje teria em caixa US$ 36 milhões, se dividisse a posição em partes iguais nas commodities citadas na compra e na venda. A posição que os fundos têm hoje no açúcar representam um valor nocional superior a US$ 1 bilhão.
Se a posição dos fundos estivesse majoritariamente calcada no direcional do açúcar, por exemplo, as chances são que os fundos, no nível de preços atuais, teriam já recomprado a posição vendida e colocado o lucro no bolso. No entanto, a abordagem dos fundos numa estratégia long-short, que é essa em que eles estão empenhados, olha-se o todo. Como estão ganhando muito dinheiro com a alta do petróleo e também com a baixa do café e do açúcar nas posições vendidas a descoberto, não há pressa em liquidar da posição.
Foi muito claro há duas semanas, por exemplo, quando o petróleo despencou (WTI) e no mesmo instante café e açúcar subiam, sem que os traders dessas commodities pudessem explicar as razões de maneira desapaixonada. Convenhamos que o potencial de ganho numa posição vendida nos atuais níveis é limitado. Mas, o racional por trás da tomada de decisão dos fundos é quanto que eles estão ganhando em energia. Simples assim.
Mas, não é só isso. O ingrediente mais perverso dessa equação que limita uma eventual alta nos preços é o famigerado atraso das usinas nas fixações de preços. A Archer Consulting apurou que até o final de junho, as usinas tinham fixado 68.5% da safra 2018/2019, número que é preocupantemente baixo se compararmos com o ano 2016/2017 quando, no mesmo período, quase 95% já estava fixado. As fixações foram sendo roladas para os vencimentos seguintes, na esperança de preços melhores, que nunca se concretizou e deixou uma espada na cabeça de usinas que agora estão pressionadas pelo tempo e pelo navio que está apitando no porto.
Do outro lado do planeta, as informações dão conta de que a Tailândia pode mudar de cultura substituindo cana por outra cultura mais rentável. O custo de produção na Tailandia deve estar em torno de 16.50-17.00 centavos de dólar por libra-peso, lembrando que a moeda tailandesa foi a que mais se valorizou diante do dólar comparativamente às outras moedas de países emergentes. Na Índia, os produtores continuarão com a cana já que não há alternativa, mas há dúvidas se o governo vai subsidiar as exportações após as eleições. Existe maior predisposição para que o governo indiano ajude a manter os estoques internamente. Em outras palavras, embora o mundo tenha um enorme superávit, não necessariamente a produção indiana vai chegar ao mercado internacional nesses preços baixos.
Esta á a sua última chance. Depois só em março de 2019. O 30º. Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas vai ocorrer nos dias 7, 8 e 9 de agosto, em São Paulo - SP, no Hotel Wall Street, na Rua Itapeva. Ainda estão disponíveis cinco vagas (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)