19/02/2018

Açúcar: Seis meses enfadonhos – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: Seis meses enfadonhos – Por Arnaldo Luiz Corrêa

 

 

Certa vez ouvi numa palestra do Nassim Taleb um interessante argumento. Dizia ele que se você batesse com o carro a 100 km por hora de frente com um muro, o impacto poderia ser mortal. Muito mais do que se você batesse com o carro no mesmo muro duas vezes a 50 km por hora, ou 10 vezes a 10 km por hora. Ou seja, bater no muro vai ter maior ou menor impacto dependendo não do muro nem do carro, mas da velocidade. Admiro o professor pela maneira simples que ele coloca o óbvio.

Tomo emprestado o argumento do analista de riscos e ensaísta, comparando uma queda brusca do mercado com a mesma queda em valores absolutos, desta vez, diluída ao longo do tempo. O impacto da queda brusca é maior. Quando o pânico entra pela porta os traders se atiram pela janela do décimo andar. E alguns, enquanto estão passando pelo terceiro andar em queda livre, ainda pensam “até aqui, por enquanto, tudo bem”.

Veja o mercado de açúcar desses últimos tempos, por exemplo. Estamos há seis meses, seis longos meses negociando dentro de um intervalo enfadonho de 250 pontos. Desde 18 de agosto, vimos a máxima de 15.49 centavos de dólar por libra-peso e a mínima de 13.01 centavos de dólar por libra-peso. E o mais interessante é que a percepção que temos é que o mercado parece que caiu mesmo só agora, não é? A mínima de 13.01 centavos de dólar por libra-peso ocorreu em setembro, há cinco meses.

Comparativamente, estamos mais próximos dos viajantes do carro que bateu 10 vezes a 10 km por hora do que daquele mortífero. Sabe qual a média dos fechamentos de NY desses 6 meses? 14.21 centavos de dólar por libra-peso. Isto é, considerando o fechamento de NY nesta sexta-feira, de 13.38, estamos a menos de 6% da média. Mas, o sentimento que temos é de que batemos o carro contra a parede a 100 km por hora.

O alvoroço e a estupefação acerca da trajetória atual do mercado futuro de açúcar vêm, na verdade, do fato de aqueles que se atem aos fundamentos do mercado concordarem que os níveis atuais de preço estão incompatíveis com o custo de produção de açúcar no Centro-Sul, com o fato de a paridade com o hidratado estar completamente distorcida e – poucos entendem – que o fato de termos um superávit global de açúcar não é capaz de suprir as dificuldades logísticas que Índia e Tailândia tem de substituir os cinco ou talvez seis milhões de toneladas de açúcar que o Brasil deixará de produzir nesta safra que se aproxima.

Nesses últimos 126 pregões, que compreendem o intervalo mencionado acima, a volatilidade foi de 28.26%. Nos últimos 50 dias, a volatilidade foi de 26.75%, coincidentemente a mesma dos últimos 100 dias. Mas, qual é o ponto afinal?

O ponto é que o mercado está prestes a fazer um movimento mais robusto. Seis meses de marasmo e volatilidade declinante são componentes que costumam cansar os fundos e incentivá-los a desfazer suas posições voando para outros mercados ou mesmo virando a mão.

O gatilho, continuo afirmando, será a percepção mais clara adiante do tamanho efetivo da safra de cana no Centro-Sul para 2018/2019. E, principalmente, do percentual destinado a cada produto. Os fundos continuam carregando uma imensa posição vendida de 146.000 lotes e ganham algumas centenas de milhões de dólares com ela, mas continuam sem a menor pressa de liquidá-la enquanto existir pressão por parte das usinas atrasadas em fixarem seus açúcares e, principalmente, enquanto os consumidores nem se coçam para antecipar eventuais compras.

O que tem impedido qualquer reação do mercado não é o tal superávit que paira sobre nossas cabeças, porque esse é o mesmo discutido há 2, 3 ou 4 meses atrás. O que impede o mercado de qualquer reação até o momento é o volume ainda a ser fixado pelas usinas e o desempenho ruim das soft commodities que são a ponta vendedora de uma operação de long short carregadas pelos fundos, que liquidaram timidamente a parte comprada (energia) e vão vagarosamente desfazendo a parte vendida (açúcar e café).

A média do fechamento de fevereiro deve ser menor do que a de janeiro, como mostra o nosso modelo. No entanto, março deverá ter uma reação apontando para acima dos 14.50 na média, o que pode-se esperar preços tocando os 15 centavos de dólar por libra-peso novamente.

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