Açúcar: Sinais positivos para os mercados de açúcar e etanol
Por Arnaldo Luiz Corrêa
A semana foi encurtada pelo feriado de Ação de Graças nos EUA. Na sexta-feira, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão cotado a 12.95 centavos de dólar por libra-peso, 12 pontos acima do fechamento da semana anterior, uma alteração de quase três dólares por tonelada. Finalmente NY conseguiu ultrapassar a barreira dos 13 centavos de dólar por libra-peso, o que não ocorria desde o início de agosto. Como o real se desvalorizou durante a semana e fechou a sexta-feira com o dólar cotado a R$ 4.2400, NY alcançou o equivalente a R$ 1,265 por tonelada (R$ 30 por tonelada melhor).
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) divulgou relatório mostrando que a demanda de combustível está aquecida. O consumo do Ciclo Otto em outubro/19 subiu 5.9 % contra outubro/2018. O etanol hidratado foi negociado a R$ 2,0720 por litro, na usina, sem impostos, equivalendo ao açúcar em NY com prêmio de 175 pontos.
Num dia de volume fraco pós-feriado nas bolsas nos EUA, o mercado de energia derreteu com perdas que chegaram a 4% no petróleo e mais de 6% no gás natural. Não há confirmação de que as perdas no mercado de energia estejam relacionadas às promoções do Black Friday. Brincadeiras à parte, analistas acreditam que 56 dólares por barril no WTI é um ponto de compra e a queda terá prazo de validade.
Ainda em função do feriado, o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, não divulgou a posição dos fundos. Estamos no limbo, mas experientes corretores em NY, munidos de suas portentosas bolas de cristal acreditam que eles estão ainda vendidos 70,000 lotes. Ou seja, reduziram aquela enorme posição vendida em 100,000 lotes e moveram o mercado apenas 100 pontos. No entanto, vamos ficar atentos à posição em aberto das calls (opções de compra) de preço de exercício ao redor de 13.00 centavos de dólar por libra-peso com vencimento para março/2020. Elas podem ser um poderoso instrumento de aquecimento do mercado, pois o total de lotes em aberto nos preços de exercícios de 13.00 e 13.50 é de quase 60,000 lotes.
Falando de opções, na semana, comentou-se acerca de uma operação de compra de puts (opções de venda) com preço de exercício de 12.50 centavos de dólar por libra-peso e vencimento em março de 2021, cujo prêmio foi negociado por 0.50 centavos de dólar por libra-peso. Aparentemente o equivalente a 100,000 toneladas de açúcar foram negociadas nessas condições com objetivo de proteger a produção de uma usina. Olhando a curva à termo do real contra o dólar, o valor da proteção foi ao redor de R$ 1,210 por tonelada equivalente FOB Santos. Nada mal se levarmos em consideração que o custo de produção de muitas usinas no Centro-Sul aproxima-se de R$ 1,000 por tonelada (custo caixa).
Como se sabe, a volatilidade do mercado de açúcar está no nível mais baixo dos últimos cinco anos. Algo em torno de 17-18% anualizada. Sempre que uma circunstância como essa ocorre no mercado de opções, ou seja, quando a volatilidade está baixa, é uma excelente oportunidade para se comprar proteção, pois o seguro (o prêmio da opção) está barato. Aliás, está com o preço razoável exatamente porque o mercado de açúcar tem ficado espremido num intervalo restrito de preços já há muito tempo e os operadores, seguros que os preços não mudarão significativamente, vendem as extremidades que acreditam não serão superadas.
Existe uma disfuncionalidade no mercado cambial que deve ser analisada com o devido cuidado. O real foi na contramão da trajetória que todos esperavam. Há algumas semanas apostava-se que encerraríamos o ano com a moeda americana valendo R$ 3,8000. Nesse meio tempo, o leilão do pré-sal havia antecipado a entrada vigorosa de capital estrangeiro, desvalorizando o dólar e fazendo com que alguns bancos se antecipassem ao leilão e vendessem pesadamente a moeda americana apostando na valorização do real em vista do citado leilão. A frustração com a operação do pré-sal apressou a cobertura de posições vendidas bem como assustou as empresas comercializadoras que tinham operações de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) vencendo no curto prazo. Uma avalanche de compras exorbitou o valor da moeda americana e agora estão todos lambendo duas feridas.
Para piorar o cenário, a expectativa de manutenção da taxa de juros americana valorizou o dólar frente as moedas dos países emergentes. A baixa taxa de juros no Brasil também desencoraja a entrada de dólares no país porque o spread não compensa o risco político e jurídico que emana das decisões erráticas que temos assistido. Enfim, mais um ingrediente indigesto no processo decisório.
Dólar mais alto, no entanto, encarece a importação de petróleo em reais e favorece a arbitragem do etanol hidratado com o açúcar de exportação. Ou seja, mesmo pressionado pelo real mais fraco, o contrato de açúcar em NY que deveria cair porque as usinas obtêm mais reais na hora de fixar seus contratos comerciais, encontra suporte em função da contrapartida do hidratado que tem espaço para subir devido ao preço mais alto da Petrobras na importação de gasolina. O mercado está ficando interessante. Acreditamos em 14 centavos de dólar por libra-peso no março/2020 no mais tardar no primeiro bimestre do ano.
A primeira estimativa da Archer Consulting do volume de fixação de preços dos contratos comerciais das usinas para a safra 2020/2021, apurada em 31 de outubro de 2019, aponta que 3,258 milhões de toneladas de açúcar já estavam fixadas até aquela data. Na safra passada, no mesmo período, o volume de fixação era de 5,499 milhões de toneladas de açúcar. Se assumirmos que o Brasil deve exportar 19,5 milhões de toneladas de açúcar na próxima safra, então 16,71% do volume de exportação da safra já estaria fixada.
O valor médio apurado das fixações é de 12,87 centavos de dólar por libra-peso, ou 52,64 centavos de real por libra-peso, sem prêmio de polarização, equivalentes a R$ 1,209 por tonelada FOB Santos (com polarização). No ano passado, no mesmo período, o valor médio das fixações era de 13,10 centavos de dólar por libra-peso (sem pol), equivalentes a R$ 1,170 por tonelada FOB Santos (com pol). O volume menor de fixação comparativamente aos anos anteriores deve-se ao fato de as usinas terem postergado as fixações da safra 19/20, adiando a decisão de fixar a 20/21. O preço em reais por tonelada da safra 2020/2021 é maior do que a safra anterior devido ao real mais fraco.
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