Açúcar: Um implacável triturador de gurus – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY esforça-se para se consolidar ao redor dos 13.50-14.00 centavos de dólar por libra-peso para o contrato com vencimento em março de 2019. NY fechou nesta sexta-feira a 13.72 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 25 pontos no dia, mas apenas 15 pontos em relação à semana anterior.
No acumulado do mês de outubro, o açúcar lidera entre as commodities que mais se valorizaram com alta de 22.59% seguido do café com 16.89%. Já entre as commodities que mais caíram, estão a gasolina com 13.36%, seguida do petróleo WTI e Brent com quedas de 8% e 7%, respectivamente, corroborando com a nossa opinião acerca do posicionamento de parcela dos fundos não-indexados que possuíam uma estrutura long/short em que estavam comprados energia e vendidos softs. Ao liquidarem seus contratos comprados em energia (vendendo-os), tiveram que liquidar também os contratos vendidos em softs (recomprando-os).
Por qual razão o mercado futuro não sobe mais, considerando que no atual nível de preço negociado em NY, os países produtores competidores diretos do Brasil possuem um custo de produção bem acima dele? Bem, as melhores usinas do país situam seus custos de produção (custo caixa) entre R$ 40,89 e R$ 45,39 por saca de 50 kg posto na usina, que equivalem hoje, respectivamente, a 11,50 e 12,55 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos. As demais usinas apresentam um custo caixa equivalente próximo dos 14 centavos de dólar por libra-peso.
O fato é que, independentemente do grupo a que pertencem, muita fixação está sendo feita utilizando o NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira), ou estruturas com opções que permitem um preço mínimo de remuneração ao acionista (aqui recomenda-se olhar o EBITDA) por meio de uma fence, que consiste na compra de uma put (opção de venda) financiada pela venda de uma call (opção de compra). Em outras palavras, ninguém parece estar disposto a cruzar os braços e não fazer nada esperando por preços melhores. Mas, existem várias razões fortes para continuar com as fixações. Vamos a elas.
A queda do preço de energia forçou os fundos a liquidarem suas posições e isso refletiu ainda que fosse contra os fundamentos (café por exemplo subiu muito rapidamente) ou contra o que se achava ser um excepcional superávit mundial do açúcar. Peguem os relatórios que circularam no mercado de açúcar há menos de dois meses e vocês verão, caros leitores e leitoras, como muita gente de insuspeita reputação errou feio. O mercado de açúcar é um implacável triturador de gurus.
Com a quase certa eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil no pleito deste domingo, especula-se que o presidente eleito divulgue os nomes que ocuparão os ministérios (que ele disse que surpreenderão positivamente a sociedade), bem como anuncie as principais medidas de políticas econômicas e fiscais para 2019. O mercado pode reagir positivamente a elas refletindo imediatamente num real mais forte. Esse ponto pode fazer com que a Petrobras reduza ainda mais o preço de realização da gasolina nas refinarias impactando no preço final na bomba e estreitando o spread desse combustível com o etanol. Favoravelmente ao etanol existe um fator de peso: o ganho de mercado adquirido pelo preço competitivo do hidratado comparativamente ao da gasolina nos últimos meses, deixou o consumidor “acostumado” com o etanol e o abandono a esse novo hábito leva muito mais tempo.
Por outro lado, existe uma crescente percepção de que a nova previsão da safra indiana a ser divulgada pela ISMA (a UNICA indiana) nesta segunda-feira pode ser abaixo de 31.8 milhões de toneladas de açúcar. Comenta-se também que a principal refinaria do Oriente Médio não está coberta em suas necessidades pois esperava comprar açúcar bruto barato da Índia, o que acabou não acontecendo.
Os fundos viraram a mão e agora estão comprados no contrato futuro de açúcar em 12,500 lotes (equivalente a 635 mil toneladas), pela apuração do CFTC com base no fechamento de terça-feira passada. Esse pode ser um ponto extremamente importante, se o mercado se consolidar. Já vi os fundos virarem a mão em outras circunstâncias, não apenas no açúcar, mas em outras commodities e, quando perceberam que não havia suporte nos fundamentos, detonaram o mercado de volta. Não é motivo para estourar champanhe ainda, mas pode ser o começo de um novo ciclo.
A consolidação virá quando os números da Índia ficarem mais claros e quando começarmos a ter uma ideia mais concreta do tamanho da próxima safra de cana no Centro-Sul.
Estão abertas as inscrições para o XXXI Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas, que ocorrerá nos dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de março de 2019, no Hotel Paulista Wall Street, na Bela Vista, em São Paulo (SP). Para mais informações, mande e-mail para priscilla@archerconsulting.