Açúcar: Um trágico desempenho – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana encurtada pelo feriado de Páscoa a 12.35 centavos de dólar por libra-peso, alcançando a cotação mínima de 12.18 centavos de dólar por libra-peso, a mais baixa em dois anos e meio (setembro de 2015). O doente (mercado) piora a cada dia embora o diagnóstico seja o mesmo desde o começo do ano, com variações na intensidade da febre. Um trader decano observou a máxima de que “a melhor coisa para um mercado em baixa, é um mercado em baixa”. Embora pareça ilógica a frase, o que ela quer dizer é que em commodities os preços precisam estressar até o ponto em que a ameaça (superávit) seja curada pela falta de disponibilidade do produto em função do próprio preço baixo, que vai implicar em menor produção nos anos seguintes, ou ainda a falta de tratos culturais, etc.
O açúcar encabeça a lista de pior desempenho das commodities nesse primeiro trimestre de 2018, encerrado na quinta-feira. Caiu quase 19% seguido do gás natural em 7.5%, do café caindo 6.3%. No outro lado da tabela, o cacau subiu 35.3% no ano. No acumulado de doze meses, as chamadas soft commodities apanharam demasiadamente: açúcar 28% de queda, suco de laranja 16.5% e café 15.1%. Na alta de doze meses, despontam o petróleo Brent e WTI, ambos acima de 30%.
Compõem a cereja do bolo indigesto para os produtores a crescente mudança nas estimativas do superávit mundial, que agora já se aproxima das 15 milhões de toneladas, se você acredita nelas. Bem, o mercado está aí para comprovar, afinal 12 centavos de dólar por libra-peso podem ter seus dias contados já que tem gente que acredita no mercado de um dígito logo mais.
Nos últimos dez anos (de abril de 2008 até março de 2018), a média dos fechamentos do contato futuro mais negociado na bolsa foi de 18.19 centavos de dólar por libra-peso, tendo visitado no período o preço mais baixo de 9.52 e o mais alto de 35.31. Nesse período, em apenas 0.27% das vezes o mercado negociou abaixo dos 10 centavos de dólar por libra-peso. E em apenas 7.5% das vezes, ele negociou abaixo de 12 centavos de dólar por libra-peso !!! Estatisticamente falando, ir short a descoberto abaixo de 12 centavos de dólar por libra-peso é uma excelente receita ao fracasso. No entanto, coisas ruins podem acontecer.
Ouvi outro dia um argumento de um trader apostando com outro que na entrada da safra, mais pressionado, o hidratado irá buscar o preço do açúcar e não o contrário. Este é o primeiro ano que estamos lidando com um fator que nunca afetou preços antes e cujos efeitos ainda dividem opiniões: a política da Petrobras de repasse internamente do preço da gasolina lá fora estabelece parâmetros mínimos para o etanol que ainda não vimos funcionar ao longo de uma safra inteira.
O impacto psicológico para o consumidor que vê na bomba o preço da gasolina cima de 4 reais por litro e o preço do hidratado com 2 na frente, incentiva o consumo de hidratado mesmo que a paridade seja inferior a 70%. O consumidor vai ao posto e vê, por exemplo, gasolina a R$ 4,09 e hidratado a R$ 2,99 ele assume que o hidratado está muito mais barato (quando a paridade deveria ser R$ 2,86) e consome o hidratado.
A pressão de início de safra certamente vai afetar o preço do hidratado comercializado pelas usinas, que necessitam fazer caixa imediatamente para pagar as despesas de custeio. No entanto, o meu ponto é que deve existir um limite na queda do preço do hidratado no início de safra até o nível em que ela (a queda) encoste no aumento da demanda provocada pelo produto em função da paridade e desconto observados pelo consumidor no preço da bomba.
Em outras palavras, não é mais o superávit mundial inflado do açúcar que pode dar o tom continuadamente baixista nesse já deteriorado mercado, mas a relação petróleo e reais. O petróleo Brent precisaria despencar para 48 dólares por barril para que o hidratado encostasse no preço equivalente atual do açúcar. Lembrando que nesse caso, os fundos que possuem uma posição long em energia e short em soft commodities, como já mencionado aqui outras vezes, teriam que liquidar a posição de petróleo (revendendo-a) e liquidar a posição de softs (recomprando-a).
Uma eventual desvalorização do real teria efeito menos desastroso pois faria com que o preço da gasolina em reais subisse, melhorando a paridade do etanol, embora o açúcar iria sofrer adicional pressão porque as usinas receberiam mais reais pela tonelada de açúcar vendida na exportação.
Mais um destaque negativo para o mercado que abre oportunidades: o spread outubro 2018/março 2019 abriu significativamente pois o aumento da produção estimada da Índia e da Tailândia pressionam o mês de vencimento de outubro. O spread chegou a negociar 141 pontos no dia 28 de março. Isso implica dizer que o outubro está sendo negociado com um desconto de 25.13% ao ano em relação ao março do ano seguinte. Essa taxa estratosférica só pode ser explicada pelo pânico, pois para o carrego desse açúcar não deveria ultrapassar os 6.5% ao ano.
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